quarta-feira, 29 de julho de 2009

O GRANDE ARREPIO

Considero profundamente refrescante a ideia de que, para me agradar, um filme não tenha de preencher uma lista de pré-requisitos.
Considero profundamente refrescante a ideia de que me tocam os mais diversos filmes e, sobretudo, me tocam pelas mais variadas razões.

Poderia ignorar que, no que me prende a um filme como The Big Chill, traduzido em português para Os Amigos de Alex, é óbvio o facto de se tratar de uma história de geração, que me permite reconhecer o meu próprio grupo de amigos naquele grupo de amigos que, na juventude, viveram empenhadamente os ideais revolucionários; que, depois, se separaram e deixaram quase de se ver, tendo, nos seus percursos, acabado por negar tudo o que haviam defendido, ou acabado por se adaptar ao que haviam combatido; para, muitos anos volvidos, se reencontrarem por causa do funeral de um deles, que se suicidara - precisamente o "Alex" do título, que nunca chegamos a ver e só vagamente reconstituímos a partir dos relatos dos sobreviventes que o recordam? Não posso negá-lo: a minha proximidade relativamente a este filme (que revi há muito pouco tempo, em casa de um amigo, entre amigos, numa espécie de identificação ritual e colectiva) entronca nessa forma de lidar com a memória e com a saudade, que é uma saudade da música que partilhávamos (e o filme faz-nos ouvir, por exemplo, um tema forte dos Rolling Stones, ou os Creedence Clearwater Revival), da militância em nome de um mundo melhor, que julgávamos que construiríamos de uma assentada, ou de uma maneira de estar em grupo, entre convicções e discussões, amores e desamores.

Este filme de Lawrence Kasdan, de 1983, tem precisamente que ver com o crescer entre amigos, o crescer em grupo, numa ligação fortíssima e, aparentemente indestrutível, a que se julga que o mundo se renderá. Que fez a vida de nós, tantos anos passados? Como podemos comparar o que desejávamos, e ambicionámos, com o que efectivamente obtivemos? Eis o grande arrepio - e se Alex acabou por se suicidar, não terá sido porque a terrífica realidade o venceu, e os companheiros se haviam distanciado e, em última análise, não havia nenhum ombro, nenhum braço, nenhuma solidariedade?



Os actores convocados por Kasdan parecem-me, de todas as vezes que revejo o filme, os actores exactos para a representação dos papéis. Aprendi a amá-los aqui: Kevin Kline, que nunca mais achei tão rigoroso, encarna o perfeito anfitrião, o homem de negócios bem-sucedido que acolhe, em casa, numa casa magnificiente de resto, os companheiros anti-capitalistas de outrora;



Glenn Close, para mim, mais até, se possível, do que a astuciosa e perversa dama de Ligações Perigosas, será sempre a generosa mulher que empresta o seu marido para a realização do sonho da amiga (Mary Kay Place);








e que dizer de Jeff Goldblum, que também, para mim, muito mais do que o infeliz ser humano que se vai metamorfoseando em repugnante insecto, do filme A Mosca, há-de ser Michael, o jornalista cínico e sarcástico em que se terá metamorfoseado o jovem e combativo estudante de outros tempos;







E mesmo Tom Berenger, que nunca esperaríamos ver num filme com tamanha densidade, cumpre adequadamente o seu papel de um dos jovens desse passado revolucionário que, entretanto, se teria tornado no actor de uma superficial série televisiva de acção;



ou William Hurt, no descontente, o inconformado Nick, o mais marginal e perdido dos antigos companheiros,


ou a notável e engraçadíssima JoBeth Williams,





ou Meg Tilly, na doce Chloe que, de uma geração diferente, assiste sem inteiramente compreender, um pouco perplexa, à manifestação dos dilemas, do confuso e perturbador apego ao passado, das questões deste grupo de amigos que não sabem se ainda se reconhecem e se identificam uns com os outros ou se, definitivamente, se afastaram...

segunda-feira, 27 de julho de 2009

PIPOCAS

Deliciosa conversa roubada, por mim, a um casal que se encontrava na fila atrás, no cinema:

ELE: Lembras-te quando havia lugares para fumadores e não-fumadores nos restaurantes? Também devia haver lugares para comedores de pipoca e não-comedores de pipoca no cinema. Ouve-me estes gajos (e imita o ruído, de forma repelente): pkrrch, pkrrch, pkrrch!

ELA: Sim. Mas tinham de estar como aqueles assassinos perigosos nos tribunais. Rodeados de vidro, que é para não termos de os ouvir...

sábado, 25 de julho de 2009

Pássaros


Não caro bloggista, não está enganado. Este não é um espaço dedicado a qualquer debate de ornitologia! O titulo que propus é uma referência ao filme homónimo do realizador Alfred Hitchcock. Com tempo disponível, decidi ceder ao capricho de cinéfilo e rever este titulo que para mim é já habitual nesta altura do ano.

Produzido em 1963, este filme constitui o último numa série de títulos do realizador britânico, que abrangem uma década e que os críticos de cinema habitualmente identificam como a é
poca de melhor qualidade do cineasta, a qual inclui entre outros titulos, A janela indiscreta, Vértigo, Psico, etc.
Ao contrário do que o titulo poderá indicar (The birds _ Os pássaros), este não é um filme de série B, reduzido a uma batalha hercúlea, entre homens e pássaros assassinos. Na verdade, e referida batalha (se assim se pode chamar) constitui apenas o segundo acto do filme, e acaba por ser relativamente inócua em relação ao tema central que Hitchcock aborda na primeira parte, concretamente as relações entre as três personagens principais: uma mãe (Jessica Tandy), o seu filho (Rod Taylor) e a nova namorada deste (Tippy Hedren). Com o avançar da narrativa vemos como estas relações regridem, ou progridem, tendo como pano de fundo um catalisador, na forma do ataque inexplicável de uma horda de aves de diferentes espécies, que assolam a vila costeira de Bodega Bay, onde se desenrola a acção. Outro aspecto curioso e digno de registo, é o facto de Hitchcock ter dispensado banda sonora orquestral para o filme, sendo nesse aspecto substituída pelos sons de pássaros, recriados por meios electrónicos, que constituem uma espécie de banda sonora alternativa. Uma decisão artística que poderá não ser do agrado de todos os espectadores. Por fim (e por que nem tudo “são rosas”) os efeitos especiais utilizados para simular o ataque dos pássaros revelam algumas imitações quando contextualizados com os avanços técnicos actuais.

Enfim, para não dissuadir o cinéfilo devido a extensão do meu comentário, limito-me a indicar que este filme, não sendo o melhor no género de terror ou mesmo do próprio Hitchcock, é sem duvida um bom “prato de Verão, com entretenimento garantido e qualidade qb!

Deixo-vos com o link para que possam visualizar um excerto do filme, uma cena típica à lá Hitchcock!
http://www.youtube.com/watch?v=FVDT4bWPypk

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Relembrando a Odisseia...

... e por toda esta comemoração do fantástico que foi pisar o solo lunar pela primeira vez, encontrei um post num outro Blog (http://sound--vision.blogspot.com/2009/07/em-directo-da-lua.html) que finalizava com um parágrafo dirigido ao filme 2001 Odisseia no Espaço, e que coloco aqui só porque me lembrei que se queria partilhar coisas destas o melhor sítio para o fazer era este:

"(...) Afinal de contas, importa recordar também que, um ano antes, ainda sob o perturbante efeito das imagens das barricadas de Paris, Stanley Kubrick, um americano a trabalhar em Londres, oferecera ao mundo a cartilha do seu futuro. Chamava-se 2001: Odisseia no Espaço e não se limitou a mudar a história do cinema, das suas fábulas e tecnologias. Integrando a herança de muitas artes, exponenciando a imaginação das ciências, Kubrick celebrava o ser humano, já não como centro do universo, mas como uma partícula acidental de um misterioso bailado de naves, computadores e galáxias. Armstrong já estava a viver a primeira sequela."

DISCOS PEDIDOS

Eu sei bem que se, ultimamente, ninguém mais tem escrito neste blogue é porque umas pessoas estão ocupadas e, outras, desocupadas (leia-se, em férias e com mais que fazer...)

O que aqui deixo não deve ser entendido como qualquer forma de pressão. Pode ser simplesmente que, a alguma das pessoas com quem fui tendo conversas cinéfilas e cujas histórias me deixaram com água na boca, apeteça pegar numa destas sugestões. É uma esperança de leitor, uma espécie de «discos pedidos». Agora, ou quando começarem as aulas, ou depois disso. Ou seja quando for. Ou, se não lhes apetecer, nunca...

Francisco Morais: Hitchcock (por um lado); A Cor do Dinheiro (por outro).
Johnny Darko: um post sobre «Que vejo eu, Johnny Sacramento, nesse extraordinário, mui estimável, fora-de-série Johnny Depp».
André Vieira: acerca da sua ida a O Senhor dos Anéis.
Beast: Amélie; cinema francês en génèrale.
Guilherme: Watchmen (de que sei que gostou muito. Como, precisamente, eu não gostei muito, interessava-me ouvir/ler as suas razões...).

Se tiverem muito mais que fazer, boas férias a todos e até para o ano!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

BLUE VELVET

Há alguns anos, teve certo impacto uma série televisiva que, pelas informações que a antecipavam, calculei que viria a tratar-se de uma história assaz misteriosa, acerca de uma jovem que alguém assassinara. O contexto era o de uma típica povoação dos Estados Unidos, Twin Peaks e, tanto quanto me lembro, havia tudo para atrair a atenção do leitor compulsivo de policiais, que eu sempre fui: uma terra aparentemente pacata, a vítima de um crime (Laura Palmer) e, com a descoberta desse crime, a aterradora descoberta de que, sob a dita pacatez provinciana, se ocultavam grandes segredos, ah, segredos perversos, com raízes terríveis e temíveis, profundas e emaranhadas.

Nessa série, conheci vários artistas que nunca mais perdi de vista. Em primeiro lugar, o jovem actor Kyle MacLachlan, que fazia o papel de Agent Cooper, detective encarregado de descobrir indícios que o levassem ao criminoso/[a]/[os]; mas, em segundo lugar, e à medida que a série principiava por me desiludir (porque se revelava uma outra coisa, muito diferente da que eu ansiava...) e, depois, lentamente, a reconquistar-me, de um modo muito inesperado, pelo tom surrealista do todo, pela estranheza daquelas personagens e daquele espaço, pela constante, perturbadora e hipnótica confusão entre o sonho e a realidade, acabou por me fazer prestar atenção ao realizador. Era David Lynch, filmando a partir de um livro, O Diário Secreto de Laura Palmer, da autoria de sua própria filha, Jennifer Lynch.

O mesmo Kyle MacLachlan fora, também, o actor que Lynch tinha escolhido para, juntamente com um extraordinário Dennis Hopper e uma magnífica Isabella Rosselinni (mas, se não o sabem já, averiguem-no: não se limitem, pelo amor de Deus, a acreditar nos adjectivos de ar tão exagerado que aqui emprego - «extraordinário», «magnífica»...) criar esse objecto de culto que é Blue Velvet. É, sem dúvida, um dos filmes que gostaria que víssemos numa das sessões do clube, para tentar explicar por que o considero uma obra rara e perfeita, onde o mínimo pormenor - na encenação, termo teatral que corresponderia, em cinema, ao pouco luso «mise-en-scene» -, na criação da tensão e do suspense, na exposição dramática dos sintomas do desequilíbrio e da perversão de certas personagens, na utilização da música, na cor, com aquele azul nocturno que associo sempre ao filme, e me persegue... - é um genial exercício de arte e um autêntico tratado de psicologia...

domingo, 12 de julho de 2009

LOUIS DE FUNÈS (COM UM PEDIDO DE PERDÃO AOS CINÉFILOS EXIGENTES!)

Em matéria de cinema, ao contrário de dois cinéfilos que me ocorrem de imediato, o Francisco e o Eça, eu tive uma adolescência e até, talvez, uma juventude pouco exigentes: via, com a mesma euforia de estar a cumprir um ritual, filmes como o excelente O Acossado (Godard), e o péssimo Trinitá, como já confessei. E se a pior das consequências foi que já só tardiamente principiei a forjar critérios e a definir um gosto, a vantagem reside no desalinhamento e na enorme variedade do que cabe, ainda hoje, nesse gosto. Não insinuo, obviamente, que outros, que tiveram, desde muito novos, guias com uma visão profunda e exigente do cinema, não possuam também um gosto amplo e variado; observo, simplesmente, a ironia da situação: como, para mim, entre amigos, tudo o que fosse cinema tinha qualquer coisa de festivo e fascinante, e como, à partida, nada punha de parte, aprendi a encontrar motivos de interesse até nos piores filmes. Isso não faz de mim, como é natural, um crítico rigoroso nem fiável; mas faz um cinéfilo condescendente, sensível a qualquer coisa boa que se salve no meio do estrume cinematográfico.Estou antecipadamente justificado? Então, deixem-me falar-vos hoje de um actor menoríssimo, rapidamente apanhado pela voragem do cinema comercial francês, muito feito de filmes tolos, às vezes grosseiros, baseados num humor mais do que discutível. Louis de Funès.





Eu sei que o que se recorda hoje de Funès é a horripilante série de filmes em torno de um «chef de police» mais o seu grupo de gendarmes imbecis; eu sei que a maioria dos gags são, na melhor das hipóteses, simplesmente sofríveis; e sei que muito do humor funèsiano girava em torno da sua mudança rápida de expressão facial: ele era, nos anos sessenta, o equivalente àquilo em que se tornaria Jim Carrey (que, por sua vez, não é mais do que um imitador pobre do grande Jerry Lewis).

Mas a questão é precisamente essa: De Funès divertiu-me, na sua habitual composição de um homem de meia idade, careca, baixinho, extremamente nervoso e, se não mau, pelo menos de um egocentrismo extremo, que o levava aos mais reprováveis (mas sempre engenhosos) planos para ultrapassar os outros. A sua incontida impaciência nas mais absurdas situações, a sua irascibilidade, as suas crises de fúria, a sua perfídia pequenina, banal, não de vilão mas de Zé Ninguém (e, quase sempre, para atingir objectivos de uma arrepiante vulgaridade) fazem-me, contudo, ainda hoje, sorrir. Para quem, como o André, só quer ver o melhor, os filmes de Louis De Funès são francamente desaconselháveis. Para quem, como a Beast, está tão sedenta de cinema que quer ver de tudo, tocar em todo o lado, então este senhor pode proporcionar-lhe alguma diversão ligeira em época estival.

domingo, 5 de julho de 2009

CHEGOU KURTZ: TREMEI, TREMEI!

Hoje, decidi escrever sobre um livro; e, obviamente - porque não, não me esqueci de que estou num blogue de cinema -, acerca das implicações (ou de algumas das suas implicações) cinematográficas.

O livro em causa é O Coração das Trevas (The Hearth of Darkness): ando a relê-lo, em busca de uma obra maior da literatura que seja, ao mesmo tempo, uma obra menor em extensão, de forma a que a usemos, para o ano, como objecto de conversa numa das tertúlias literárias da Biblioteca.

O seu autor é Joseph Conrad, isto é, Jósef Teodor Konrad Korzenlowski, aristocrata polaco que se tornaria um reconhecido mestre do inglês, idioma em que escreveu os seus celebrados romances, apesar de o ter aprendido razoavelmente tarde. (Aos vinte e três anos. Acho isto notável. Não acham também?).

Da sua autoria, toca-me particularmente Lord Jim, de que falamos nas aulas de filosofia a propósito de como um acto, cuja génese nem mesmo aquele que o pratica é capaz de explicar muito bem, pode, contudo, condicionar completamente a sua vida. E, falando de Lord Jim, é já possível começar a remeter para o cinema. Estou certo de que houve vários filmes inspirados nessa obra: recordo-me de um, com Peter O' Toole (actor que considero, aliás, muito mau e me parece que vinha piorando com a idade...) e james Mason.


Mas regressemos ao coração das trevas. Trata-se de uma obra soberba. Se ultrapassarmos rapidamente o início - contaminado, quanto a mim, por um recurso estilístico que me desagrada pelo seu irrealismo, se não anti-realismo: o que consiste em mostrar-nos que toda a história está sendo contada, de viva voz, por alguém, numa roda de amigos... -, apercebemo-nos de que nos encontramos em face de uma narrativa, profundamente cinematográfica, sobre o modo como o mal, «the darkness», que nada mais é do que a natureza mais profunda e brutal de todos nós, uma vez emergindo, no contexto mais propício, nos devora e transforma completamente, anulando todos os resquícios de cultura e civilidade sob que se ocultara.

Há duas personagens centrais. Para já, Marlow, que vai rememorando como subira o rio Zaire, guiado pelos relatos, de que lhe chegavam ecos, acerca de um misterioso, sinistro e fascinante Kurtz; e, depois, o próprio Kurtz, que a vida numa África selvagem transformara num ser cruel, uma espécie de Senhor da violência, que os indígenas adoravam como a um deus vivo.

Mas a questão que subsiste é esta: serão Marlow e Kurtz assim tão diferentes? O homem civilizado e aquele que mergulhou no coração das trevas estarão assim tão radical e definitivamente separados um do outro? (É, de resto, a mesma temática de uma outra obra maior, igualmente adaptada ao cinema, O Senhor das Moscas).

E, para não nos afastarmos do cinema: Orson Welles, interessadíssimo neste tema - que nunca chegou a filmar por falta de meios, problema com que, pelo que tenho descoberto com o Eça, se debateu constantemente - lia estas duas personagens como sendo as duas faces de uma mesma moeda. Decidira, inclusivamente, na sua percepção genial, que seria ele próprio a representar ambas as personagens, Marlow e Kurtz. (Haverá depois, em 1958, um tenebroso Kurtz composto por Boris Karloff, num telefilme da CBS que nunca vi, mas de que tive informação na nota introdutória, da autoria de Aníbal Fernandes, à tradução portuguesa do romance). É claro que, mesmo a quem não tivesse já conhecimento de tudo isto, nada do que aqui escrevi terá soado como inteiramente desconhecido. A razão? Deixem-me relembrá-la em duas palavras: transpondo-os para um contexto espacio-temporal diferente, neste caso a guerra do Vietname, estas personagens, este confronto, este fascínio pela darkness deificada e, mais do que tudo isto, o próprio nome «Kurtz» são reencontráveis em Apocalypse Now, em que Francis Ford Copolla nos apresenta a sua leitura do coração das trevas, recorrendo a um inesquecível Marlon Brando.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Machete!!!!

Falso anúncio presente antes do filme Planet Terror (parte do projecto Grindhouse, co-realizado com Quentin Tarantino), Robert Rodríguez decidiu agora transformá-lo numa trilogia: Machete; Machete Kills; Machete Kills Again - cujo primeiro volume estreará em finais de 2009 ou só em 2010. Para já, fiquemos com o falso anúncio.

Machete!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Westerns! OU a cavalgada heróica contra os índios, mexicanos e negros (a escumalha que infesta os EUA) OU do tradicional ao esparguete e ao moderno

Westerns!


Sim. Westerns. Cowboys a matarem índios e mexicanos! Viva!

Não. Os Westerns são muito mais do que isso. Aliás, ao procurar na fantástica Internet uma definição para Western, não encontrei nada que fosse sintético, apenas definições de três parágrafos. Aquilo que descobri é que o Western engloba imensos sub-géneros. Existe o Western de Ficção Científica, o Western Comédia, o Western Horror, enfim... Filmes como o Segredo de Brokeback Mountain e o Desperado são considerados Westerns. Ao entender isso, percebi que o meu post seria muito mais trabalhoso do que eu pensara de início.



Pode-se dizer que o Western nasceu oficialmente com o filme The Great Train Robbery (1903), de Edwin Porter, sobre um assalto a um comboio. O filme dura doze minutos.

The Great Train Robbery



A partir daí, o género foi crescendo de importância e muitos cineastas dedicaram grande parte das suas carreiras ao Western.

Muitos Westerns dos anos cinquenta e sessenta foram influenciados pelos filmes de samurais de Kurosawa e o Magnificent Seven é, no fundo, um remake do Seven Samurai. Kurosawa, por sua vez, diz ter sido muito influenciado pelos westerns de John Ford.

The Seven Samurai



The Magnificent Seven - Trailer
















O que eu pretendo com este post é maximizar a importância do Western no cinema, já que foi um género que caiu muito em desuso e que durante algumas um grande período de tempo foi considerado menor. Hoje em dia, com a produção de novos westerns, tem-se assistido a uma mudança de opiniões. O que eu sei é que a maioria dos jovens da minha idade não liga nenhuma aos Westerns e, para além deste post, pode ser que o próximo filme que eu passe no clube seja um Western.

Sendo-me difícil definir o que é um Western, passarei a falar dos seus sub-géneros:

- Western Clássico/Tradicional - consagrado por autores como John Ford, Howard Hawks, Raoul Walsh..., pode englobar temas como: combates contra os índios, ataques de bandidos, lutas contra os donos dos caminhos-de-ferro, as guerras mexicanas, a guerra civil americana, etcetera. Apesar de ser um género de entretenimento e acção, muitos destes filmes ficaram associados a ideais racistas (como já falei no post sobre o John Ford). O próprio filme The Birth of a Nation (D.W. Griffith), um filme épico com algumas características de Western, sobre o nascimento dos EUA, defende a escravatura e protege o Ku Klux Klan. A defesa da escravatura é também protegida no filme de época Gone With the Wind. É verdade que por vezes os Westerns apresentam este lado negativo e que foram feitos muitos maus filmes, mas foram feitos também filmes tão maravilhosos que o género em si não deve ser negligenciado.


















































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Western Revisionista - A partir dos anos cinquenta (por causa da
WWII?) as mentalidades começaram a mudar. Filmes como The Last Wagon (1956) de Delmer Daves, com Richard Widmark, falam de um branco adoptado por índios e que é perseguido pelos brancos. O próprio The Searchers pretende conciliar as duas raças. No posterior Little Big Man (1970), de Arthur Penn, o tema da intolerância para com os índios é tratado com grande profundidade, mantendo no entanto um toque sobre o absurdo de algumas situações. Começaram-se a fazer filmes com índios como protagonistas, muitos sobre as fugas das reservas. Mas o Western Revisionista não engloba apenas o tema dos índios, focando-se também numa crítica à própria violência. Temas como a recusa em lutar, a justificação da cobardia, etecetera, passaram a ser muito comuns. Temos também o Sargento Negro, de John Ford, em que um negro é injustamente acusado de violar uma branca, conseguindo no final provar a sua inocência.



















































- Western Vermelho - tipo de Western muito pouco conhecido, refere-se aos filmes Westerns comunistas, produzidos nos países do bloco de leste. É sabido que Estaline adorava este género de filmes. Nos primeiros anos, os filmes retratavam os índios como povos oprimidos, que se pretendiam libertar dos invasores americanos. Devido à escassez de índios nos países comunistas, eram usados turcos para os papéis. Depois, o tema passou a ser a própria União Soviética e os filmes passavam-se nas estepes da Ásia Central, no período da guerra civil russa. Elementos do Western eram mantidos, como a luta entre o bem e o mal, lutas contra os nativos, cavalgadas heróicas. O famoso actor e cantor Dean Reed, que fugiu dos EUA para a Alemanha Oriental, entrou em muitos desses Westerns Vermelhos.

(Não há imagens nem vídeos disponíveis... Maldita Internet Capitalista!)

- Western Esparguete - considerado uma criação de Sergio Leone, este tipo de filmes refere-se às produções italianas ou italo-americanas dos anos sessenta e setenta, conhecidas por parodiarem os filmes de Hollyood (como a cena inicial de Once Upon a Time In The West, que representa o oposto do filme High Noon, do qual falarei adiante). Os westerns esparguete eram normalmente longos, por vezes até à exaustão, e as personagens apareciam porcas e suadas. O anti-herói substituiu o herói dos westerns americanos, e actores como Clint Eastwood, Charles Bronson, Jason Robards, Eli Wallach e Lee Van Cleef interpretaram papéis de marca. A fotografia era cuidada e os filmes, esteticamente, belos, e a música do Ennio Morricone fantástica, apesar de (para mim) não haver nenhum filme que seja de facto extraordinário. Eu considero mais este género como uma curiosidade, embora saiba que é bastante apreciado por muitas pessoas.

The Good, The Bad And The Really Ugly One - Trailer



Once Upon a Time In The West - Trailer



- Western Oriental - Não é bem um sub-género, mas decidi inclui-lo na mesma. Com isto, refiro-me aos filmes americanos que retrataram a fusão entre o ocidente e o oriente no Western. Um exemplo é o filme Red Sun, com Charles Bronson, em que para além do habitual grupo de pistoleiros, entra um guerreiro samurai que corta cabeças com a sua afiada espada Hatori Hanzo (estou a brincar). O último filme que eventualmente se poderá incluir neste género é o The Last Samurai (Edward Zwick) em que o Tom Cruise interpreta (mal, claro) um veterano da guerra civil que viaja para o Japão e se junta à causa samurai contra o imperador. Neste filme ocorre o inverso do Red Sun.

Red Sun - Honhááá!!!!



- Western Contemporâneo - Tal como os renascentistas pintavam as cenas bíblicas com roupas e cenários renascentistas, e a Paula Rego pintou a virgem com ténis, também o Western Contemporâneo evoluiu e passou a retratar os temas do Western tradicional em localizações modernas. Isso não quer dizer que já não se façam westerns passados no século XIX, por outro lado, quer dizer que filmes como o Brokeback Mountain, The Last Picture Show, os Três Enterros de Melquiades Estrada e até o No Country For Old Men são considerados Westerns.

Brokeback Mountain (Ang Lee) - Trailer



Temos outros sub-géneros, que serão quase sub-sub-géneros, como o Western Comédia (Go West, dos Irmãos Marx, Blazzing Saddles, do Mel Brooks), o Western Ficção Científica (Back To The Future, Part III, Wild Wild West - com o Will Smith!), o Western Horror (From Dusk Till Dawn, do Robert Rodríguez, Vampires, do Carpenter) e o Western Ácido (Dead Man, do Jim Jarmusch), sendo que este último se refere a filmes um pouco mais bizarros, que por vezes parodiam o próprio género.

Go West - Marx Brothers



E agora umas recomendações de alguns Westerns que eu adoro.

Os Meus Dez Westerns Favoritos - por ordem cronológica:


- The Big Trail (1930), Raoul Walsh - John Wayne, Marguerite Churchill, Tyrone Power, Sr., El Brendel



















- The Plainsman (1936), Cecil B. deMille - Gary Cooper, Jean Arthur, Charles Bickford, James Ellison















- Dodge City (1939), Michael Curtiz - Errol Flynn, Olivia de Havilland, Ann Sheridan, Bruce Cabot, Frank McHugh - Música de Max Steiner



















- They Died With Their Boots On (1941), Raoul Walsh - Errol Flynn, Olivia de Havilland - Música de Max Steiner

They Died With Their Boots On - Final Sequence (Little Big Horn Battle)




- Distant Drums (1951), Raoul Walsh - Gary Cooper, Richard Webb - Música de Max Steiner














- High Noon (1952), Fred Zinnemann - Gary Cooper, Grace Kelly, Thomas Mitchell, Katy Jurado, Lloyd Bridges - Música de Dimitri Tiomkin


- Rancho Notorious (1952), Fritz Lang - Marlene Dietrich, Arthur Kennedy, Mel Ferrer

















- The Searchers (1956), John Ford - Natalie Wood, Ward Bond, Jeffrey Hunter, Vera Miles - Música de Max Steiner

- 3:10 To Yuma (1957), Delmer Daves - Glenn Ford, Van Heflin - Música de George Duning

3:10 To Yuma - Trailer feito por um tipo com uma voz terrível



- Major Dundee (1965), Sam Peckinpah - Charlton Heston, James Coburn, Richard Harris, Jim Hutton

Major Dundee - Trailer feito pelo mesmo tipo



Embora associado ao Western esteja SEMPRE o par John Ford/John Wayne, aqueles que eu considero melhores são do também prolífico Raoul Walsh, conhecido pela sua economia narrativa e o seu fantástico ritmo nos filmes de acção. Dele escolhi The Big Trail, o primeiro filme em que John Wayne aparece como protagonista, They Died With Their Boots On (par Flynn/de Havilland) sobre o general Custer e Distant Drums, um Western da Flórida, com uma história de perseguição nos pântanos (o base do argumento é igual à do seu filme Objectivo Burma, passado na WWII com o Errol Flynn). Outro grande realizador de westerns foi o Delmer Daves, do qual escolhi o 3:10 To Yuma, um drama sobre um homem que persiste em levar sozinho um criminoso para a prisão. Tinha que colocar também o High Noon, de Fred Zinnemann, que realizou apenas três westerns. O filme conta a história de um Xerife que é abandonado pela sua cidade quando tem de enfrentar um grupo de bandidos que regressa para se vingar. No final, a famosíssima cena em que o Xerife atira a sua estrela para o chão. De Michael Curtiz e com o par Flynn/de Havilland, escolhi Dodge City, sobre um xerife que se dispões a limpar a cidade dos bandidos que a aterrorizam, tornando-a respeitada e civilizada. Do legendário Cecil B. DeMille, escolhi o The Plainsman, com o Gary Cooper (que apareceu em muitos dos seus últimos filmes), sobre as aventuras dos míticos Bill Hicock, o General Custer, a Calamity Jane e o Buffalo Bill. Do Sam Peckinpah, realizador muito violento (o mesmo de The Wild Bunch) o meu preferido é o Major Dundee, com um elenco fantástico. Do cineasta alemão Fritz Lang (mais conhecido pelos seus filmes mudos na alemanha ou pelos seus filmes noir nos EUA - cineasta que como tantos outros fugiu do nazismo para os EUA) escolhi um dos seus três Westerns, Rancho Notorious, numa história trágica de vingança com a genial Marlene Dietrich (também alemã). O filme conta com uma fotografia esplendorosa, fruto da estética germânica.

Devido à importância do ritmo e da música nos westerns, inclui o nome de alguns músicos na lista dos filmes, sendo o mais famoso o Max Steiner, que compôs músicas para centenas de filmes.

De início, propus-me tentar incluir na lista filmes de todos os géneros do Western, mas isso significaria que eu teria de excluir alguns dos meus favoritos. Por isso, não escolhi nada do esparguete, nem do vermelho (aliás, nunca vi nenhum deste género), nem do moderno, embora possa dizer que o moderno filme The Assassination of Jesse James By The Coward Robert Ford é bastante bom. Aliás, o tema do Jesse James sempre foi bastante utilizado no cinema, quer por Henry King, por Nicholas Ray, quer pelo próprio Fritz Lang. Outro Western bastante bom é o Brokeback Mountain (acho que dispensa apresentação). Hidalgo, um filme de acção que vale a pena ver. O Dead Man, com Johnny Depp, de Jim Jarmusch (comédia?). O Vampires de John Carpenter (considerado um Western de Terror). Outro filme é Heaven's Gate, de Michael Cimino, sobre as disputas dos donos de terras contra os imigrantes na década de 1890, uma verdadeira obra-prima. E também o The Last Picture Show e o Texasville, ambos de Peter Bogdanovich, sobre o crescimento de um grupo de adolescentes numa cidadezinha quase deserta do texas.

The Assassination of Jesse James By The Coward Robert Ford



Dead Man - Trailer



Heaven's Gate



The Last Picture Show - Trailer





















Vampires - Trailer



Outro realizador que eu aprecio muito, John Huston (The Man Who Would Be King), dirigiu dois westerns muito bons. The Treasure of Sierra Madre, uma parábola sobre um grupo de homens que se destrói por causa de um tesouro e The Unforgiven, sobre a intolerância para com os nativos.

The Treasure of Sierra Madre - Trailer





















E pronto, fica aqui um pequeno post sobre a enorme odisseia dos Westerns.