terça-feira, 29 de março de 2011

23.ª Sessão do CC de 2010/2011

Quarta-feira no Anfiteatro
30 de Março de 2011
às 14h00


A Cor do Dinheiro

de Martin Scorsese


apresentado pelo

Prof. Jorge Marrão

Jogo, Poder, Manipulação
A Cor do Dinheiro não sendo o filme da minha vida, é um dos filmes que vi na altura e hoje ainda revejo com agrado, apreciando sobretudo a força da imagem e da mensagem de índole realista, cuja acção retrata um dos submundos que habitam o homem: o jogo.
A temática e o actor Paul Newman já são repetentes uma vez que, em 1961, em A Vida é um Jogo, Newman interpreta “Fast Eddie” um exímio jogador. De recuo em recuo no tempo, devo confessar que o jogo como representação sempre me interessou na realidade. Tive a sorte de ler cedo, na minha juventude, O Jogador (1867), do escritor russo Dostoievski e o encanto, não pelo jogo, mas do jogo de poder e manipulação seduziu-me, melhor, continua a seduzir-me, não como prática pessoal, mas como análise de comportamentos.

O ex-campeão, Eddie, não fica indiferente às faculdades de um jovem (Vince) que se diverte num bar. Essa observação permite a Eddie, entretanto retirado da alta-roda, entregue à exploração de um bar e à prática de contrabando de bebidas, restabelecer o elo da sua vida: jogar e ganhar, sentir a hora da vitória, a textura das notas, e do reconhecimento de multidões que se apaixonam pelos que ganham sem compaixão pelos que perdem, porque também queriam ganhar. No jogo como na vida não há empates: perde-se ganha-se, vive-se morre-se.
A lição do veterano jogador não é gratuita. Para ele nada é de borla. Tudo tem um preço e sabor. Ganhar é qualquer coisa de extraordinário que ultrapassa a rotina normal das vidas humanas. Afinal Vince, jovem enamorado por Carmen, de vida rotineira, empregado de armazém, é da época dos simuladores. Não se imaginaria no jogo de mesa como modo de vida. Eddie, o mentor, não se imagina a perder no jogo, nem a perder o seu estatuto, por isso quer que germine uma espécie de semente futura. Porém perder propositadamente não se enquadra na ingenuidade de Vince. Encaixa mais na ligeireza e lascívia de Cármen. Esta parece entender muito mais rapidamente as lições da velha raposa dos salões da costa Leste. Por isso ela é uma personagem que une e desune professor e pupilo.

Vince aprende depressa, joga e vence. Por ciúme, talvez, a aliança desfaz-se. O sangue novo obriga praticamente a desafiar o sangue velho e Eddie, recuperada a visão, volta ao jogo no grande palco de Atlantic City, e o professor, após desaires, chega à conclusão que é melhor retirarmo-nos do que perder o prestígio perante aqueles que nos aclamam. É uma lição, se alguma há no filme. Por acaso até tenho a ideia de que o filme é mesmo amoral, isto é, nada é mobilizado a favor ou contra este ou aquele princípio, porque se pensarmos bem quando há muito dinheiro, poder e manipulação em jogo a moralidade é uma couve que, breve, será comida por uma vaca, um burro… tal como o dinheiro que se ganha é mais facilmente esbanjado do que aquele que se recebe por trabalho.

A Cor do Dinheiro é uma narrativa forte, com excelentes planos. Goste-se ou não, também é, afinal, a consagração de um actor que recebeu tardiamente o reconhecimento da academia e a ascensão de outro, Tom Cruise, que este sim sente verdadeiramente a cor da fortuna.

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