terça-feira, 9 de março de 2010

Momentos na história do cinema

Cá estou eu outra vez, num inevitável conflito interno, debatendo com o meu outro eu sobre a mais valia dos meus filmes preferidos; sobre o seu sentido ou significado, sobre a grande metáfora que me escapou, escondida na narrativa de um filme qual cálice sagrado cinemático. Um hábito que é muitas vezes uma armadilha e um preconceito que me faz olhar na direcção errada quando começo a ver um filme (ou quando tomo a decisão sobre qual o filme que vou ver). E para evidenciar quão fútil pode ser, por vezes, este exercício mental ocorreu-me este fim-de-semana (por razões que irei expor mais adiante neste comentário), quão a propósito por se tratar do fim-de-semana “do Óscar”, como têm passado ao longo destes 115 anos tantos momentos de cinema inesquecíveis. E escolho o nome “momentos” porque constituem apenas um membro de um órgão maior que é o filme ao qual pertencem. Por razões várias, desde mérito próprio, modas contextualizadas pela época, necessidades propagandistas, seja qual for, esses momentos são imortalizados pelo público, indiferente ao contexto da narrativa, ganhando contornos que ultrapassam o próprio filme a que pertencem: o “membro” ganha vida própria. Seja uma frase que fica no ouvido, uma interpretação que fica na memória, uma montagem (ou cinematografia) que não escapa à vista e aos sentidos que ficam inebriados com aqueles poucos segundos. Uma prova que o cinema é prolífico em situações que nos permitem apreciar um filme pela beleza ou prazer que nos proporcionam estes momentos, que permanecem no nosso imaginário. Associados ao filme, sim… mas com “vida própria”!

E porquê tão profundas considerações? Não escapou à minha atenção um post publicado na semana passada, onde o Francisco e o José descrevem o impacto do filme "Te doi mis ojos". O impacto das imagens, a força das palavras, a beleza de um momento. Não vi o filme, mas é uma experiência comum a tantas outras em tantos outros filmes. Por coincidência, neste fim de semana, enquanto fazia zapping procurando algo interessante nos cento e tal canais que tenho em casa, “encalhei” com o Psico de Alfred Hitchcock na SIC radical.

Já tinha visto recentemente, pelo que não espevitou muito o meu interesse. Ainda assim hesitei em mudar de canal, pois estava a tentar situar a acção no filme, curioso em saber se já tinha passado a cena em que a personagem Marion Crane é assassinada no chuveiro. Não caros bloggistas, não são ímpetos voyeuristas, mas sim a minha incapacidade de ficar indiferente a uma cena popularizada pela sétima arte. Desde a primeira vez que vi o filme (com apenas 12 anos), sem os gostos que cultivo hoje, não me saiu da memória esta cena crua e brutal, mais pela sugestão em si do que pela exposição gráfica; pela musica estridente de Bernard Herrman que simula os golpes mortais do criminoso perante os gritos secos da vitima e face a uma audiência (nós!) incapaz de ajudar.

Os adjectivos parecem inocuos para descrever uma cena destas. Um de vários momentos na história do cinema.

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