domingo, 17 de maio de 2009

STALKER

Revisitando a minha memória em busca de filmes que vi e que, de algum modo, valesse a pena referir aos meus amigos cinéfilos, sob o signo do invulgar e do quase desconhecido, lembrei-me de um dia em que, sozinho, profundamente ferido por causa de um amor sem possibilidades, não correspondido, decidi entrar numa das salas do saudoso Cinema Quarteto para afogar, em cinema, as minhas mágoas, como outros afogariam as suas em álcool.

E tenho presente no espírito, com uma força brutal, muito maior que a da tristeza desse amor que dali a um mês já não recordaria, as imagens estranhas e sombrias de um inesperado filme russo.

Sim, o meu estado de espírito não seria o mais indicado para uma história construída com tamanhas densidade e angústia: o tempo estendia-se, ali, de um modo a que o cinema norte-americano me não habituara. Cada pormenor era demoradamente mostrado, deixado ao olhar, num simbolismo inabitual de que, num primeiro momento, apanhado de surpresa, talvez nem tivesse gostado.

Era a adaptação de um romance dos irmãos Strugatsky, acerca de um Stalker, um «espreitador», ou seja, um dos poucos que ousavam, clandestinamente, visitar (e guiar pessoas) a uma zona proibida, misteriosa, carregada de poderes, porventura visitada por seres extra-terrestres, que a marcavam de sinais e objectos perturbadores...

Acabava de descobrir o cinema de Andrei Tarkovsky.

Terminara um amor. Mas começava a viver um novo amor.



sábado, 16 de maio de 2009

Os meus três filmes favoritos

No outro dia, o João Sacramento perguntava-me quais os realizadores que eu admirava - realizadores esses do passado, que eu dizia deixarem a sua marca nas suas obras (ao contrário do que se sucede hoje em dia). Tal pergunta fez-me enumerar uma série de nomes esquisitos, que muita gente poderá não ter entendido. E como uma imagem vale mais que mil palavras, deixo-vos três vídeos dos meus três filmes favoritos - que conseguirão explicar o que era o cinema antigo muito melhor do que eu alguma vez conseguirei.

FALSTAFF, ORSON WELLES




IVAN, O TERRÍVEL, SERGEI EISENSTEIN




O EXPRESSO DE XANGAI, JOSEF VON STERNBERG

Festival International du Film




Já começou.




13 a 24 de Maio.



Acto III, cena I - Segurando o "Crânio"

"Eu mesmo sou indiferentemente honesto e, no entanto, podia acusar-me de tais coisas que era melhor minha mãe não me ter parido. Sou muito orgulhoso, vingativo, ambicioso, com mais ofensas à perna do que noções para entretê-las, imaginação que lhes dê forma, ou tempo para as pôr em practica. porque hão-de criaturas como eu arrastar-se entre o céu e a terra?"
"Somos todos pessoas incertas, não acredites em nenhum de nós"


"Ah, que nobre espírito foi aqui derrubado!"
"Ah, que dor a minha, a de ter visto o que vi, a de ver o que vejo".

quinta-feira, 14 de maio de 2009

De tudo e de nada

Como o título deste texto indica, não vou falar de nenhum tema em particular, apenas de pontos de vista que me foram suscitados pela leitura de alguns textos ultimamente publicados.
Em primeiro: achei o vídeo do professor José absolutamente hilariante. Ri-me muito mais do que quando tive o desprazer de rever, há meia dúzia de dias, o Sentido da Vida dos Monty Python, por exemplo. Queria aproveitar para dizer que achei lamentável que algumas pessoas, na quarta-feira passada, optassem por, impetuosa e obstinadamente, procurar o máximo de defeitos na Dama de Xangai, tentando "destruir" a minha apresentação. Os pormenores das lutas são completamente irrisórios (e provavelmente nem foi Welles que os realizou). Mas pronto, já estava à espera disso.
Em segundo (e só para criar uma discussão amigável): não concordo com o professor José quando ele afirma que o DiCaprio se tornou um "canastrão". Por outro lado, considero que ele é um dos melhores actores de cinema das últimas duas décadas. É um actor muito expressivo e com uma forte presença, mas sem ser teatral. E parece-me que o seu trabalho é ainda mais relevante se tivermos em conta os actores seus contemporâneos - Tom Cruise, Nicolas Cage, Keanu Reeves, Jim Carrey, Scarlett Johansson, entre tantos outros TAF's (tentativas de aborto falhadas). O seu maior problema (de DiCaprio, isto é) é a qualidade dos papéis que lhe são oferecidos (e isto acontece a excelentes actores desde os primórdios do cinema). Não tendo visto What's Eating Gilbert Grape? (que gostaria bastante de ver - sem ser em edição pirata, Sacramento!), o único filme de que me consigo lembrar que seja de facto "bom" (o que é que quer que seja que esta palavra significa) é o recente Revolutionary Road, de Sam Mendes - para mim, e sempre para mim, é claro, o melhor filme do ano, juntamente com Gran Torino, de Clint Eastwood. Os restantes filmes são muito fraquitos... (principalmente o Departed!)
Em terceiro: já por três vezes que escrevi textos aqui no blogg e estes foram apagados pelo senhor André Vieria, porque os considerava "estúpidos". Partindo do ponto de vista de que os gostos de facto se discutem, então que autoridade teve ele para os apagar? O que ele acha estúpido, não podem a Beatriz ou o Guilherme (escolhas aleatórias) achar muito inteligente? Para além disso, apagou os textos sem consultar os outros administradores. E isso leva-nos a outra questão: porque é que ele foi nomeado administrador e o resto do clube de cinema não? Ainda por cima tem vindo a exercer as suas funções muito pouco exemplarmente. A verdade é que fiquei muito chateado por ter perdido pelo menos dois dos textos, que considerava cómicos e que ajudavam a reforçar o tema do humor (que tanto alvo tem tido aqui no blogg). Parece-me que algo de prático deveria ser feito a este respeito. Agora, sempre que escrevo um texto, tenho o zelo de o guardar antes de publicar, o que não me parece que seja o espírito desta comunicação virtual entre os membros do clube de cinema.
Em quarto: e só para desanuviar desta última crítica chata e enfadonha para o leitor, mostro aqui uma das minhas cenas favoritas da história do cinema. E quando eu digo "minhas favoritas" não devem confundir com aquelas que eu considero "melhores" (o gosto pessoal e o cânone cinematográfico são duas coisa muito opostas - e eu concordo com a existência de um cânone, desde que seja eu a instaurá-lo, é claro!!!). Este excerto pertence ao Assalto À Décima Terceira Esquadra, do mestre do terror e do suspense - JOHN CARPENTER... (e também é uma cena de humor!)

ICE CREAM SCENE (TOMA LÁ QUE JÁ LEVASTE!)





Já que estamos numa de cenas incríveis...



...não podia deixar de pôr aqui Ed Wood. Considerado um dos piores realizadores de sempre, este senhor fez-me rir como já não acontecia há muito tempo. Sem dúvida que agora quero ver um filme inteiro dele e já agora o filme que o Tim Burton fez sobre o senhor.


Era só para partilhar estas coisas que de tão más, tão más, se tornam deliciosas.

UMA LUTA DELICIOSA

A propósito da Dama de Xangai, falou-se também ontem muito acerca da pouca credibilidade das pancadarias.

Com a devida vénia à tia de Johnny Darko, grande amiga minha que, se mais não tivesse feito, seria já uma autêntica amiga por me ter mostrado este pedaço de luta, proponho-me aqui partilhá-lo convosco: isto sim, que chega a ser bom, de tão mau!