quinta-feira, 15 de outubro de 2009

MAIS UM REGRESSO AO BLOGUE


Embora não tivesse desistido de frequentar este blogue
- sustentado, nos últimos tempos, e de forma brilhante aliás, quase em exclusivo pelo Eça -, tenho-o feito principalmente como leitor e, às vezes, como comentador.

Mas senti saudades de postar.

Julguei que esta última sessão do clube de cinema, onde vimos e discutimos o Sicko, de Michael Moore, seria uma excelente oportunidade para um regresso.
Escrevi, portanto, um texto, adicionei imagens e, bolas!, querem crer que me esqueci de o gravar? Perdi tudo! Um texto perfeito! (Essa é, de resto, a única justificação para este meu texto pobre e imperfeitíssimo: trata-se de uma pálida cópia, de memória, do maravilhoso post que desapareceu...)

Para que não haja equívocos (I): estou a ser irónico, hein?

Para que não haja equívocos (II): estou a ser irónico relativamente à perfeição do post primitivo, não em relação à pobreza e imperfeição deste post, hein?

Posto isto, o que quero sublinhar, antes de mais, é que saí dessa sessão de papo cheio. Comentava-o hoje de manhã com o Francisco: há muito tempo que um debate não era tão vibrante e mobilizador, com tantas e tão diversificadas opiniões, ideias, gostos, com tantas histórias narradas a propósito. Teria ficado, com um prazer imenso, mais uma hora, mais um dia, mais uma semana ininterrupta convosco, a discutir e a conversar...

O segundo ponto diz respeito ao próprio filme. Já há muito venho ouvindo falar sobre Moore como se ele mais não fosse do que um genial manipulador, um sofista puro. Ora não vi manipulação nem demagogia. (A não ser pontualmente, bem entendido). Vi, isso sim, uma retórica: Moore tem uma tese, e argumenta. Este documentário falha, se estamos à espera de um filme «objectivo». Isso, de facto, não é: Sicko constrói-se, através das imagens, como um autêntico exercício de argumentação.

Concretamente, da sua argumentação fazem parte a denúncia e a provocação. Como já Sócrates tinha por método, também Moore não precisa de provar o seu ponto de vista: deixa que sejam os adversários a cair em contradição, a afundar-se. Ou seja: não precisa de «montar» um edifício para fundamentar a sua tese: encarrega-se de «desmontar» a tese oposta, ou melhor, provoca os defensores desta, de modo a que eles se desmontem a si mesmos, a que fiquem expostos no ridículo dos seus erros e vulnerabilidades.

Por fim, independentemente do conteúdo, concordemos ou não, gostemos muito ou gostemos pouco, o certo é que Moore se revela um exímio realizador. Quantos mais conseguem pegar num tema e, querendo fazer sobre ele um «documentário», o mantêm permanentemente interessante, sem tempos mortos, sem pausas para bocejar ou para uma soneca rápida, interpelando-nos em cada instante, obrigando-nos a pensar e a reagir, a rir ou a chorar?

Moore joga com uma larga paleta de emoções. Achavam que, para ser sério e mostrar a realidade, não podia fazê-lo? Que o não devia fazer? Acham que é precisamente a isso que se chama «jogar» com as emoções?
Discordo: só um morto poderia ser posto em face do drama da saúde nos EUA sem sentir tudo aquilo com muita intensidade. Sem rir. Ou sem chorar.

Como dizia alguém, isto não é manipulação. Isto é cinema. No seu melhor.

5 comentários:

  1. É de facto muito bom eu ter a oportunidade de estar integrado neste fabuloso grupo de pessoas que se interessa em ver e em discutir cinema. É também muito bom aquele momento depois dos filmes em que discutimos e partilhamos opiniões. No entanto, tudo isto seria muito MELHOR se não decorresse numa sala com pouca ou nenhuma circulação de ar e que em poucos minutos se torna numa autêntica sauna. Também seria muito melhor podermos falar uns com os outros sentados em cadeiras que não me dessem cabo das costas.

    Como este é o nosso único e melhor espaço na escola, eu proponho uma angariação de fundos para melhorar o nosso espaço. Sugiro por exemplo vendermos todos os DVD's do João Sacramento no eBay. Bom, talvez isso seja demais. Com esse dinheiro quase que poderíamos abrir um pequeno cinema dentro da escola. Alguém tem alguma sugestão?

    ResponderEliminar
  2. Estou a pensar. Este comentário ao seu comentário não vem adiantar muito, serve só para que saiba que a ideia não caiu em saco roto. Por mim, estou a pensar no assunto...

    ResponderEliminar
  3. Bem, estou a ver que já ando a perder algumas coisas interessantes! Adorava ter participado na discussão, até porque já vi este documentário duas vezes e além disso cai muito bem vê-lo actualmente, com todas as manifestaçoes dos conservadores contra o Obama e a sua ideia de estabelecer um sistema de saúde publico. Os tipos (os conservadores) aparecem à frente da Casa Branca com imagens do Obama com a boina do Che Guevara ou com o bigode de Hitler e se lhes preguntamos porque é que eles estão a fazer aquilo, não sabem responder e dizem que têm que lutar porque o governo está a gastar muito dinheiro e não adianta porque eles conseguem sustentar-se com o sistema assim. Pois claro, os mais ricos perdem algumas regalias se isto for em frente, mas não será de um certo egoismo impedir o processo?
    Pedi a uma senhora que estava numa manifestação dessas para me explicar o propósito de tudo aquilo. A resposta dela (e de todos os outros a quem já tinha preguntado antes) foi: O estado está a gastar muito dinheiro, nós podemos tratar de nós próprios. A questão é que esse pequeno grupo onde só estavam pessoas acima dos 50 e todos brancos de raça, esquecem-se que nos E.U.A. há uma maioria que precisa de alguma assistencia.
    Quanto ao filme, ainda não sei quanta credibilidade posso por nos documentários, acredito sempre em tudo a 50%, um pouco na defensiva. Acho que está extremamente bem feito, consegue afectar-nos a alma e os sentimentos e faz-nos pensar que os "Estates" não são assim tão poderosos em certas coisas. Aquilo tem muitas falhas, a maior delas é o excessivo patriotismo que faz com que eles dêem ideia de que são os maiores. Maiores, só em peso.

    ResponderEliminar
  4. Gostei muito de ver o Sicko(nunca o tinha visto) e acho que mais que em outro filme do Micheal Moore(que realmente tem uma estranha parecença com o Peter Griffin...) destaca todas as suas qualidade não só enquanto instigador da mudança social mas também como cineasta. A maneira como ele conjuga os relatos devastadores de viúvas, mães que perderam os filhos com os excertos das infâmes cassetes de Watergate ao mesmo tempo que alerta para o perigo do sistema de saúde americano é fenomenal. São poucos os filmes que oferecem tanta variedade de reacções emocionais como os de Micheal Moore. Concordo com o professor quando diz que não há espaço senão em casos pontuais para a demagogia nos filmes de Micheal Moore: existe apenas a verdade crua e entristecedora apresentada pelo olhar de Moore que consegue ser brutal e ingénuo ao mesmo tempo.

    ResponderEliminar