Basicamente, houve quatro vitórias justas: Natalie Portman como melhor actriz, Colin Firth como melhor actor, Toy Story 3 como melhor filme de animação, e Inception nas categorias técnicas (Efeitos Especiais, Montagem de Som e Mistura de Som). Tudo o resto, mais uma vez, foi tanga. Black Swan, o melhor filme do ano, foi posto de fora desde o início. Roger Deakins, esse brilhante fotógrafo de True Grit e de quase todos os outros filmes dos irmãos Coen, voltou a perder (era a sua oitava nomeação ou coisa que o valha). E não nos esqueçamos da sua brilhante fotografia do filme The Assassination of Jesse James By The Coward Robert Ford (2007, Andrew Dominik) que também perdeu a estatueta dourada. Exit Through The Gift Shop, de Bansky, perdeu o Oscar de melhor documentário (óbvio!), a canção vencedora foi uma piroseira do costume, a montagem foi para The Social Network, que de montagem não tem nada, e a trampa da Alice no País das Maravilhas ainda levou dois Oscars para casa. A banda sonora foi para The Social Network (a banda sonora de John Adams para Eu Sou o Amor, filme genial italiano que nem foi nomeado para melhor filme estrangeiro, ficou também esquecida, apesar de ser a melhor banda sonora que eu tenho ouvido em anos). Sobre os filmes estrangeiros não comento que não vi nenhum, só tenho pena que o Eu Sou o Amor não tivesse sido, ao menos, nomeado. E os prémios de argumento repartiram-se pelo Social Network e o Discurso do Rei, tendo este último vencido nas categorias de melhor filme e melhor realizador. Mas percebe-se que um filmezinho inglês sobre o triunfo da amizade e da coragem, ainda por cima uma biografia de um rei, com bons actores, e uma boa reconstituição histórica, agrade à Academia. Queriam o quê?, que dessem o Oscar a um filme sobre uma bailarina que, na busca pela perfeição, se deixa contaminar pelo devaneio erótico (o que envolve cenas mais ou menos explícitas de masturbação e lesbianismo)??? Claro que não. A Academia ainda não cresceu o suficiente para isso. Nem nunca crescerá. Com todos os seus defeitos, mil vezes Cannes, mil vezes Veneza, Berlim ou Sundance. Agora, Oscars??! Há muito que perderam o seu prestígio. Até porque, daqui a vinte anos, ninguém se lembrará de O Discurso do Rei, de Estado de Guerra ou de Slumdog Millionaire, entre tantos outros "filmes" que têm vencido a estatueta cada vez menos dourada.
CINEMA: O PODER DO CÃO
Há 2 anos