domingo, 1 de maio de 2011

26.ª Sessão do CC de 2010/2011

Quarta-feira no Anfiteatro
04 de Maio de 2011 às 14h30


The Devil is a Woman
(O Diabo é Uma Mulher)
de Josef Von Sternberg

apresentado pelo

Encarregado de Educação
Luís de Almeida d'Éça




Tomando como exemplo Pigmaleão e Galateia, o cineasta Josef Von Sternberg usou, ao longo da sua vida, a famosa fórmula bovariana “Marlene sou eu” para salientar a identidade entre criatura e criador.

Josef von Sternberg e a actriz Marlene Dietrich formaram uma das relações mais complexas e fascinantes da história do cinema e colaboraram em sete obras-primas de beleza incomparável: O Anjo Azul (1930), Marrocos (1930), Fatalidade (1931), O Expresso de Xangai (1932), Vénus Loira (1932), A Imperatriz Vermelha (1934) e, por fim, O Diabo É uma Mulher (1935).

Envolta em véus, redes, fumo, peles, penas e plumas, fotografada num jogo prodigioso de sombra e de luz, Marlene Dietrich tornou-se num dos mitos imortais da sétima arte.



A propósito de O Diabo É uma Mulher, a última obra que filmaram juntos e a preferida de ambos, o realizador alimentou o desejo de, um dia, poder projectá-la do fim para o princípio, facto que reforça o carácter radical e abstracto do filme.
Apesar de adaptar com grande fidelidade o romance A Mulher e o Fantoche de Pierre Louÿs, não tem como objectivo principal desenvolver uma narrativa nos moldes tradicionais, mas criar um deslumbrante poema visual barroco, de intenso erotismo, sobre os temas recorrentes do desejo, dos mistérios do eterno feminino e da impossibilidade do amor.


O Diabo É uma Mulher desfez a dupla Sternberg/Marlene e arruinou a carreira do cineasta, um dos raros génios da história do cinema. Foi um dos mais singulares e arrojados projectos que nasceram no seio de um estúdio de Hollywood. Uma experiência-limite. Um filme que ousou libertar-se dos constrangimentos da indústria e transformar-se numa obra de arte.

Como consequência, não teve praticamente distribuição comercial. Na Europa foi visto pela primeira vez no Festival de Veneza de 1959 e, em Portugal, em 1977, na Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito do ciclo Cinema Americano dos Anos 30. No nosso país só estreou comercialmente em 1997, no cinema Ávila, com um atraso de 62 anos relativamente à data da estreia mundial.

Apresentá-lo no Clube de Cinema da Escola Secundária Professor José Augusto Lucas perante um grupo de espectadores jovens, infinitamente mais sofisticados do que as plateias dos anos 30 do século passado, constitui um aposta sedutora. Como todas as obras de arte verdadeiramente relevantes, o filme mantém-se em aberto num desafio permanente que exige o esforço analítico de quem o vê.

O meu desejo é o de que, juntos, o saibamos discutir para melhor o entendermos. No final, com sorte e sobretudo com inteligência e criatividade, talvez o consigamos merecer.

Luís de Almeida d'Eça

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