terça-feira, 9 de março de 2010

Óscares 2010 ou A Vingança da Ex-Mulher

Uma cerimónia de óscares repleta de surpresas? Ao contrário do que se possa pensar, não. Embora eu mesmo acalentasse receios de que o Avatar saísse dali com tudo e mais alguma coisa, a vitória de The Hurt Locker não foi algo assim de tão surpreendente. Passada a "felicidade" (felicidade não tanto pela sua vitória mas mais pela derrota de James Cameron) as razões para este twist inesperado são até bastante racionais. Um dos textos que mais me elucidou foi um que Luís Miguel Oliveira escreveu para o Público e que aconselho a todos que leiam. Chama-se "A Consagração de uma Cineasta, Ponto." E está tudo dito. Toda aquela conversa feminista sobre a primeira mulher a receber um óscar não passa de (e perdoem-me o americanismo, mas até vem em altura apropriada) "bullshit". Se há hoje em dia mulher que faça filmes de homens melhor que os próprios homens, essa mulher é Kathryn Bigelow. Nada na sua obra nos dá a entender um traço feminino. Não no sentido de um cinema como o de Agnès Varda, Marguerite Duras, Jane Campion ou até mesmo Barbra Streisand (que (só???) por acaso entregou o prémio de melhor filme a Bigelow murmurando: "Our time has come!") Portanto, toda a questão de que as mulheres são finalmente reconhecidas no cinema é uma grande balela que Hollywood nos quer enfiar. Agora a questão. Porque não Avatar? Muito simples. Dos seis mil membros da Academia, a larga maioria são actores. Ora, fosse eu um actor, iria escolher um filme que quase me dispensa e que assinala o início de uma era digital que assassina friamente a representação? (representação na verdadeira acepção da palavra, não representação como uma sucessão de imagens manipuladas por computador nas quais se pode prolongar um sorriso ou um fechar de olhos). Eu não o faria. Eu teria medo, mesmo muito medo (e sim, isto parece um slogan de um filme de terror, mas o desemprego amedronta mais que um psicopata como o Norman Bates, referido pelo JC no post anterior). Por isso Avatar perdeu. E, já que mais cedo ou mais tarde uma mulher havia de ganhar (e lembremo-nos que em 1909 já Selma Lagerlöf recebia o prémio nobel da literatura, ou seja, os óscares estão cerca de cem anos atrasados no que toca à emancipação feminina na cultura) então que vencesse uma que faz cinema de homem. Bem ou mal, não sei. Espero ver o filme no próximo fim-de-semana mas até lá mais não poderei dizer.
Quanto ao resto da cerimónia... enfim... Bah! Tal como eu previra O Laço Branco (o melhor filme do ano na minha humilde opinião) não recebeu óscar por ser a preto e branco (e ganhou um filme argentino de que ninguém ouvira falar ainda!!!); o Tarantino foi para ali fazer figura de idiota; o Jason Reitman (tipo no mínimo criativo, original e com um sentido de humor fresco) saiu sem nada; na animação, voltou a ganhar o mais comercial (UP - filme excelente, sem dúvida, mas - e atenção - nomeado entre outros quatro filmes excelentes!); Randy Newman perdeu na categoria da canção (as canções da Princesa e do Sapo eram belíssimas); a fotografia foi injustamente vencida pelo Avatar (que de resto mereceu os outros dois prémios - efeitos especiais e direcção artística); o guarda-roupa vai, como já é hábito, para um qualquer drama histórico sem nenhum interesse especial; e o melhor documentário foi para aquela idiotice pegada dos golfinhos japoneses (como se alguém se interessasse por animais de plástico...). Quanto às categorias dos actores, não houve surpresas. Christopher Plummer (que eu considero um dos 3 ou 4 melhores actores VIVOS no mundo do cinema, continua sem ganhar nada - não que Christoph Waltz não tivesse um bom papel, mas enfim...); Sandra Bullock é uma actriz simpática que eu gosto em filmes como Miss Detective mas que não tem o estofo para desempenhos dramáticos; Jeff Bridges ganhou, finalmente! (num filme que dificilmente será o ponto alto da sua carreira - não esqueçamos o The Last Picture Show, do Peter Bogdanovich (um filme que não me importaria nada de apresentar); e a Mo'Nique (entre ela e uma tipa espanhola que nem sabe falar inglês e que já ganhou um óscar sabe-se lá como, mais vale esta rapariga saída dos guetos do Harlem mas que, ao que consta, pelo menos domina a língua em que fala).
Enfim, surpresas? Não me parece. Uma cerimónia muito fraca (momentos altos: Ben Stiller mascarado de Na'Vi - by the way, o Sacha Baron Cohen também foi convidado para gozar Avatar, mas ao que parece o seu discurso era tão "forte" que foi (des)convidado - e Steve Martin gritando a Hans Landa: "You've been looking for Jews all your life... here I am!!!), em que as personalidades que receberam óscares especiais se levantaram durante dois segundos (para abreviar a cerimónia - sim!, e depois põe um bando de actores a elogiar os nomeados com discursos que não cabem em ninguém durante dez ou quinze minutos) e uma homenagem a filmes de terror (aliás, a Academia sempre premiou muitos filmes de terror... nota-se pelo número exorbitante de óscares que o Carpenter recebeu) na qual nem apareceu o Christopher Lee num dos seus papéis como Drácula (ele e Boris Karloff são a bíblia dos actores de terror).
Enfim... são os óscares... de que é que estávamos à espera?













Post-Scriptum - pelo menos não ganhou nenhum filme sobre as favelas indianas com miúdos malcheirosos a aldrabarem concursos de televisão...

3 comentários:

  1. Então, o Christopher Waltz sempre recebeu o Óscar. Sinceramente, desejei que isso acontecesse - e o Eça, muito céptico relativamente à instituição, garantia-me, na altura, que difilmente tal poderia ocorrer. Não se tratava de uma profecia minha, mas da expressão sincero de um desejo. Waltz foi absolutamente brilhante Sem Sacanas sem Lei. Mudando de assunto, Eça: muitos parabéns!

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  2. Já não me lembro quem foi que disse (Marlon Brando ou George C. Scott) que "os oscars não eram nada mais que um festival de carne". Por tanto existe discenção, mesmo no seio de Hollywood, desde á já algum tempo. Não é nada de novo. Citações mediaticas á parte, a cerimonia é, ao fim e ao cabo, um festival composto por um juri com os seus próprios gostos, que a imprensa consegue mediatizar com objectivos que não passam exclusivamente pelo mérito artistico. Ainda assim, de quando em vez lá vão coincidindo com as nossas preferências (que já percebi, é o caso para vocês com o Christopher Waltz). Mas sem grandes preocupações. A grande mediatização do publico por vezes tem efeitos retroactivos que contrariam aquilo que consideramos as injustiças da academia. João, achas que seria necessário um oscar para reconhecer as contribuições de Christopher Lee ou Max Schrek nas suas interpretações do vampiro imortal? Eu não.

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