quinta-feira, 25 de março de 2010

sábado, 20 de março de 2010

Quarta-feira, 24 de Março às 14h30

REUNIÃO DO CLUBE DE CINEMA
Vamos neste dia fazer o balanço e programar as próximas sessões do 3º Período.

Sugestão: podemos após o planeamento proposto, exibir algumas pequenas curtas-metragens, genéricos ou passagens de filmes sugeridas pelos membros do Clube (através do You Tube, DVD ou outro suporte).

Por isso, não se esqueçam, façam o vosso TPC...
Deixo aqui (como exemplo) um genérico de um filme que eu considero, na minha opinião, um dos mais importantes no meu percurso de cinéfilo: "Vertigo" de Alfred Hitchcock.
(façam duplo click no vídeo para conseguir ver o ecrã completo)

terça-feira, 9 de março de 2010

Óscares 2010 ou A Vingança da Ex-Mulher

Uma cerimónia de óscares repleta de surpresas? Ao contrário do que se possa pensar, não. Embora eu mesmo acalentasse receios de que o Avatar saísse dali com tudo e mais alguma coisa, a vitória de The Hurt Locker não foi algo assim de tão surpreendente. Passada a "felicidade" (felicidade não tanto pela sua vitória mas mais pela derrota de James Cameron) as razões para este twist inesperado são até bastante racionais. Um dos textos que mais me elucidou foi um que Luís Miguel Oliveira escreveu para o Público e que aconselho a todos que leiam. Chama-se "A Consagração de uma Cineasta, Ponto." E está tudo dito. Toda aquela conversa feminista sobre a primeira mulher a receber um óscar não passa de (e perdoem-me o americanismo, mas até vem em altura apropriada) "bullshit". Se há hoje em dia mulher que faça filmes de homens melhor que os próprios homens, essa mulher é Kathryn Bigelow. Nada na sua obra nos dá a entender um traço feminino. Não no sentido de um cinema como o de Agnès Varda, Marguerite Duras, Jane Campion ou até mesmo Barbra Streisand (que (só???) por acaso entregou o prémio de melhor filme a Bigelow murmurando: "Our time has come!") Portanto, toda a questão de que as mulheres são finalmente reconhecidas no cinema é uma grande balela que Hollywood nos quer enfiar. Agora a questão. Porque não Avatar? Muito simples. Dos seis mil membros da Academia, a larga maioria são actores. Ora, fosse eu um actor, iria escolher um filme que quase me dispensa e que assinala o início de uma era digital que assassina friamente a representação? (representação na verdadeira acepção da palavra, não representação como uma sucessão de imagens manipuladas por computador nas quais se pode prolongar um sorriso ou um fechar de olhos). Eu não o faria. Eu teria medo, mesmo muito medo (e sim, isto parece um slogan de um filme de terror, mas o desemprego amedronta mais que um psicopata como o Norman Bates, referido pelo JC no post anterior). Por isso Avatar perdeu. E, já que mais cedo ou mais tarde uma mulher havia de ganhar (e lembremo-nos que em 1909 já Selma Lagerlöf recebia o prémio nobel da literatura, ou seja, os óscares estão cerca de cem anos atrasados no que toca à emancipação feminina na cultura) então que vencesse uma que faz cinema de homem. Bem ou mal, não sei. Espero ver o filme no próximo fim-de-semana mas até lá mais não poderei dizer.
Quanto ao resto da cerimónia... enfim... Bah! Tal como eu previra O Laço Branco (o melhor filme do ano na minha humilde opinião) não recebeu óscar por ser a preto e branco (e ganhou um filme argentino de que ninguém ouvira falar ainda!!!); o Tarantino foi para ali fazer figura de idiota; o Jason Reitman (tipo no mínimo criativo, original e com um sentido de humor fresco) saiu sem nada; na animação, voltou a ganhar o mais comercial (UP - filme excelente, sem dúvida, mas - e atenção - nomeado entre outros quatro filmes excelentes!); Randy Newman perdeu na categoria da canção (as canções da Princesa e do Sapo eram belíssimas); a fotografia foi injustamente vencida pelo Avatar (que de resto mereceu os outros dois prémios - efeitos especiais e direcção artística); o guarda-roupa vai, como já é hábito, para um qualquer drama histórico sem nenhum interesse especial; e o melhor documentário foi para aquela idiotice pegada dos golfinhos japoneses (como se alguém se interessasse por animais de plástico...). Quanto às categorias dos actores, não houve surpresas. Christopher Plummer (que eu considero um dos 3 ou 4 melhores actores VIVOS no mundo do cinema, continua sem ganhar nada - não que Christoph Waltz não tivesse um bom papel, mas enfim...); Sandra Bullock é uma actriz simpática que eu gosto em filmes como Miss Detective mas que não tem o estofo para desempenhos dramáticos; Jeff Bridges ganhou, finalmente! (num filme que dificilmente será o ponto alto da sua carreira - não esqueçamos o The Last Picture Show, do Peter Bogdanovich (um filme que não me importaria nada de apresentar); e a Mo'Nique (entre ela e uma tipa espanhola que nem sabe falar inglês e que já ganhou um óscar sabe-se lá como, mais vale esta rapariga saída dos guetos do Harlem mas que, ao que consta, pelo menos domina a língua em que fala).
Enfim, surpresas? Não me parece. Uma cerimónia muito fraca (momentos altos: Ben Stiller mascarado de Na'Vi - by the way, o Sacha Baron Cohen também foi convidado para gozar Avatar, mas ao que parece o seu discurso era tão "forte" que foi (des)convidado - e Steve Martin gritando a Hans Landa: "You've been looking for Jews all your life... here I am!!!), em que as personalidades que receberam óscares especiais se levantaram durante dois segundos (para abreviar a cerimónia - sim!, e depois põe um bando de actores a elogiar os nomeados com discursos que não cabem em ninguém durante dez ou quinze minutos) e uma homenagem a filmes de terror (aliás, a Academia sempre premiou muitos filmes de terror... nota-se pelo número exorbitante de óscares que o Carpenter recebeu) na qual nem apareceu o Christopher Lee num dos seus papéis como Drácula (ele e Boris Karloff são a bíblia dos actores de terror).
Enfim... são os óscares... de que é que estávamos à espera?













Post-Scriptum - pelo menos não ganhou nenhum filme sobre as favelas indianas com miúdos malcheirosos a aldrabarem concursos de televisão...

Momentos na história do cinema

Cá estou eu outra vez, num inevitável conflito interno, debatendo com o meu outro eu sobre a mais valia dos meus filmes preferidos; sobre o seu sentido ou significado, sobre a grande metáfora que me escapou, escondida na narrativa de um filme qual cálice sagrado cinemático. Um hábito que é muitas vezes uma armadilha e um preconceito que me faz olhar na direcção errada quando começo a ver um filme (ou quando tomo a decisão sobre qual o filme que vou ver). E para evidenciar quão fútil pode ser, por vezes, este exercício mental ocorreu-me este fim-de-semana (por razões que irei expor mais adiante neste comentário), quão a propósito por se tratar do fim-de-semana “do Óscar”, como têm passado ao longo destes 115 anos tantos momentos de cinema inesquecíveis. E escolho o nome “momentos” porque constituem apenas um membro de um órgão maior que é o filme ao qual pertencem. Por razões várias, desde mérito próprio, modas contextualizadas pela época, necessidades propagandistas, seja qual for, esses momentos são imortalizados pelo público, indiferente ao contexto da narrativa, ganhando contornos que ultrapassam o próprio filme a que pertencem: o “membro” ganha vida própria. Seja uma frase que fica no ouvido, uma interpretação que fica na memória, uma montagem (ou cinematografia) que não escapa à vista e aos sentidos que ficam inebriados com aqueles poucos segundos. Uma prova que o cinema é prolífico em situações que nos permitem apreciar um filme pela beleza ou prazer que nos proporcionam estes momentos, que permanecem no nosso imaginário. Associados ao filme, sim… mas com “vida própria”!

E porquê tão profundas considerações? Não escapou à minha atenção um post publicado na semana passada, onde o Francisco e o José descrevem o impacto do filme "Te doi mis ojos". O impacto das imagens, a força das palavras, a beleza de um momento. Não vi o filme, mas é uma experiência comum a tantas outras em tantos outros filmes. Por coincidência, neste fim de semana, enquanto fazia zapping procurando algo interessante nos cento e tal canais que tenho em casa, “encalhei” com o Psico de Alfred Hitchcock na SIC radical.

Já tinha visto recentemente, pelo que não espevitou muito o meu interesse. Ainda assim hesitei em mudar de canal, pois estava a tentar situar a acção no filme, curioso em saber se já tinha passado a cena em que a personagem Marion Crane é assassinada no chuveiro. Não caros bloggistas, não são ímpetos voyeuristas, mas sim a minha incapacidade de ficar indiferente a uma cena popularizada pela sétima arte. Desde a primeira vez que vi o filme (com apenas 12 anos), sem os gostos que cultivo hoje, não me saiu da memória esta cena crua e brutal, mais pela sugestão em si do que pela exposição gráfica; pela musica estridente de Bernard Herrman que simula os golpes mortais do criminoso perante os gritos secos da vitima e face a uma audiência (nós!) incapaz de ajudar.

Os adjectivos parecem inocuos para descrever uma cena destas. Um de vários momentos na história do cinema.

quinta-feira, 4 de março de 2010

ERIC ROHMER E PEDRO MEXIA NO CLUBE

Convidado a escolher e a propor um filme, Pedro Mexia decidiu-se por um Rohmer (e que a propósito!). "Um Conto de Verão".

Emprestou-me o DVD para que o visse primeiro, se quisesse, a sós, em casa.
Vi-o. Sozinho. À noite. E devo confessar que foi uma experiência confusa, entre o prazer que me suscitavam a beleza e a tensão do filme, das personagens, dos sentimentos, ou a ligeireza dos "jogos de sedução" (como Mexia se lhes referiu depois), e o receio de que os jovens - mesmo os do clube de cinema, com duas ou três excepções - pudessem não estar preparados para um objecto tão raro, tão exigente, tão ao arrepio dos hábitos cinematográficos de hoje.

Mais tarde, durante a exibição, confesso, o mesmo receio pateta me acompanhou durante todo o tempo. Pois não fora a Catarina a dizer-me: «Um filme francês? Detesto filmes franceses!»? Pois não fora o Afonso a dizer-me: «Francês? Ah, então não vou!»? (E não veio, o puto!). Que iam sentir, que iam pensar, que iam compreender daquilo, que iam desprezar daquilo?

Como imaginam, quando a luz foi ligada e, após as brilhantes considerações de Pedro Mexia, se iniciou a conversa, foi com a mais agradável das surpresas que dei conta das reacções dos jovens. Por causa do gosto, que mostraram, por um tempo e um ritmo cinematográficos tão singulares, por causa do seu fascínio pela perturbação daquele jovem em face do amor e da amizade, em face da rejeição e da superabundância, por causa da sua sensibilidade à beleza daqueles diálogos tão prolixos, tão densos, tão "irrealistas", no sentido - como Mexia insistiu - em «que, de facto, os jovens não falam assim».

E o próprio Mexia foi um sedutor: pela sua voz, tudo surgiu como redes de ligações possíveis e imprevisíveis, onde cabiam o teatro, a literatura, a filosofia, o cinema, a História, Portugal, França, o mundo, sem esforço nem artifício, fluindo graciosamente. Pela sua voz passou o seu imenso amor pelo cinema e, sobretudo, por Eric Rohmer.

Indo a seguir para casa, por estradas carregadas de trânsito e água, num carro muito amolgado e com as luzes de farol perigosamente fundidas, não conseguia sair daquele momento - meia hora antes, no anfiteatro, com Rohmer, Mexia, e muita gente, entra a qual jovens cultos, inteligentes, interessados, interessantes.