domingo, 16 de maio de 2010

HUMPDAY

Hoje, ou melhor ontem, sábado, que já passa da medianoche, fui ao cinema. Ver o quê? Entre um pretensioso Robin Hood que pretende desmistificar o herói e substituir o fantástico Errol Flynn pelo mentecapto do Russel Crowe, transformando um filme de aventuras filmado em esplendoroso technicolor, numa mistela cinzenta e deprimente de sangue, porrada e efeitos slow motion; um Iron Man 2 que nos desilude por investir onde o primeiro mal tocara: cenas intermináveis de acção e mais acção e... (adivinhem!) ainda mais acção; uma versão travesti do retrato de Dorian Gray; uma Religiosa Portuguesa desancada pelos críticos; o lamechas e piroso The Blind Side; a comédia para atrasados mentais Date Night; e muitos outros filmes que estrearam nas nossas salas de cinema, decidi ir ver HUMPDAY.










HUMPDAY passou por muitos festivais internacionais, foi bem-recebido em todo o mundo e, sendo um filme independente e tratando um tema delicado, despertou a minha curiosidade. A história é simples: dois melhores amigos, um aventureiro semi-nómada que não acabou o curso e que leva uma vida libertina pelo mundo fora e um outro casado, sedentário e que pensa já em ter filhos, decidem fazer um filme pornográfico. A originalidade e o arrojo da coisa: serem dois heterossexuais a praticarem sexo homossexual. O filme deveria depois estrear num festival amador de pornografia... Não contarei o final do filme, pois isso estragará o seu interesse. No entanto, não posso deixar de mencionar o filme de Paul Mazursky: Bob and Carol and Ted and Alice (1969 - ou seja, feito há quarenta anos atrás), do qual HUMPDAY bebe muito.












Li a crítica publicada no Público de Vasco Câmara no qual ele compara o filme às obras de Rohmer e de Cassavetes, mas achei curioso que não nunca se mencionasse Mazursky. Para quem conhece o fantástico e arrojado Bob and..., só posso dizer que HUMPDAY é quase que uma nova adaptação, apesar de "menos corajosa" (também a verdade é que já passaram quarenta anos desde o filme de Mazursky, e a importância social de um filme destes hoje em dia é quase nula, ao contrário do que FOI nos anos 60). HUMPDAY é um filme muito bonito, e não me refiro ao facto de apesar do orçamento baixo (se é que havia orçamento!) conseguir uma fotografia esplendorosa em certos momentos, mas sim à forma como penetra na intimidade sentimental das personagens, com grandes close-ups e muitos zooms e movimentos de câmara que seguem os diálogos com grande intensidade. O argumento é de qualidade, os actores suficientemente convincentes. Vasco Câmara diz que logo no início do filme se percebe que não é mais uma "comédia javarda". Claro que não. Mas também não é um Bob and... É algo que fica no meio, mas que vale a pena ver, nem que seja pela simples celebração do que se consegue fazer com pouco dinheiro e muita imaginação (não, não precisamos de tubarões de borracha nem de dinossauros feito a computador para termos cinema...). O título em português do filme é HUMPDAY - Deu para o torto. Deu para o torto? Por outro lado: deu até muito bem...

1 comentário:

  1. Ainda não vi, mas fiquei com vontade disso, até porque também tenho andado com alguma dificuldade em escolher o que ver. De tal forma que noutro dia acabei por ir ver um filme muito interessante, que talvez já tenham visto, mas que no fundo é um conjunto de pequenos filmes romenos que reproduzem algumas histórias veridicas bastante irreais daqueles que viveram na altura do regime de Ceausescu. Muito bem feito e, acima de tudo, muito engraçado, na minha opinião. Histórias da Idade de Ouro, recomendo.

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