quinta-feira, 16 de junho de 2011

o ermita, o street artist e o mestre do terror

gostava de partilhar com o clube de cinema as minhas reflexões pessoais sobre três filmes que vi ao longo desta (tão boa) semana de férias. foram eles:

THE TREE OF LIFE: o novo terrence malick, após The New World, de 2005, e apenas o quinto filme deste verdadeiro misterioso cineasta. em cannes, uns aplaudiram, outros assobiaram, se lá estivesse, seria daqueles que aplaudiram. The Tree of Life encaixa-se como uma peça de um puzzle na encruzilhada da obra de malick, explorando temas como a fé, a perda da inocência, a ausência de moral no mundo moderno. simplesmente, malick faz o seu filme de uma forma ora abstracta, ora onírica, com uma estrutura aparentemente desconexa, contrapondo a vida microscópica de uma família americana com a própria criação do mundo. mas tudo se une no fim, pois é isso mesmo que a árvore da vida (elemento da mitologia nórdica) representa, a união de todos os homens com a natureza. e se aceito as críticas de alguns, que chamam ao filme megalómano, panteísta e/ou pretensioso, não deixo de responder que tais adjectivos não são necessariamente defeitos. neste caso, são virtudes, e virtudes que fazem uma obra-prima. pois que ninguém filma como malick, isso ninguém pode contestar.








EXIT THROUGH THE GIFT SHOP: Banksy, o homem sem rosto. quem não ouviu já falar neste graffiter fabuloso que é já vendido nas maiores galerias de arte contemporânea do mundo e que nunca revelou a cara? e este génio ou vândalo, consoante uns e outros, fez agora um filme. ousado, rebelde, mas mais que tudo surpreendentemente interessante, é uma reflexão sobre a arte e o papel do artista, o consumismo e o papel dos críticos que banksy nos propõe. se o espectador vai ver o filme à procura de uma obra sobre o próprio banksy, como seria de esperar, então pode ficar em casa. Exit Through The Gift Shop é muito mais do que isso. e é, em primeiro lugar, o documentário que devia ter ganho o oscar o ano passado.












THE WARD: eis o tão esperado filme de carpenter, dez anos depois de Fantasmas de Marte, um dos seus melhores filmes. mas the ward está muitos pontos abaixo deste último. viram shutter island, de scorcese? é mais ou menos a mesma coisa. e apesar de considerar o carpenter um dos melhores cineastas vivos, tenho de dizer que o shutter island estava melhor que o the ward, por mais que me custe colocar um scorcese acima de um carpenter... a história dos dois filmes é de facto idêntica e como os dois saíram num curto espaço de tempo é impossível não fazer comparações. se o scorcese é, para mim, uma nódoa, um tipo que já há muito perdeu toda a coerência, e chegou a ter alguma nos anos 70, tenho de afirmar também que o the ward, goste-se mais ou menos, é também ele um filme totalmente vazio e sem personalidade... ao ver aquele filme nunca diria que é um trabalho do carpenter... assim, entre dois filmes alheios às temáticas usuais dos seus realizadores, acho que o shutter island ganha pela sua enorme produção, ambiência, actores, reconstituição de época, e até alguma classe na forma como é feito... o the ward, infelizmente desiludiu-me bastante... desde a obra-prima que foi o ghosts of mars, que eu esperava, há dez anos, por um novo filme do mestre do horror... espero não ter de esperar outros dez para ver o carpenter regressar à sua forma...

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Boas Férias!

terça-feira, 7 de junho de 2011

“A Última Sessão” (deste ano lectivo)

No dia 7 de Junho de 2010 escrevi um post neste blogue com o mesmo título: “A Última Sessão” (deste ano lectivo) com a etiqueta “Festival de Curtas”. Se quiserem confirmar procura-se facilmente dando um clique em “Festival de Curtas” na banda lateral das etiquetas. A ideia era complementar o texto do José Pacheco com o vídeo e uma referência ao excelente filme de Peter Bogdanovich “A Última Sessão” (The Last Picture Show) de 1971.

O texto começava assim:

“Para complementar o anterior post do José aqui vai o vídeo com apenas alguns apontamentos.
Esta sessão foi um dos momentos mais emocionantes que ultimamente o Clube de Cinema me tem oferecido.
(…)
Espero que o filme, apesar destes problemas, nos dê um "retrato" mais ou menos fiel desta memorável sessão e que nos possa fazer recordar esta excelente maneira de encerrar, este ano lectivo, o projecto do Clube de Cinema "Gostos Discutem-se".

Bom, quis o destino que esta sessão se tornasse ainda mais emocionante que a anterior.
Por isso só me resta novamente expressar o meu desejo que este vídeo “nos dê um «retrato» mais ou menos fiel desta memorável sessão e que nos possa fazer recordar esta excelente maneira de encerrar, este ano lectivo, o projecto do Clube de Cinema "Gostos Discutem-se".

Afinal, às vezes, algumas coisas boas (com umas poucas alterações) até se podem voltar a repetir.

sábado, 4 de junho de 2011

O FESTIVAL DE CURTAS-METRAGENS DO GOSTOS DISCUTEM-SE

Khirstine, a extraordinária aluna que veio do frio, dizia, no fim da sessão, no seu sotaque que não a impede de tentar falar: «Mas isto em Portugal existe em todas as escolas, este amor pelo cinema, estas pessoas que sabem tanto e se juntam num clube de cinema? Não há nada disto na Dinamarca, nem nunca ouvi falar de alguma coisa assim, seja nos EUA, seja onde for...»

Estávamos no fim do Festival de Curtas-metragens promovido pelo clube. O André Jorge já tinha salientado, no seu discurso exacto e completo, o facto de ter havido filmes muito bons, o facto de o clube de cinema ter sido suficientemente aberto para aceitar a concurso filmes que teriam sido discriminados - ou censurados - noutras escolas: foi também o reconhecimento do papel do Gostos Discutem-se no apuramento e propagação de uma contagiante cultura cinéfila.

O Francisco, humilde e generoso, que tem sido a verdadeira alma do clube, divulgando-o por todos os meios, experimentando as novas tecnologias, para que, de cada vez mais longe, saibam o que andamos a fazer e venham até nós, estava perante um sonho tornado realidade: uma sala a abarrotar de entusiastas, gritos, apupos, alegria.

O apoio da escola e da Direcção a este projecto que é, à sua maneira, um cisne negro, isto é, algo que vinga contra todas as expectativas, raro e fora de tudo o que se tem feito por aí, foi bem notório.

E, de facto, na comparação com o festival do ano passado, a melhoria tornou-se evidente: mais filmes, mais qualidade, mais empenhamento; um júri com uma tarefa dificílima, de que se incumbiu brilhantemente; e uma conferência de imprensa final, que possibilitou uma conversa (e uma discussão) sobre os filmes.

Para o ano voltamos. No futuro longínquo, quando alguém falar de Cannes, um miúdo perguntará: «O que é isso?» - e alguém terá de explicar: «era assim uma espécie de "Festival de Curtas" do Gostos Discutem-se»