terça-feira, 11 de maio de 2010

Confronto de titãs


Saudações cinéfilas a todos os bloggistas. O titulo de abertura, um tanto ou quanto belicista, reverte por um lado para o filme homónimo que circula por Portugal à já quatro semanas, e por outro lado para o conflito que surge pela inevitável comparação com o filme original de 1981. Só ai devia pecar por falta de originalidade, mas o meu comentário incide mais na comparação entre os dois pelos meios visuais empregues. Nesse ponto a discussão entra noutro plano, concretamente a influência dos efeitos visuais num filme, bem como a sua resistência ao passar do tempo. Sem duvida alguma um confronto de titãs, por comparação; os efeitos actuais gerados graficamente por computador (vulgarmente chamados CGI) e a técnica já muito velhinha chamada Stop motion, usada por indivíduos como Willis O´Brien ou Ray Harryhausen.

Sobre a sua natureza ou como eram produzidos… bem, já viram o filme King Kong de 1933? É desse tipo de efeitos especiais que estou a falar! Uma técnica que já está sem duvida ultrapassada e é pouco ou nada usada hoje em dia. No entanto, alguns dos autores deste tipo de filme trabalhavam sobre uma premissa que me parece ainda bastante actual: os efeitos em si, não fazem o filme. Ou dito de outra forma, é preciso ter uma história apelativa, que proporcione interesse, para não falar numa cinematografia e montagem inteligentes (entre outras coisas) que desvie a atenção do espectador das limitações destas técnicas. Só assim se explica como alguns desses títulos de outrora conseguem ainda manter colados ao ecrã aqueles que cresceram a vê-los mesmo depois de tantos anos. Para mim pessoalmente, a jóia mais cintilante do género é Clash of the titans, de 1981.

Por isso era inevitável uma visita a qualquer sala de cinema onde o seu recente remake (com o titulo português Confronto de titãs) estivesse em exibição. Isto apesar de todas as criticas negativas que tem recebido ou dos meus receios relativamente ao uso de efeitos digitais para refazer um filme que foi um marco da animação stop motion. Porque hoje, tanto como há 40 anos atrás, a dependência total de efeitos visuais tem as mesmas consequências negativas, embora por outras razões. A tendência dos realizadores de hoje é transformarem filmes em autênticos videojogos. Sem conotação negativa associada, mas a verdade é que isto é uma clara alienação do espectador que provavelmente prefere jogar em casa a gastar mais 5 euros e setenta cêntimos. Não foi o caso _ ou talvez, para ser honesto, não foi exclusivamente o caso! Felizmente há mais qualquer coisita neste filme _ Confronto de titãs de 2010 _ que imagens geradas digitalmente para entreter o espectador. Aquele ambiente de fantasia e sobretudo o apelativo de toda a mitologia grega e os seus intervenientes continuam neste remake _ apesar das incongruências em relação ao mithos grego, mas esse também é um defeito presente no filme original! A minha intenção era entrar na sala de cinema e “desligar-me” totalmente do resto do mundo durante aquelas duas horas. Objectivo atingido. Não me interpretem mal, este filme não é uma obra de arte! O ritmo é bastante rápido, talvez demasiado, com as cenas de acção a sucederem-se umas atrás das outras, o que embora nos prenda inevitavelmente também encurta o tempo necessário para o desenvolvimento e caracterização das personagens, revertendo um pouco para a tal comparação com um videojogo que eu referi mais atrás.
Mas talvez um dos aspectos mais negativos é a obsessão por parte dos produtores e meios de distribuição em proporcionar um espectáculo do estilo parque de atracções, que muitas vezes peca por excesso. Felizmente não vi a versão em 3D, mas sujeitei-me a uma exibição em que o som estava desproporcionalmente alto, chegando mesmo a incomodar.
Posto isto surpreende-me (ou talvez não) o incrível número de criticas negativas que leio sobre o filme. Porque a escassez de originalidade leva os estúdios a pegar em sucessos antigos e refazê-los sob fórmulas industriais de sucesso actuais? Porque é um insulto tentar refazer obras de arte sob a falsa noção que existe um “guia de receitas” para o sucesso?

Todos estes argumentos merecem atenção pois nem eu próprio consigo descartá-los à primeira. E devo admitir que não sou imparcial a comentar uma história (a de 1981) com a qual tenho uma ligação forte num misto de apreciação sóbria e nostalgia infantil.

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