quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A marca da criatividade!

Ora bem não, eis-me de regresso ao blog do clube de cinema! Desculpas à parte _ as do habitual claro está: pouco tempo, muito trabalho, ou talvez aquela que está mais próxima da realidade que é a vontade de escrever! E esta ultima vem muito a propósito. Porquê? Porque ao escrever um comentário original estamos a criar algo. Sim, porque não?! É um acto de criação, no qual o autor partilha algo intimo de si próprio com os leitores. É um momento único e sublime que flui de forma diferente de pessoa para pessoa, ou para utilizar uma expressão popular, o acto de criação em si pode ser tão fácil e espontâneo como respirar para uns, ou tão difícil como arrancar um dente para outros".

Surgiu-me este pequeno exercício de comparação (algo exacerbado, poderão os caros bloggistas pensar) ao matar a curiosidade sobre as ultimas noticias do clube de cinema, concretamente o mais recente ciclo dedicado à criatividade. Talvez espevitado por esse tema, curiosamente a minha mente foi buscar os melhores momentos de um filme que gosto bastante e tem como personagem central um dos maiores génios criadores da musica clássica, Wolfgang Mozart. O filme em causa é Amadeus, de 1984.

Já há algum tempo tinha tomado conhecimento que o filme partia de uma peça teatral do mesmo nome e que, à parte das liberdades artísticas que sempre envolvem qualquer adaptação cinematográfica, os argumentistas aproveitaram a premissa da peça teatral, concretamente a forma original como a história é construída. Aquilo que habitualmente serviria de pretexto para duas ou mais horas de exposição gráfica e aleatória de elementos biográficos de um individuo, foi aqui construído de forma diferente, pois a história é contada na segunda pessoa, neste caso a de outro compositor ( F. Murray Abraham, no papel de António Salieri) contemporâneo de Mozart. É a luta pessoal de Salieri com as suas convicções religiosas e a sua devoção pessoal que estão no centro da história. A associação de Mozart à perfeição criativa e divina está implícita na narração de Salieri.

Muitos críticos acusam este filme, por um lado devido à forma negativista com que António Saliéri é representado, por outro pela falta de veracidade histórica em relação aos eventos e à descrição do próprio Mozart. O facto de que a história em si constitui uma interpretação dos factos por outra personagem dentro da narrativa é bastante pertinente, pois ao fim e ao cabo, o Mozart que vemos no grande ecrã é fruto das memórias e dos sentimentos ambíguos de ódio/veneração de Salieri, e não uma aspiração a registo histórico intocável!

Talvez, no fim de tantas palavras que já escrevi, o tema central da história esteja mais relacionado com o inicio do meu comentário. No fundo é a luta criativa que está patente no filme. O tal rasgo criativo que pode ser tão difícil, ou tão genialmente fácil de alcançar!

Uma ultima nota para a banda sonora do filme, composta à mais de duzentos anos atrás! Um exemplo da tal marca de criatividade (?) …



2 comentários:

  1. por acaso vi há pouco tempo o don giovanni no são carlos e acho que o mozart é de facto o maior vulto da música dita erudita ou clássica. eine kleine genie. como o professor diz, um criador!

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  2. F. Murray Abraham compõe, quanto a mim, um Salieri inesquecível. É possível que injusto? Talvez fique, para a maioria das pessoas, a ideia de um Salieri mesquinho, invejoso e sem escrúpulos que o autêntico não terá sido? Possivelmente. Mas, em primeiro lugar, há que permitir à Arte essa absoluta liberdade perante a História, capaz de refazer e recompor ao sabor do génio e da criatividade. A fidelidade que fique para os investigadores. Em segundo lugar, o Salieri do filme é uma personagem densa e profunda, sem talento como compositor, é certo, mas com um enorme talento para compreender a música de Mozart, para admirá-la ao ponto de a querer fazer sua. Eu gosto deste Salieri inseguro, entre o medo e a ambição, profundamente triste e humano.

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