segunda-feira, 31 de maio de 2010

30ª Sessão (e última) no CC em 2010

FESTIVAL DE CURTAS-METRAGENS
Quarta-feira, 02 de Junho
no Anfiteatro às 14h30

ENTREGA DOS PRÉMIOS
e apresentação dos filmes
seguida de debate

Crespuscal’s
de
Guilherme Tavares,
Natasha Lima,
Rodrigo Teixeira e
Victória Freitas - 7.º B

A Tasca da Lena
de
Matilde
Coelho da Silva - 9.º C

Um Vírus Invulgar
de
Miguel Machado - 9.º C

Espera
de
João Sacramento - 11.º C

O Anti-Herói
de
André Jorge - 11.º E
e João d’Eça - 11.º F

segunda-feira, 24 de maio de 2010

29ª Sessão no CC em 2010

Quarta-feira, 26 de Maio
no anfiteatro às 14h30


ANDRÉ VIEIRA
(11.º C)
apresenta
Amadeus
de
Milos Forman



segunda-feira, 17 de maio de 2010

28ª Sessão no CC em 2010

Quarta-feira,
19 de Maio

na SALA 44
(Pavilhão E)

às 14h30

FESTIVAL DE
CURTAS-METRAGENS
com a presença da ex-aluna Carolina Rocha que apresenta a sua curta-metragem
"Onde Estão as Mãos de Eduardo"
em exibição extra-festival.


A Concurso vão ser apresentadas as seguintes curtas-metragens:
Escalão — 3.º Ciclo do Ensino Básico
Crepuscal’s
de Guilherme Tavares,Natasha Lima, Rodrigo Teixeira e Victória Teixeira do 7.ºB
A Tasca da Lena
de Matilde Coelho da Silva, Sara Carrilho, Rodolfo Esteves e Tiago Fernandes do 9.ºC
Um Vírus Invulgar
de Miguel Machado, Pedro Luís, Tomás Dias e Vítor Cabral do 9.ºC

Escalão — Ensino Secundário
Espera
de João Sacramento
do 11.ºC
O Anti-Herói
de André Jorge (11.ºE)
e João d’Eça (11.ºF)

deixo-vos com o trailer do filme da Carolina Rocha


domingo, 16 de maio de 2010

HUMPDAY

Hoje, ou melhor ontem, sábado, que já passa da medianoche, fui ao cinema. Ver o quê? Entre um pretensioso Robin Hood que pretende desmistificar o herói e substituir o fantástico Errol Flynn pelo mentecapto do Russel Crowe, transformando um filme de aventuras filmado em esplendoroso technicolor, numa mistela cinzenta e deprimente de sangue, porrada e efeitos slow motion; um Iron Man 2 que nos desilude por investir onde o primeiro mal tocara: cenas intermináveis de acção e mais acção e... (adivinhem!) ainda mais acção; uma versão travesti do retrato de Dorian Gray; uma Religiosa Portuguesa desancada pelos críticos; o lamechas e piroso The Blind Side; a comédia para atrasados mentais Date Night; e muitos outros filmes que estrearam nas nossas salas de cinema, decidi ir ver HUMPDAY.










HUMPDAY passou por muitos festivais internacionais, foi bem-recebido em todo o mundo e, sendo um filme independente e tratando um tema delicado, despertou a minha curiosidade. A história é simples: dois melhores amigos, um aventureiro semi-nómada que não acabou o curso e que leva uma vida libertina pelo mundo fora e um outro casado, sedentário e que pensa já em ter filhos, decidem fazer um filme pornográfico. A originalidade e o arrojo da coisa: serem dois heterossexuais a praticarem sexo homossexual. O filme deveria depois estrear num festival amador de pornografia... Não contarei o final do filme, pois isso estragará o seu interesse. No entanto, não posso deixar de mencionar o filme de Paul Mazursky: Bob and Carol and Ted and Alice (1969 - ou seja, feito há quarenta anos atrás), do qual HUMPDAY bebe muito.












Li a crítica publicada no Público de Vasco Câmara no qual ele compara o filme às obras de Rohmer e de Cassavetes, mas achei curioso que não nunca se mencionasse Mazursky. Para quem conhece o fantástico e arrojado Bob and..., só posso dizer que HUMPDAY é quase que uma nova adaptação, apesar de "menos corajosa" (também a verdade é que já passaram quarenta anos desde o filme de Mazursky, e a importância social de um filme destes hoje em dia é quase nula, ao contrário do que FOI nos anos 60). HUMPDAY é um filme muito bonito, e não me refiro ao facto de apesar do orçamento baixo (se é que havia orçamento!) conseguir uma fotografia esplendorosa em certos momentos, mas sim à forma como penetra na intimidade sentimental das personagens, com grandes close-ups e muitos zooms e movimentos de câmara que seguem os diálogos com grande intensidade. O argumento é de qualidade, os actores suficientemente convincentes. Vasco Câmara diz que logo no início do filme se percebe que não é mais uma "comédia javarda". Claro que não. Mas também não é um Bob and... É algo que fica no meio, mas que vale a pena ver, nem que seja pela simples celebração do que se consegue fazer com pouco dinheiro e muita imaginação (não, não precisamos de tubarões de borracha nem de dinossauros feito a computador para termos cinema...). O título em português do filme é HUMPDAY - Deu para o torto. Deu para o torto? Por outro lado: deu até muito bem...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Emir Kusturica & No Smoking Orchestra


Depois de ler o post anterior do José resta-me também acrescentar o meu contentamento em constatar a excelente presença das 23 pessoas que estavam no início. Saíram algumas durante o filme mas voltaram outras para a discussão. Ainda não chegámos ao meu sonho (utópico?) de assistir a uma sessão do CC em que haja a necessidade de utilizar também os assentos da escadaria do anfiteatro mas para lá caminhamos...

Quanto ao filme, Gato Preto Gato Branco, aquela música não me sai da cabeça. E decidi "googlar" Emir Kusturica & No Smoking Orchestra. Sabem o que encontrei? Isto:

"Emir Kusturica & No Smoking Orchestra + Melech Mechaya"
Se os palcos portugueses atribuíssem um prémio de assiduidade, Emir Kusturica seria um sério candidato ao troféu. Está de volta, sempre com a sua No Smoking Band, para um concerto no no Coliseu de Lisboa, dia 9 de Junho de 2010.

Se alguém ainda não sabe a festa que é uma actuação de Kusturica, pode começar por ver um filme do músico/realizador e deixar-se levar pela sua irresistível concentração de folk-punk em trajes ciganos, que suga sons das mais diversas culturas europeias. A mente aberta é condição essencial para absorver esse incatalogável caldo musical. Outra é o corpo solto, sem ilusões de resistência ao ritmo frenético, à simpatia e ao bom humor da banda. A imaginação também é obrigatória.
Podíamos estar num casamento de loucos, no meio da mais fatal das guerras ou até num funeral, mas a vida é um milagre e é preciso celebrá-la com total euforia. É esta a lição do realismo mágico dos seus filmes, da sua música e dos seus concertos. Há sempre por onde rir da situação, nem que seja com um sorriso irónico, a pedir revolução. Se os deuses estão loucos e os demónios andam à solta, uma festa destas é um antídoto mais-que-perfeito."


Guia do Lazer do Jornal Público

Depois descobri este endereço desta banda no myspace que vos convido a visitar:
http://www.myspace.com/emirkusturicathenosmokingorchestra

Depois decidi ir ao site do Coliseu dos Recreios e obtive esta informação:


"The No Smoking Orchestra (Zabranieno Pusenje) foi fundada em Sarajevo em 1980 e rapidamente se tornou a banda mais influente da chamada corrente do “New Primitivism”, um movimento cultural de oposição que se difundiu após a morte de Tito (antigo líder na ex-Jugoslávia).

Após vários sucessos nacionais e de perseguições Governamentais durante a década de 90, com o inicio da Guerra dos Balcãs Nelle Karajlic deixou Belgrado. Em 1994 ele reformou o grupo com músicos mais novos, incluíndo um novo baterista chamado Stribor Kusturica, irmão de EMIR KUSTURICA.
Em 1998, The No Smoking Orchestra compôs a música para a BSO do filme Gato Preto, Gato Branco de EMIR KUSTURICA, filme este que foi galardoado com o Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza."

E por fim fui ao You Tube e obtive o vídeo desta extraordinária actuação:




Depois disto tudo decidi ir amanhã às bilheteiras do Coliseu na esperança de que não esteja já a lotação esgotada. Além disso dia 10 de Junho é feriado...

GATO PRETO, GATO BRANCO, NUM TEXTO EM QUE QUASE NÃO FALO SOBRE O FILME

No clube de cinema, gostamos (gosta-se, gosto eu, pelo menos) mais de algumas sessões. Podem ser muitas as razões pelas quais há uma ou outra tarde que nos atingem (me atingem) especialmente; e, sobretudo, perdoem-me a heresia, somos sensíveis (eu sou), por vezes, a motivos que ultrapassam a qualidade do filme em si mesmo.

Por exemplo, quando um convidado nos vem visitar; ou quando o debate é animado; ou se disseram coisas interessantes, ou engraçadas, em que ficámos a remoer...

Esta sessão, apesar de, estranhamente, não ter sido das melhores do ponto de vista da conversa que se seguiu (um pouco como se as pessoas estivessem intimidadas ou fechadas sobre si), foi certamente das mais fortes ou, pelo menos, das que mais me tocaram, por dezenas de outras razões. Dezenas, mas fiquemo-nos por uma dezena.

1. Porque, neste caso, o próprio filme era excelente. E eu que temia algo demasiado intelectual, incompreensível, mas dei comigo completamente agarrado, rindo muito, tentando seguir o novelo caótico, contudo irresistível, ou aquele humor em que até os maus têm algum elemento que os salva...

2. Por ter sido uma escolha do Sacramento, que, oscilando entre a timidez e a saudável irreverência, se tem mostrado um cinéfilo cheio de recursos e ideias, desde a primeira hora, e que me apresentou já (e emprestou) algumas obras que só ganhei em descobrir...

3. Por ter inaugurado o regresso do impagável Guilherme - caramba, há quanto tempo! -, da certeira Liliana, do imprevisível Vasco e da atarefada (mas impressionante) Beatriz...

4. Por contar com a presença de Paula Fonseca, a dinâmica amiga cuja intervenção é sempre - como agora se diz - uma mais-valia...

5. Por presenças novas, ainda que breves, e ainda que se não saiba, neste momento, se tornarão.

6. Por ter tido o prazer de olhar cá debaixo e deparar com uma sala bem preenchida - teriam sido quinze, vinte cinéfilos, pelo menos ao princípio?

7. Por saber que, mesmo os que chegaram mais tarde mas fizeram questão de não deixar de marcar presença - Eça, André Jorge -, se demoraram a fazer algo que também tem que ver com o clube de cinema: a curta-metragem, que aguardo ansiosamente.

8. Por ter visto o André Vieira, sentado mesmo à minha frente, a rir, em face do filme, com um certo jeito surpreendido, sacudindo a cabeça e abrindo os braços, como quem diz: «Oh, raios, mas que é isto? Que mais irá acontecer!?»

9. Pela dedicação com que o Sacramento e o Vieira se apresentaram, um de negro, outro de branco, numa alusão ao Gato Preto, Gato Branco.

10. Pelos magníficos risos da rapaziada do 8º ano, que persistem no clube, cheios de vontade e vitalidade, como promessa já segura.

Garanto-vos que tudo isto me foi passando pela cabeça ao longo da sessão. Isto e diversas outras coisas, mas não vale a pena acrescentar seja o que for: tinha jurado a mim próprio que ia referir unicamente dez razões. E ei-las.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Confronto de titãs


Saudações cinéfilas a todos os bloggistas. O titulo de abertura, um tanto ou quanto belicista, reverte por um lado para o filme homónimo que circula por Portugal à já quatro semanas, e por outro lado para o conflito que surge pela inevitável comparação com o filme original de 1981. Só ai devia pecar por falta de originalidade, mas o meu comentário incide mais na comparação entre os dois pelos meios visuais empregues. Nesse ponto a discussão entra noutro plano, concretamente a influência dos efeitos visuais num filme, bem como a sua resistência ao passar do tempo. Sem duvida alguma um confronto de titãs, por comparação; os efeitos actuais gerados graficamente por computador (vulgarmente chamados CGI) e a técnica já muito velhinha chamada Stop motion, usada por indivíduos como Willis O´Brien ou Ray Harryhausen.

Sobre a sua natureza ou como eram produzidos… bem, já viram o filme King Kong de 1933? É desse tipo de efeitos especiais que estou a falar! Uma técnica que já está sem duvida ultrapassada e é pouco ou nada usada hoje em dia. No entanto, alguns dos autores deste tipo de filme trabalhavam sobre uma premissa que me parece ainda bastante actual: os efeitos em si, não fazem o filme. Ou dito de outra forma, é preciso ter uma história apelativa, que proporcione interesse, para não falar numa cinematografia e montagem inteligentes (entre outras coisas) que desvie a atenção do espectador das limitações destas técnicas. Só assim se explica como alguns desses títulos de outrora conseguem ainda manter colados ao ecrã aqueles que cresceram a vê-los mesmo depois de tantos anos. Para mim pessoalmente, a jóia mais cintilante do género é Clash of the titans, de 1981.

Por isso era inevitável uma visita a qualquer sala de cinema onde o seu recente remake (com o titulo português Confronto de titãs) estivesse em exibição. Isto apesar de todas as criticas negativas que tem recebido ou dos meus receios relativamente ao uso de efeitos digitais para refazer um filme que foi um marco da animação stop motion. Porque hoje, tanto como há 40 anos atrás, a dependência total de efeitos visuais tem as mesmas consequências negativas, embora por outras razões. A tendência dos realizadores de hoje é transformarem filmes em autênticos videojogos. Sem conotação negativa associada, mas a verdade é que isto é uma clara alienação do espectador que provavelmente prefere jogar em casa a gastar mais 5 euros e setenta cêntimos. Não foi o caso _ ou talvez, para ser honesto, não foi exclusivamente o caso! Felizmente há mais qualquer coisita neste filme _ Confronto de titãs de 2010 _ que imagens geradas digitalmente para entreter o espectador. Aquele ambiente de fantasia e sobretudo o apelativo de toda a mitologia grega e os seus intervenientes continuam neste remake _ apesar das incongruências em relação ao mithos grego, mas esse também é um defeito presente no filme original! A minha intenção era entrar na sala de cinema e “desligar-me” totalmente do resto do mundo durante aquelas duas horas. Objectivo atingido. Não me interpretem mal, este filme não é uma obra de arte! O ritmo é bastante rápido, talvez demasiado, com as cenas de acção a sucederem-se umas atrás das outras, o que embora nos prenda inevitavelmente também encurta o tempo necessário para o desenvolvimento e caracterização das personagens, revertendo um pouco para a tal comparação com um videojogo que eu referi mais atrás.
Mas talvez um dos aspectos mais negativos é a obsessão por parte dos produtores e meios de distribuição em proporcionar um espectáculo do estilo parque de atracções, que muitas vezes peca por excesso. Felizmente não vi a versão em 3D, mas sujeitei-me a uma exibição em que o som estava desproporcionalmente alto, chegando mesmo a incomodar.
Posto isto surpreende-me (ou talvez não) o incrível número de criticas negativas que leio sobre o filme. Porque a escassez de originalidade leva os estúdios a pegar em sucessos antigos e refazê-los sob fórmulas industriais de sucesso actuais? Porque é um insulto tentar refazer obras de arte sob a falsa noção que existe um “guia de receitas” para o sucesso?

Todos estes argumentos merecem atenção pois nem eu próprio consigo descartá-los à primeira. E devo admitir que não sou imparcial a comentar uma história (a de 1981) com a qual tenho uma ligação forte num misto de apreciação sóbria e nostalgia infantil.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

27ª Sessão no CC em 2010


Quarta-feira no Anfiteatro
12 de Maio de 2010 às 14h30

JOÃO SACRAMENTO (11ºC)
apresenta


"Gato Preto Gato Branco"
de
Emir Kusturica



quinta-feira, 6 de maio de 2010

A Vida Faz-se Bela

A propósito da sessão de ontem do filme "A Vida é Bela" proposto pela Catarina Pereira, não resisto a mostrar um vídeo que encontrei no you tube (por ali encontra-se quase tudo) que me foi sugerido pela crítica do Jorge Leitão Ramos que coloquei no folheto e que passo a transcrever:

"Começou em Cannes, com aquele prémio que Benigni recebeu ajoelhando-se aos pés do presidente do júri, Martin Scorsese - criando o "gag" e o acontecimento da noite. A sério, a sério, a coisa não era para menos: o "clown" via o seu mais recente filme reconhecido por um areópago que não costuma laurear divertimentos ocos."



"Depois, a avalanche continuou, quer em prémios vários em diversíssimos festivais, quer num sucesso de bilheteira que extravasou a Itália e se estendeu a vários países, incluindo os Estados Unidos.
A Vida É Bela chega esta semana a Portugal - e, sustente-se já, seria lamentável que o público não acorresse a vê-lo.
Não sou entusiasta nem do actor nem do realizador Roberto Benigni. Até agora, salvo em momentos esparsos, a sua comicidade sempre me pareceu sustentada em mecanismos de facilidade, dos quais o histrionismo desmesurado do actor, a sua electrizante energia física, surgiam sem controlo, como se tivessem um valor em si.
Que tinham realmente valor - de mercado - prova-o o estrondoso êxito dessas fitas, principalmente em Itália, onde ele é um incontestado campeão de bilheteira, os seus trabalhos sendo dos muitíssimo raros que, se batem de igual para igual com as locomotivas americanas. Só que a capacidade de entreter o povo nunca foi critério de avaliação crítica.
Todavia, em A Vida É Bela, Benigni evolui apreciavelmente. Sem perder as suas características populares, mantendo-se criatura articulada, «boneco» desenfreado, Benigni envolve-se num manto de poesia. Guido, assim se chama o personagem da fita, não é um pateta desastrado e sempre-em-pé. É um personagem que começa com a aparência e a substância do eterno «boneco» de Benigni, depois vai ganhando espessura, sentimentos fortes, uma inteligência que sobreleva a esperteza infantil, uma capacidade de combate que não é simples teimosia. E, depois, o «clown» não faz rir apenas porque se despenha ao comprido na rua, porque leva pontapés ou porque sustenta um fluxo verbal insensato em situações de apuro.


O «clown» é um mágico. É alguém que conquista a mulher amada chamando-lhe «princesa» e fazendo-a sentir-se como tal. Ele move as estrelas se preciso for para que o seu amor seja feliz. Ele introduz na rudeza do quotidiano o imponderável, polvilha a vida com o doce prazer do ilusionista que é capaz de criar o inesperado e sempre inventar gentilezas - mesmo se o tempo de domínio fascista na Itália não é o mais acolhedor dos ambientes.
Quando A Vida É Bela entra naquele que para toda a gente é o lugar central do filme (um campo de extermínio nazi), que o protagonista, para proteger o filho, tente prolongar a magia, na mais impensável das situações, faz com que a respiração do filme sofra um forte abanão.
O que até aí era pura fantasia romântica povoa-se de uma carga de patético, cada vez menos ridente, cada vez mais intolerável. O humor entra em processo de ocaso e avulta a força dos sentimentos, de maneira que a comédia se transmuta em melodrama, num crescendo que emudece o riso e floresce em lágrimas e alegria no final. O mais notável do filme é isso, é a capacidade de ir mudando de registo, mantendo uma coerência de fábula e, sobretudo, uma moral vincada desde a abertura: que a vida é bela se a povoarmos de fantasia, que a vida permanece e floresce mesmo para lá do horror e da morte.
Um pouco por toda a parte, entre os muitíssimos aplausos, ouviram-se vozes fortes, dissonantes, escandalizadas com a mistura de riso e Holocausto. Na «Time», Richard Schickel chamou mesmo ao filme «uma fábula fascista», porque trivializaria o horror. É de esperar que quem olhe para A Vida É Bela de um ponto de vista secamente histórico possa partilhar tais opiniões.
Estará, todavia, quanto a mim, a passar ao lado do que é essencial na fita: a afirmação da superioridade da resistência da vida mesmo perante os fornos crematórios. É por isso que este filme é tão comovente como ver uma ervinha a ganhar corpo nas encostas das estéreis cinzas de um vulcão.

Jorge Leitão Ramos
Jornal Expresso, 23 Janeiro de 1999