domingo, 18 de dezembro de 2011

O BLOGUE PODE SER TAMBÉM UM MURO DE DESABAFOS

Tenho 3 filmes para ver, e ainda não consegui ver um único.
Emprestaram-me L'Atalante, «a obra-prima de Jean Vigo», como é anunciada na capa, e Aurora, do extraordinário Murnau, de quem tanto gosto.
O outro é um filme de 6 horas, parece que muito bom, muito bom, muito bom. Joana Pontes referiu-se-lhe: era uma série que acabou por ser condensada num extenso filme, sem cortes. A Melhor Juventude, de Marco Tullio Giordana.

E pergunto-me que aconteceu ao meu tempo, que escasseia tanto e não me deixa ver os filmes que me apetece.
Não exagero no que vou dizer a seguir:
Com toda a franqueza, é o tempo que disponibilizo, todas as as 4ªs à tarde, ao clube de cinema, que me permite ver e rever excelentes filmes, manter-me próximo do cinema, usufrui-lo - e usufrui-lo na sua melhor forma, que é podendo discutir no fim os filmes com um grupo de entusiastas.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O COBRADOR DE PROMESSAS

Tudo carece do seu tempo, e há que compreender o tempo de que todas as coisas carecem.
Por exemplo: o clube de cinema tem 3 anos. Tem uma história interessante de pioneirismo, fases inesquecíveis, momentos altos - e momentos baixos. Mas precisou destes 3 anos para penetrar no espírito dos alunos, precisou de 3 anos para agarrar os miúdos dos 8º e 9º anos, precisou de 3 anos para nos oferecer, quase sistematicamente, sessões de casa cheia. Imaginem que tivéssemos desistido ao fim do 1º ano. «Eles não vêm. Não tem interesse. Não vale a pena!»

Da mesma forma, este blogue precisa de tempo. Há um ritmo próprio para que os jovens percam o medo e percebam que escrever aqui não provoca choque. Há um ritmo próprio para que principiem a sentir a necessidade de vir: simplesmente ler, ou comentar, ou colocar o seu próprio texto. Hão-de ver que o blogue não é um instrumento elitista; hão-de ver que sentar-se uma pessoa diante de um computador para "postar" um texto de três ou quatro linhas não lhe toma demasiado tempo nem o envergonhará.

O Rodrigo ousou. Foi instado e escreveu um "post". Magnífico, aliás! Estou satisfeito, mas não basta - e não bastará enquanto o blogue não estiver transformado num novo vício.

E, mais do que isto, sou um chato. Não os vou largar.
Já tenho "posts" prometidos por alguns membros. Eu sou um cobrador de promessas!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

11.ª Sessão do CC de 2011/2012 (88.ª desde 26 Nov 2008)

Quarta-feira no Anfiteatro
14 de Dezembro às 14h00

Volver
de Pedro Almodóvar


apresentado pelo
Prof. José Pacheco


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

10.ª Sessão do CC de 2011/2012 (87.ª desde 26 Nov 2008)

Quarta-feira no Anfiteatro
7 de Dezembro às 14h00

Orgulho e Preconceito
de Joe Wright

apresentado pela
Carolina Barrosa do 8.ºD


O orgulho o preconceito da paixão
A minha primeira visita ao Clube de Cinema ocorreu em Fevereiro deste ano. E desde essa altura, quando começou a ser colocada a hipótese de poder apresentar também um filme, eu já tinha decidido fazê-lo com Orgulho e Preconceito.

Se me perguntarem o porquê de eu amar tanto este filme eu não sei dar uma resposta.
Talvez porque é já uma história de amor quase tão icónica como a de Romeu e Julieta.
Talvez pelo facto de eu ter uma paixão pela época ou pela escritora - Jane Austen.
Talvez por ser uma grande adaptação ao cinema de uma história maravilhosa que me eu me apaixonei a partir da primeira leitura do livro.

Ao ver o filme e conhecendo o enredo do livro a história não me surpreendeu muito. O que me fascinou foi a forma como foi adaptado, a qualidade de representação dos actores e a atenção aos pormenores. Desde as paisagens escolhidas à visualização dos costumes, tudo está fiel à época.
Espero que gostem.
Carolina Barrosa

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

UM MÉTODO PERIGOSO


Perguntava eu: «Se te fosse dada a oportunidade de ires ver um único filme, e tivesses de escolher entre o último Almodóvar ou o filme sobre a psicanálise [o último Cronenberg], qual escolhias?»
Francisco hesitou. Se não na escolha, na justificação. Mas acabou por deixar que a sua preferência viesse ao de cima: Almodóvar.

A ocasião que eu antecipava verificou-se nessa mesma noite: estava sozinho diante de um cinema de múltiplas salas, pus-me na fila e confesso que, no momento em que o jovem de boné me perguntou o que desejava, ainda não tinha uma resposta. Porém, ouvi-me a mim próprio dizer: «Um bilhete para Um Método Perigoso, por favor». [Ou seja: Cronenberg, em vez de Almodóvar. Seria preciso um psicanalista para seguir as associações que, inconscientemente, me levaram a esta escolha].

O filme não me decepcionou - não a mim, que sou um "apaixonado crítico" pela psicanálise, que discuto ainda hoje com Freud e me interessei em certo momento por Jung. [Digo-o sem o menor pretensiosismo]. Não o recomendaria, porém, a leigos ou a desinteressados do tema, porque o centro do filme é, não só o tratamento daquela jovem histérica e masoquista, não só a relação erótica entre ela e o psiquiatra [Jung], com tão pesadas consequências, mas talvez também a própria teoria psicanalítica. E, portanto, ao longo de inúmeras conversas entre Freud e Jung, ou da correspondência entre os dois [vozes off], assistimos à formação e à discussão do método, às primeiras zangas e à ruptura entre o mestre e o discípulo predilecto, o rei e o delfim.

Do ponto de vista histórico, o filme é soberbo. Tem-se chamado a atenção para o rigor da caracterização de personagens e ambientes, ou a forma meticulosa como Cronenberg reconstitui uma época. Sem dúvida. Mas é um Cronenberg completamente inesperado: Jorge Leitão Ramos detecta a continuidade entre todos os filmes do realizador: seria sempre uma intimidade perturbada o que o preocupa, não «o que está na pele», mas «o que se oculta sob a pele (ainda que se manifeste fisicamente)». Não vejo continuidade. Vejo um filme sobre a história e a teoria psicanalíticas; vejo um filme sobre os limites éticos do amor e do erotismo; vejo um filme sobre a neurose e as diferentes perspectivas acerca de como lidar com ela. Se eu não soubesse, nunca adivinharia que se trata de um filme do mesmo realizador que fez A Mosca...