Eu sei, eu sei, eu sei. Eu sei que há muita matéria para dizermos mal da instituição que premeia com um "óscar" o que se considera melhor em cinema. Tal como podemos queixar-nos das injustiças do "Nobel": há sempre merecedores que nunca foram eleitos e desmerecedores que ganharam o prémio como se o roubassem.
Mas, sem prejuízo dessa discussão nem abdicar do meu espírito crítico, que não passará a gostar daquilo que foi premiado só porque o foi, nem deixará de gostar do que não foi só porque o não foi, entendo que a "Noite dos Óscares" é sempre um espectáculo memorável, um foco de humor e discussão de gostos e de ideias e, sobretudo, uma homenagem à 7ª Arte.
Posto isto, não assisti ao espectáculo: era muito tarde e eu estava já a cabecear. Mas pretendo ver a síntese com a apresentação do hilariante Billy Crystal, com as gargalhadas do público, os momentos de suspense, todos de rostos e ouvidos fixos na frase «And the Oscar goes to...», os discursos de gratidão ou os olhares de fúria disfarçada de cordialidade.
Não vi "O Artista", vencedor aboluto da noite; mas vi a Margareth Thatcher de Merryl Streep, havendo detestado o filme e adorado o trabalho da actriz. [Se bem que, numa discussão, a minha amiga Luísa me dissesse: «Aquilo é puro ilusionismo. A Streep limita-se a usar a sua técnica; atira-nos à cara com uma mão-cheia de truques, muito bons, porque ela é muito boa, mas que não fazem do seu trabalho mais do que uma boa gestão de competências e de técnica...»]; e vi "Os Descendentes", que considerei um filme maior. De todos os pontos de vista, aliás: a intensidade dramática do argumento, a brilhante realização de Payne, a fortíssima representação de Clooney.
CINEMA: O PODER DO CÃO
Há 2 anos
Por uma vez em tempos recentes (pelo menos desde o ano em que o "No Country For Old Men" recebeu o oscar de melhor filme) a Academia cometeu algumas escolhas bastante acertadas, que me deixaram satisfeito. A cerimónia foi verdadeiramente chata, desinteressante e sem nenhum humor (ou pouco, Billy Crystal também não teve grandes oportunidades - apareceu para aí dez minutos no total), mas "Uma Separação" (filme iraniano rigoroso e brilhante a todos os níveis) levou para casa o oscar de melhor filme estrangeiro, o "Millennium" levou o oscar de montagem (que era de longe a melhor coisa do filme), o "Midnight In Paris" e o "The Descendants" levaram, cada um, um oscar de melhor argumento, Christopher Plummer ganhou melhor actor secundário (finalmente!!!) e o incrível Jean Dujardin o oscar de melhor actor. E, claro, os oscars que o "The Artist" recebeu (para além do já referido melhor actor, levou também melhor guarda-roupa, banda-sonora, realização e filme) - todos mais que merecidos. Afinal, o único possível rival do Artista seria a Árvore da Vida, filme que a Academia (por razões óbvias, nunca distinguiria). Midnight In Paris era bom, mas não era assim tão bom. O resto era uma trampa. Os pontos fracos foram o oscar para Meryl Streep (que não só continua cabotina como agora é velha cabotina) e os oscars que o "Hugo" levou, mas enfim, eram só oscars técnicos, ninguém ficou muito chateado. E pronto, lá foram os franceses roubar os oscars aos americanos!
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