quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Sobre dois filmes que vi no fim-de-semana passado

No passado fim-de-semana vi dois filmes completamente diferentes, mas ambos brilhantes. Na sexta, fui ver o novo filme de João Pedro Rodrigues, MORRER COMO UM HOMEM, que estreou em festivais tão diversos como Cannes ou o Queer Lisboa 09, e que se afirma como um dos mais inteligentes realizadores portugueses, cujas metragens têm sido aclamadas em toda a europa. No sábado, tive a sorte de arranjar convites para a sessão de encerramento do doclisboa, onde assisti à ante-estreia do filme CAPITALISM: A LOVE STORY, de Michael Moore, que me parece dispensar apresentação. Para os mais esquecidos, é o polémico realizador do filme Sicko, apresentado pelo André Jorge há duas semanas no clube de cinema.

Sobre o MORRER COMO UM HOMEM:
Tonia (nome artístico de António) é um travesti que fez um implante mamário e que é um dos favoritos das noites de Lisboa. Os seus tempos de glória já passaram, e não quer admitir que mais tarde ou mais cedo se terá de reformar.












Vive com um homem muito mais novo, um rapaz quase, a quem impede de continuar nas drogas. Tem um filho, zé maria, homossexual como o pai, mas que se reprime a si mesmo. Por causa disso, rejeita o pai, mas é igual a ele. Na sequência inicial do filme, zé maria faz treinos nocturnos no exército. Ele camufla-se para o treino, mas ao espectador parecen-nos antes que ele se pinta, como uma mulher, as folhas na cabeça parecem os chapéus exóticos da Carmen Miranda. Então, ele e um companheiro despistam os outros soldados e fazem amor nos bosques. Aproximam-se de uma casa onde vêm dois travestis a cantar. Após um comentário infeliz sobre o pai de zé maria, este último mata o namorado com um tiro de metralhadora.













Começa o genérico, que é entrecortado com cenas de um médico a explicar detalhadamente uma operação de mudança de sexo. Após exemplificar, diz: "Como vê, nada se perde, tudo se transforma!" Tonia quer mudar de sexo, mas as suas crenças religiosas e o seu medo vão adiando a decisão. O seu namorado diz: "vais ser sempre assim?, nem uma coisa nem outra?"














O filho assassino refugia-se em sua casa. O namorado desaparece, rouba-lhe coisas e compra heroína. Zanga-se com a melhor amiga por causa de uma madeixa de cabelo, que afinal havia sido roubada pela sua cadela, Agustina. Discute com o dono do bar travesti onde dança e com a outra dançarina, que quer o seu lugar. Várias vezes, as personagens vão parar ao cemitério, e percebemos que estão ligadas à morte e que terão um destino funesto.





















A sua vida caótica alcança apenas um momento de paz, quando se perde com o namorado nos bosques e vão parar à casa dos dois travestis do início. Aí começa um episódio onírico, o único momento de absoluta tranquilidade e paz. Quando Tonia regressa a Lisboa, descobre que o seu corpo rejeitou a silicone dos implantes mamários e que tem o corpo todo infectado. É operada e retiram-lhe o peito. Pressentindo a morte, decide morrer como um homem. É enterrado vestido como um homem, e é o seu nome masculino que aparece no túmulo. O seu namorado, enquanto Tonia estava no hospital, voltara para as drogas, e acabara por morrer. São enterrados juntos. A câmara filma Tonia a cantar. É uma história trágica, bela, com momentos terrivelmente engraçados. Citando agora alguns críticos: "10 minutos deste filme têm mais ideias e vontade de correr riscos do que em 90% do cinema actual". É verdade. E o resultado é espantoso. João Pedro Rodrigues é uma aposta no cinema português, que todos deveríamos tomar.











Se os espanhóis fizeram isso com o Almodóvar, um cineasta bastante inferior, porque não conseguimos nós?












EM CANNES




Sobre CAPITALISM A LOVE STORY:
É provavelmente o melhor filme de Michael Moore, embora seja difícil escolher dentre as suas obras. Sicko era o meu preferido dos anteriores, por lidar de forma exemplar com um tema à partida difícil e aborrecido. Mas este novo filme supera as expectativas, pela forma como Moore nos consegue explicar os progressos do capitalismo no EUA, que acaba por derrotar a Democracia. Um fulano afirma no filme: "O Capitalismo é tudo. Sinceramente, nem sequer concordo com a Democracia. Há pasíses democráticos que são pobres. Mas o Capitalismo é o regime perfeito." Só mesmo um americano para dizer isto! Moore viaja pelos EUA e vai até Wall Street, onde tenta prender os banqueiros. Fala sobre a crise, sobre a esperança que Obama despertou em todos (apesar de mostrar como os banqueiros, farmacêuticos e outros financiaram a sua campanha, tentando suborná-lo - vamos lá ver se conseguiram ou não...) e volta a usar os países da europa como modelo.












Tenta expor o melhor possível as consequências do capitalismo: famílias enganadas pelos bancos e que são expulsas das suas casas; empresas que fazem seguros de vida aos seus empregados (quando muitas vezes estes nêm os têm) e quando eles morrem, lucram milhões com isso; pilotos de aviões que recebem menos do que empregados do mcdonald's; bancos que controlam o ministério das finanças; trabalhadores que são despedidos quando foram os patrões que investiram mal o dinheiro... Conta-nos como foi usado o dinheiro que o congresso entregou aos bancos durante a crise: em aviões particulares e outros luxos. Nem um centavo para os desempregados. Mas é com esperança que nos mostra como o espírito tacanho dos americanos se vem modificando, e entrevista alguns grevistas que tomaram uma fábrica e se fecharam lá durante dias, para que não fossem despedidos. Fala-nos de uma empresa única em que todos são patrões, todos recebem o mesmo, todos têm uma palavra a dizer sobre os investimentos. "Quase que parece comunismo!" Mas os lucros são divididos por todos, todos prosperam e a empresa, ao contrário de milhares em todo o mundo e nos EUA, não faliu. Por outro lado, lucrou imenso.

















E, claro, Michael Moore brinca com a situação, ou às vezes, comove-nos com as misérias dos outros. E não podemos esquecer de algo que é mencionado quase no final. Antes de morrer, em 1945, o então presidente Franklin Roosevelt tinha intenções de proclamar uma declaração dos direitos humanos em que, entre muitas outras coisas, se nacionalizaria o sistema de saúde e em que o estado teria maior controle da economia. Então, porque é que isso não chegou a concretizar-se? A mensagem de Michael Moore é de que ainda vamos a tempo. E dá o exemplo ao cercar um banco com uma fita em que está escrito: Crime Scene!













Em resumo, foi um fim-de-semana cinéfilo muito bem-passado!

Ontem, vivi um dia aparentemente normal…

De manhã, às 7h, o meu filhote pequeno (implacável) lembrou-me que uma criança de 2 anos não conhece ainda os prazeres de um sono matinal.

Às 9h, liberto das minhas funções parentais, decidi terminar o folheto do Clube de Cinema (CC) escolhendo os melhores textos que possam servir de suporte para as nossas sempre interessantes conversas no final do filme.

Às 11h comecei a preparar as minhas “tralhas” de professor: este ano tenho 7 turmas, algo que me traz a possibilidade de conviver e conhecer mais 150 jovens alunos.

Das 12h às 13h30 tentei explicar aos 24alunos do 8º D as vantagens que existem em conseguir manter um mínimo de silêncio e concentração.

Às 13h31 recebi o telefonema do meu amigo José Pacheco avisando-me que hoje (pela 1ª vez) não poderia estar presente na sessão por motivos relacionados também com as suas funções de pai. Depois empresto-lhe o filme.

Das 13h45 às 14h30 fui almoçar e de seguida fazer as cópias dos folhetos do Clube sempre com a eterna dúvida se vou reproduzir 20? 10? ou 30? consoante os cinéfilos presentes na sessão. Optei por 21.

Às 14h30 fui ver (pela 3ª vez) o documentário “A Marcha dos Pinguins” e ter a boa surpresa de encontrar mais um novo aluno no CC.

Após o filme: a conversa. Afinal este é o momento mais importante do CC. Percebeu-se que a maioria já tinha visto o filme e que numa segunda visão (ou 3ª) identificou aspectos que lhe tinham passado despercebidos. Eu retenho uma cena do filme que me tocou especialmente: aquela em que os pinguins machos (alojando cada um os seus ovos) decidem encostar-se uns aos outros em perfeita SOLIDARIEDADE para assim poderem resistir melhor ao frio. Mesmo aqueles que entretanto terão perdido irremediavelmente o seu ovo. E lembrei-me de agradecer aos alunos que já tendo visto o filme decidiram aparecer na sessão e permitir assim dar continuidade ao lema do NOSSO CLUBE – “Gostos Discutem-se”.


À s 17h30 estive presente numa demorada e acalorada reunião intercalar que se prolongou por duas infindáveis horas.

Às 19h30, depois de receber uma oportuna boleia para Carnaxide, voltei às minhas lides de pai (o meu novo “ovo”) partilhando um inesperado banho com o meu filhote.

Às 21h30, depois do Ricardo começar a dormir decidi ainda encetar uma última viagem até à Biblioteca de Oeiras e esperar que a entrevista que o jornalista Carlos Vaz Marques encetou com o pintor Júlio Pomar terminasse. No final confirmei, finalmente, a sua visita à ESLAV no dia 4 de Novembro para apresentar um filme ainda em fase de escolha.

À meia-noite cheguei a casa contente por ter vivido mais um dia aparentemente normal…
Ah é verdade, já me esquecia.

Na sessão estiveram presentes a Mariana Amor (10º E), o João Mendes (10º E), a Sara Pestana (8º A), a Maria Nunes (12º B), a Mónica Pinheiro (12º F), o André Jorge (11º E), o Andri Korolivskyi (8º C), o Diogo Nogueira (11º C) e o Gustavo Barradas (9º D).

A todos eles, obrigado pela vossa presença.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Balanço do 1º Mês

O nosso amigo cinéfilo João Camacho pergunta-nos sobre os temas escolhidos desde o início do ano lectivo. E eu que tenho andado arredado deste espaço (mas acompanhando tudo o que se escreve por aqui) decidi, também, desta vez, dar a minha contribuição para o blogue.

Depois de um final de ano lectivo em que nos “restaram” tão poucas quartas- feiras para permitir que os membros do Clube de Cinema pudessem bisar as suas propostas, o André Vieira, em 23 de Setembro, apresentou o “Cinema Paraíso” de Giuseppe Tornatore. Como ele referia no folheto “um filme inesquecível”, com uma antológica sequência final de “beijos perdidos” acompanhada de um tema musical (de Ennio Morricone) que nos inspirou, dando início ao Ciclo “Música e Cinema”.




Na semana seguinte, 30 de Setembro, ao adiar uma proposta de passar o filme “O Fabuloso Destino de Amélie”, surge o “Diário de Che Guevara” de Walter Sales apresentado pela minha pessoa. A ligação ao tema do Ciclo era feita através da música de Gustavo Santaolalla

e do bonito tema musical, interpretado por Jorge Drexler, (vem no dia 28 de Outubro ao Cinema S. Jorge) “Al Otro Lado del Rio”.



No mês em que se comemorou o Dia Mundial da Música encerrámos o ciclo em 7 de Outubro com “West Side Story – Amor Sem Barreiras” de Jerome Robbins e Robert Wise. O Guilherme Santos, responsável por esta proposta, referia no folheto: “as elaboradas coreografias, as magníficas músicas de Bernstein e Sondheim como “Maria” ou “Living in America”, a realização soberba, as memoráveis interpretações e o final emocionante são algumas das razões que me levaram a escolher este filme”.



No dia 14 de Outubro iniciámos o Ciclo “Documentários”. O André Jorge apresentou-nos o filme “Sicko” de Michael Moore e revelava-nos ser um documentário “bem constituído do ponto de vista informativo sobre o sistema de saúde norte-americano”.


A conversa que se seguiu a esta projecção irá ficar como uma das mais estimulantes do nosso Clube.

No dia 21 de Outubro voltámos a sair da ESLAV para, desta vez, ir ao “DocLisboa”. Continuando o ciclo, vimos 3 documentários associados aos Ateliês Varan (Paris). No final conversámos com uma das responsáveis dos ateliês e destacámos a intensidade do último filme: "Romani Bakht" de Bielka Mijoin ( ver hiperligação) sobre o dia-a-dia duma família cigana tentando sobreviver nas ruas de Montreuil.

Ah é verdade, voltámos a visitar a “Cinemateca de Lisboa” e prometemos a nós próprios que a próxima saída terá que contemplar este “espaço mágico”…

domingo, 18 de outubro de 2009

AMERICANOS NA EUROPA, EUROPEUS NA AMÉRICA

Na sequência do norte-americaníssimo filme de Michael Moore, gostaria de partilhar convosco uma conversa interessante que tive com o meu «primo da América».

Segundo esse primo - que está sempre de passagem e, portanto, nunca poderia visitar-nos ao clube de cinema, embora gostasse muito -, há dois filmes que insiste em rever e que, devido à sua qualidade de homem educado numa dupla realidade cultural, o comovem sempre: entende-os como filmes que representam, um deles, a visão de um americano sobre a Europa e sobre os europeus; O outro, a visão que, da América e dos americanos, tem um europeu.


O primeiro, é Barry Lindon, de Stanley Kubrick: e, porventura, nessa história sobre um aventureiro irlandês, em que são importantes as peripécias, os sentimentos e as relações mas também os pormenores geográficos, os magníficos verdes e castanhos da paisagem céltica, autêntica pintura, acabamos percebendo mais sobre os próprios americanos do que sobre os europeus, isto é, aprendemos mais, neste caso, sobre quem olha (o que interessa a esse olhar, o que o sensibilizou), do que sobre o objecto olhado.



O segundo é Paris,Texas, de Wim Wenders: e contudo, não só a nível da psicologia, mas da grandeza física que tudo envolve, as estradas longas, como se não tivessem fim, os comboios compridíssimos, que nunca cessam de passar, a extensão a perder de vista dos desertos -, acerca da América do Norte, talvez também aqui aprendamos mais sobre o modo como ela toca e afecta um europeu, do que sobre o que ela realmente é.





Fiquei curioso de tornar a ver estes filmes - que nunca amei especialmente - sob esta perspectiva que nunca me ocorrera. Por outro lado, aqui está mais um exemplo daquilo para que um ciclo pode servir: cruzar diferentes olhares, fazer interagir diversas perspectivas que, fora dessa junção, seriam sempre vistas separada e isoladamente...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

MAIS UM REGRESSO AO BLOGUE


Embora não tivesse desistido de frequentar este blogue
- sustentado, nos últimos tempos, e de forma brilhante aliás, quase em exclusivo pelo Eça -, tenho-o feito principalmente como leitor e, às vezes, como comentador.

Mas senti saudades de postar.

Julguei que esta última sessão do clube de cinema, onde vimos e discutimos o Sicko, de Michael Moore, seria uma excelente oportunidade para um regresso.
Escrevi, portanto, um texto, adicionei imagens e, bolas!, querem crer que me esqueci de o gravar? Perdi tudo! Um texto perfeito! (Essa é, de resto, a única justificação para este meu texto pobre e imperfeitíssimo: trata-se de uma pálida cópia, de memória, do maravilhoso post que desapareceu...)

Para que não haja equívocos (I): estou a ser irónico, hein?

Para que não haja equívocos (II): estou a ser irónico relativamente à perfeição do post primitivo, não em relação à pobreza e imperfeição deste post, hein?

Posto isto, o que quero sublinhar, antes de mais, é que saí dessa sessão de papo cheio. Comentava-o hoje de manhã com o Francisco: há muito tempo que um debate não era tão vibrante e mobilizador, com tantas e tão diversificadas opiniões, ideias, gostos, com tantas histórias narradas a propósito. Teria ficado, com um prazer imenso, mais uma hora, mais um dia, mais uma semana ininterrupta convosco, a discutir e a conversar...

O segundo ponto diz respeito ao próprio filme. Já há muito venho ouvindo falar sobre Moore como se ele mais não fosse do que um genial manipulador, um sofista puro. Ora não vi manipulação nem demagogia. (A não ser pontualmente, bem entendido). Vi, isso sim, uma retórica: Moore tem uma tese, e argumenta. Este documentário falha, se estamos à espera de um filme «objectivo». Isso, de facto, não é: Sicko constrói-se, através das imagens, como um autêntico exercício de argumentação.

Concretamente, da sua argumentação fazem parte a denúncia e a provocação. Como já Sócrates tinha por método, também Moore não precisa de provar o seu ponto de vista: deixa que sejam os adversários a cair em contradição, a afundar-se. Ou seja: não precisa de «montar» um edifício para fundamentar a sua tese: encarrega-se de «desmontar» a tese oposta, ou melhor, provoca os defensores desta, de modo a que eles se desmontem a si mesmos, a que fiquem expostos no ridículo dos seus erros e vulnerabilidades.

Por fim, independentemente do conteúdo, concordemos ou não, gostemos muito ou gostemos pouco, o certo é que Moore se revela um exímio realizador. Quantos mais conseguem pegar num tema e, querendo fazer sobre ele um «documentário», o mantêm permanentemente interessante, sem tempos mortos, sem pausas para bocejar ou para uma soneca rápida, interpelando-nos em cada instante, obrigando-nos a pensar e a reagir, a rir ou a chorar?

Moore joga com uma larga paleta de emoções. Achavam que, para ser sério e mostrar a realidade, não podia fazê-lo? Que o não devia fazer? Acham que é precisamente a isso que se chama «jogar» com as emoções?
Discordo: só um morto poderia ser posto em face do drama da saúde nos EUA sem sentir tudo aquilo com muita intensidade. Sem rir. Ou sem chorar.

Como dizia alguém, isto não é manipulação. Isto é cinema. No seu melhor.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Sicko e o meu regresso ao Blog

Mais um filme. Mais uma discussão. É verdade, o nosso Clube de Cinema só parou (não totalmente porque o Eça nunca deixou este blog morrer) nas férias e este ano já voltou em grande. Ainda nem passou um mês desde o início deste ano lectivo, e já foram projectados na nossa pequenina e modesta sala "Cinema Paradiso", "Os Diários de Che Guevara" e "West Side Story".

Apresentado pelo nosso pseudo-político wannabe (entenda-se André Jorge), o filme de hoje foi "Sicko", de Michael Moore, um fantástico documentário sobre o sistema de saúde norte-americano. Já que querias tanto saber a minha opinião sobre o filme, André, digo-te com toda a sincerade que gostei bastante. Já conhecia Michael Moore de nome mas este foi o primeiro filme do realizador que vi. Podem chamá-lo de gozão, provocador, exagerado, parvo, o que quiserem, mas eu gostei imenso do tipo.

Porque é que gostei do filme? Bom, em primeiro lugar posso começar por dizer que este é um dos meus géneros de filme favoritos. Desde que o tema abordado seja interessante, eu adoro todos os documentários em geral. É claro que estou mais habituado aos documentários do Odisseia ou do Discovery Channel sobre a vida selvagem, a vida marinha, o ambiente. Em geral, prefiro os temas que nada (ou quase nada) têm a ver com os humanos mas sim com a Natureza e o nosso planeta. Seja como for, existem muito outros documentários sobre outros temas interessantíssimos. Infelizmente, a vida não se resume apenas a contemplar as maravilhas da Natureza, a beleza dos seres vivos e da Terra.

Em segundo lugar, porque aborda um grave problema do qual eu já tinha alguma ideia, mas não a esta escala. De facto, é muito mais grave do que eu imaginava. Faz-me confusão como é que pode existir uma situação destas num país tão desenvolvido do ponto de vista económico como os EUA (mais uma prova de que o dinheiro não é tudo). De qualquer forma, tenho total confiança em Barack Obama e acredito que ele ainda vai mudar isso. Vai custar, mas ele há-de conseguir. Em terceiro lugar, porque me faz sentir orgulhoso do meu país. Os portugueses têm o hábito de dizer mal de tudo o que é português. Tudo está mal. Não há nada de positivo. O nosso país é uma merda. Ora se compararmos a situação de Portugal com alguns casos com este, sentimo-nos (pelo menos falo por mim) uns sortudos. Apesar de a maioria dos portugueses ignorantes não o verem, Portugal tem vindo a evoluir muito nos últimos anos e é bastante desenvolvido em inúmeros aspectos em relação a muitos outros países do mundo. E podem ter a certeza que essa evolução não se deu graças às pessoas que passam a vida a dizer mal de tudo, mas sim graças às pessoas com força de vontade que acreditam e que fazem algo por mudar e melhorar. Enfim, não é suposto este post ser um discurso político...
Em quarto e último lugar, resta-me dizer que este filme despertou algo em mim. Ou melhor, intensificou algo que já existia em mim. Na minha família, o historial de médicos é longo. Sempre tive bastantes médicos na família e por isso, desde pequeno que senti um certo fascinío por esta profissão. Hoje apercebi-me a 1oo% do maravilho que é ser médico. Acho que não existe nada mais gratificante na vida de uma pessoa do que poder ajudar os outros a cuidar da sua saúde e ajudar a curá-los quando estão doentes, ajuda-los a ultrapassar e vencer as doenças, a serem felizes. Sim, porque não existe nada mais importante para a felicidade de um ser humano do que a sua saúde.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

FREE ROMAN POLANSKI!!!













FREE ROMAN POLANSKI é o que aparece em várias t-shirts que foram postas à venda na internet, depois do célebre realizador ter sido detido a 26 de Setembro, em Zurique. Várias vozes protestaram quase imediatamente contra a detenção surpresa do cineasta, entre as quais costa gavras, ettore scola, giuseppe tornatore, entre outros grandes vultos da actualidade. Polanski é acusado de ter violado uma rapariga de 13 anos em 1977, na casa de Jack Nicholson. Depois de uma festa em que tinham sido consumidos álcool e drogas, polanski terá tido relações sexuais com a miúda, o que não significa que seja pedófilo ou tarado. Segundo ele, o sexo teve o consentimento de ambos. Entretanto, Polanski admite o crime e a rapariga perdoa-o publicamente, afirmando que o realizador não representa nenhuma ameaça. Então, a que se deve esta prisão idiota? Parece que o departamento policial de LA não desistiu de perseguir o realizador e aproveitou para o prender durante o festival de cinema de Zurique, em que ia ser homenageado com um prémio de carreira.
Apesar de ultimamente não ter feito grandes filmes, há sempre a oportunidade que ele se saia com uma obra-prima e não é na prisão que vai conseguir fazê-la. Por isso, FREE POLANSKI!

É de recordar o terrível incidente do assassinato de Sharon Tate, em 1969, a mulher de Polanski que estava grávida de oito meses e meio na altura (que poderá ou não ter deseiquilibrado mentalmente Polanski, o que eu duvido). Charles Manson e a sua seita de assassinos foram os responsáveis.

















Mas deixemo-nos destes horrores e passemos à carreira deste grande realizador.

Momentos nostálgicos:


Filmografia do realizador -

após ter realizado inúmeras curtas-metragens, Polanski realizou o seu primeiro filme:

Faca na água, 1962 - o primeiro filme do realizador (ainda realizado na Polónia), um drama sexual intenso.

The Beautiful Swindlers, 1964 - após ter realizado o excelente faca na água, Polanski (ainda tão novinho) foi convidado para trabalhar neste filme, juntamente com Godard, Claude Chabrol e outros. Cada um realizou um segmento.

Repulsa, 1965 - o seu primeiro filme inglês e outro drama sexual sobre uma mulher que tem medo de homens e se sente repelida pela figura do macho. Com Catherine Deneuve.





















Cul-deSac, 1966 - outro drama psicológico sobre dois gangsters que, após um roubo falhado, se refugiam num castelo onde vivem um homem louco e a sua luxuriosa mulher.

The Fearless Vampire Killers or: Pardon me, Madam, but your teeth are in my neck, 1967 - Polanski satiriza os filmes de vampiros com esta divertida comédia.




















A Semente do Diabo (Rosemary's Baby), 1968 - outra incursão no domínio do terror. O filme conta a história de uma seita de seguidores de satanás que fazem com o que o diabo engravide a pobre da Mia Farrow. Com John Cassavetes e Ruth Gordon. Talvez o meu filme preferido de Polanski.






















The Tragedy of Macbeth, 1971 - uma adaptação violenta da obra de Shakespeare. Com John Finch e Francesca Annis.

What?, 1973 - um filme que explora os limites do absurdo naquilo a que os críticos chamaram "uma adaptação da Alice no País das Maravilhas", mas em que as situações fantásticas são trocadas por cenas eróticas. Com Marcello Mastroianni.

Chinatown, 1974 - uma ressurreição do film noir. Conta com jack Nicholson, Faye Dunaway e John Huston. Um dos seus melhores filmes.



















O Inquilino, 1976 - drama psicológico fantástico (um género que eu adoro), sobre os habitantes de um prédio que levam o novo inquilino à loucura e ao suícidio. Roman Polanski interepreta o papel do protagonista. O filme conta com a magnífica Shelley Winters.





















Tess, 1979 - uma adaptação da célebre novela de Thomas Hardy, Tess of the d'Ubervilles.

Piratas, 1986 - uma comédia de aventuras sobre os piratas das caríbas que foi um total desastre financeiro. Com Walter Matthau.

Busca Frenética, 1988 - um thriller com Harrison Ford sobre um marido que inadvertidamente troca de malas num aeroporto e no dia seguinte descobre que a sua mulher foi raptada.

Lua de Mel, Lua de Fel, 1992 - um filme sobre as fantasias sexuais e a vida amorosa de dois casais. Com Hugh Grant, Kristin Scott Thomas, Peter Coyote e Emmanuelle Seigner.



















A Morte e a Donzela, 1994 - um filme passado num país sul-americano pós-regime fascista, em que Sigourney Weaver é uma mulher que reencontra Ben Kingsley, um médico apoiante do antigo regime e que a tinha violado na altura.

A Nona Porta, 1999 - já foi visto no clube de cinema. A minha opinião: mais ou menos.

















O Pianista, 2002 - o filme ideal para alguém com uma depressão - suicida-se logo. Para as pessoas normais, um filme deveras aborrecido, que quase nos faz desejar que o Holocausto tivesse sido concretizado. Adrien Brody :)

Oliver Twist, 2005 - outra adaptação da célebre novela de Dickens, mas que pouco ou nada acrescenta às anteriores. Mais vale ver o Oliver! do Carol Reed.

Cinèma Erotique, 2007 - um dos melhores (e mais engraçados) segmentos do filme Chacun son Cinèma (que volto a recomendar). Gostei também dos segmentos do cronenberg, do manoel de oliveira, do ken loach, do nani moretti e do andrei konchalovsky.

2010 - data prevista para a estreia do seu próximo filme, The Ghost, um drama político com Pierce Brosnan. Devido à prisa de Polanski, a produção está actualmente em stand-by.

FREE ROMAN POLANSKI!

sábado, 3 de outubro de 2009

Festival de cinema do Estoril!

Atenção cinéfilos, está quase ai o festival europeo de cinema do Estoril e este ano promete: homenagens ao excentrico David Cronemberg e a Juliette Binoche; David Byrne no Juri; alguns titulos interessantes na mostra oficial, entre os quais Tetro, o ultimo filme de F.F. Coppolla que já prometeu aparecer!
O site oficial:
www.estoril-filmfestival.com/pt/edicao-2009/seccoes