quarta-feira, 2 de março de 2011

O que dizer de Esplendor na Relva?

A partir de agora decidimos publicar os textos dos vários filmes apresentados (com a autorização dos autores). Desta forma tencionamos dar continuidade ao debate que se inicia no final de cada sessão e que pode neste espaço ter outras intervenções.

Ode: Intimations of Immortality
“Though nothing can bring back the hour
of splendour in the grass,
of glory in the flower,
we will grieve not,
rather find strength in what remains behind."
William Wordsworth


"Tão pouco se pode falar de um filme que só se deve contemplar, de um filme que é um dos mais belos jamais feitos.

Da extraordinária perfeição da realização de Kazan, ao cuidado exacto de cada plano, à densidade comovente das interpretações de Natalie e Warren, ao dramatismo arrebatador do argumento de Inge, ao uso simbólico dos elementos naturais e físicos como caracterizadores da acção, à própria identificação pessoal que sentimos com aquelas personagens presas na sua sociedade repressiva, à magnífica fotografia e à música que o compõem, até às origens literárias do filme e àquelas que originou, tudo se conjuga em Esplendor na Relva, criando um dos mais importantes filmes de sempre, lírico, marcante de uma geração, intemporal, inimitável. E o que é Esplendor na Relva? Tudo e nada. Uma história de repressão sexual?, de um relacionamento impossível?, da própria tragicidade do amor? Haverá nas entrelinhas uma pontada de crítica à sociedade norte-americana, desprovida de afectos e de amor? Há isto tudo e, ao mesmo tempo, nada disto.

Afinal, o que importa definir o indefinível, quando o que importa é ver? Ver e aprender que encontraremos a força no que ficou para trás…"
João de Almeida d’Eça (12.º F)






Esplendor na Relva

Eu sei que Deanie Loomis não existe
mas entre as mais essa mulher caminha
e a sua evolução segue uma linha
que à imaginação pura resiste

A vida passa e em passar consiste
e embora eu não tenha a que tinha
ao começar há pouco esta minha
evocação de Deanie quem desiste

na flor que dentro em breve há-de murchar?
(e aquele que no auge a não olhar
que saiba que passou e que jamais

lhe será dado a ver o que ela era)
Mas em Deanie prossegue a primavera
e vejo que caminha entre as mais
Ruy Belo

5 comentários:

  1. O belíssimo poema de Wordsworth é uma das chaves deste filme: o esplendor do melhor que vivemos passou, perdemo-lo - mas há que encontrar precisamente aí a força para a relação, mais pálida e frágil, com o que sobrou. Não vale a pena falar mais do filme - e sobre aquilo de que se não pode falar, como lembra Wittgenstein, façamos silêncio. Só quero acrescentar que o texto do Eça, que mostra o poema de Wordsorth e mais um poema de Ruy Belo - que remete para Wordsorth e para o filme - constituem o enquadramento perfeito de Esplendor na Relva. Não esquecer que houve um documentário de mão cheia: Menina dos Olhos Cheios, a curta do Eça. Não terá sido uma sessão perfeita?

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  2. Mão cheia, olhos cheios, ora bolas! Menina dos Olhos Tristes, era o que eu queria dizer, é claro. Parabéns ao Eça. E ao operador Sacramento. E já conhecia o João (do outro filme), mas não conhecia a Beatriz, que é uma actriz e tanto. Ah! também gostei de ver a breve mas luminosa aparição de Richard Gere, a quem um carcereiro fascista chamou «velho»! velho, o tanas!

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  3. ahahah, muito obrigado professor, parabéns para si também pelo seu pequeno (grande) papel e, mais uma vez, obrigado por ter aceite o convite. também gostei muito da sessão que, apesar de ter pouca gente (a segunda parte, pelo menos) originou uma discussão muito interessante (como seria bom que acontecesse em todas as sessões)

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  4. Espero que haja mais destas sessões (de preferencia que eu consiga estar presente, nem que seja para o ano que vem ou quando despachar alguns exames eheh). Tenho acompanhado o que se tem andado a passar, aqui pelo blog, e já é muito bom ter pelo menos os tais textos que se vão escrevendo. Já agora: Quando há uma segunda mostra da curta Eça?

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  5. Olá Beatriz!
    Se tudo correr bem haverá pelo menos mais uma exibição da curta do Eça no 2º Festival de Curtas Metragens em Maio
    Pode ser que nessa altura possas passar por cá... É que já temos saudades tuas e dos teus comentários cinéfilos...

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