Quarta-feira no Anfiteatro
27 de Abril de 2011 às 14h00
A Ponte do Rio Kwai
de David Lean
apresentado pela
Prof.ª Teresa Gomes
Este filme costuma ser apresentado como um filme sobre a segunda guerra mundial, ou sobre um campo de prisioneiros japonês na Birmânia (hoje Myanmar) ou, como vem descrito na minha versão em DVD, a “história da destruição de uma ponte ferroviária construída pelos prisioneiros britânicos na Birmânia ocupada”(?!). Mas o que vem de imediato à lembrança é o tema musical do filme: a “marcha do Coronel Bogey” assobiada pelos prisioneiros britânicos.
O contexto temporal reporta-nos para 1943. O Japão, potência imperialista do Eixo, expandia o seu domínio na Ásia contra o domínio colonial britânico, firmado durante o século XIX nas guerras anglo-birmanesas que terminaram com a anexação de diversos territórios na Indochina. O avanço japonês punha em causa o domínio britânico e servia de apoio para o ataque à Índia. A construção de uma linha de caminho de ferro que ligasse o sul (Singapura) ao Norte da península da Indochina, servia a estratégia japonesa.
A companhia britânica comandada pelo coronel Nicholson (papel assumido pelo brilhante Alec Guinness) chega ao campo de prisioneiros comandado pelo general Saito (Sessue Haykawa), com o objectivo de ajudar a construir uma ponte ferroviária sobre o rio Kwai. As cenas iniciais apresentam os princípios em confronto. De um lado Nicholson, representante dos valores civilizacionais europeus a ser implementados em todo o mundo – “Sem lei não há civilização”. Para Saito (Sessue Haykawa), a missão tem de ser levada a cabo para manter a sua própria dignidade. Trata-se da sua contribuição pessoal para o sucesso do seu país. Assume-se como um elo na engrenagem imperial. A questão da liderança é o aspecto que mais me atrai neste filme. Dois estilos de liderança que correspondem a duas culturas diferentes.
“Líder não é aquele que manda mas o que é seguido”. Tal afirmação, a ser verdadeira, remete-nos já não para a unicidade do tema da liderança mas para um binómio - líder e liderados. Quem o segue e por que o segue? Esta é a questão mais interessante. Porque tem um cargo superior? Porque defendem os mesmos valores?
Neste tema emerge também um terceiro ponto fundamental – o contexto, a missão. O orgulho tecnológico do Ocidente. O Homo Faber que se realiza construindo, criando, mesmo que isso sirva os propósitos do inimigo. Como refere Nicholson, é preciso dar-lhes um propósito, um objectivo. O ardor colocado nesta missão sobreleva-se às leis que o próprio Nicholson coloca acima de tudo no início do filme – e acaba por desequilibrar o sistema de liderança: o líder, os liderados, a missão.
A personagem de Shears (Wiliam Holden), o americano, também é muito interessante. Representará a liberdade individualista do novo mundo? Servirá de contraponto ao ponto de vista do coronel Nicholson? O que o move? No fim percebe-se; a mensagem é simples e localizada no tempo. É um filme de 57. Fascinante.
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