Posso ser franco? Obrigado. A mim faz-me certa comichão que haja quem tenha preconceitos, os assuma quase orgulhosamente e neles persista com alguma teimosia.
A maior parte dos meus preconceitos é-me invisível, quer dizer: só os mantenho porque os não detecto, porque os não considero preconceitos. No momento em que fico só, frente a frente com um preconceito, e o detecto como tal, faço algo. Luto. Esforço-me contra ele. Procuro percebê-lo, estudá-lo, e inicio o trabalho do seu desmantelamento. Sim, sei que estão a pensar: «Irra! O gajo tem a mania que é bom!». Acontece que não é uma mania.
O preconceito em relação ao cinema português é particularmente absurdo. Porque, em seu nome, diminuímos a cultura portuguesa. Pode até ser que não existam muitos filmes portugueses de qualidade: mas esse défice de qualidade deve-se a quê? Entre outras coisas, a insuficiência de público. A uma proverbial insuficiência de público. Se estamos do lado dos que fogem ao cinema luso, estamos a pactuar com as condições que o impedem de crescer, de evoluir, de amadurecer.
Para além disto, há cinema português de grande qualidade. Ao desviarmo-nos sistematicamente do seu caminho, estamos a privar-nos da descoberta. Da capacidade de encontros memoráveis. Estamos a afunilar a possibilidade de gozar, na nossa própria língua, filmes que falam de nós, da nossa vida, de situações e personagens familiares. Não inglesas nem norte-americanas, mas portuguesas...
Quando o clube de cinema da escola, que adoramos, traz aqui, a esta casa, um realizador português no mínimo interessante, e nos escondemos atrás do nosso preconceito para não nos darmos sequer ao trabalho de vir ver com os próprios olhos, estamos a dar espaço à nossa ignorância. Quando o resultado é Manuel Mozos alterar a programação da sua vida para visitar-nos, e deparar com uma sala mais para o vazio do que para o cheio, fico triste. Não indignado, mas muito triste.
CINEMA: O PODER DO CÃO
Há 2 anos
de facto foi triste ver o clube de cinema tão vazio numa sessão tão interessante. pois apesar de o cc já ter recebido pessoas ligadas à sétima arte, como o pedro mexia e o jorge leitão ramos, nunca tínhamos tido entre nós a presença de um realizador, e, sendo mais específico, de um bom realizador. neste caso, manuel mozos, que, tendo ainda uma diminuta filmografia no campo da ficção, já obteve uma certa consagração na sua área, sobretudo com o seu primeiro filme, xavier. infelizmente, não consegui ir hoje à cinemateca ver este filme, que iria ser exibido com a participação do realizador, mas tive muita pena, pois 4 copas aqueceu em mim o desejo de conhecer os outros filmes do cineasta.
ResponderEliminarem relação à questão do preconceito,sempre foi assim e sempre será. e se já é mau que alguém afirme orgulhosamente que não gosta de filmes franceses ou italianos, ou mudos ou a preto e branco, é particularmente perturbante quando esse preconceito afecta a nossa própria cultura e o nosso cinema português. não que a nossa indústria seja grande coisa (fazemos qualquer coisa como 12 filmes por ano) mas, para um país tão pequeno, nem nos podemos queixar muito... afinal, somos a pátria de camões e pessoa, é certo, mas também de manoel de oliveira, de joão césar monteiro, de paulo rocha, fernando lopes, manuel guimarães, leitão de barros, antónio da cunha teles, alberto seixas santos, henrique campos, pedro costa, antónio pedro vasconcelos, joão canijo, joão botelho, joão pedro rodrigues e, claro, manuel mozos, entre tantos outros...
ResponderEliminare esperemos que a manuel mozos se sigam outros e outros e outros...