Revisitando a minha memória em busca de filmes que vi e que, de algum modo, valesse a pena referir aos meus amigos cinéfilos, sob o signo do invulgar e do quase desconhecido, lembrei-me de um dia em que, sozinho, profundamente ferido por causa de um amor sem possibilidades, não correspondido, decidi entrar numa das salas do saudoso Cinema Quarteto para afogar, em cinema, as minhas mágoas, como outros afogariam as suas em álcool.
E tenho presente no espírito, com uma força brutal, muito maior que a da tristeza desse amor que dali a um mês já não recordaria, as imagens estranhas e sombrias de um inesperado filme russo.
Sim, o meu estado de espírito não seria o mais indicado para uma história construída com tamanhas densidade e angústia: o tempo estendia-se, ali, de um modo a que o cinema norte-americano me não habituara. Cada pormenor era demoradamente mostrado, deixado ao olhar, num simbolismo inabitual de que, num primeiro momento, apanhado de surpresa, talvez nem tivesse gostado.
Era a adaptação de um romance dos irmãos Strugatsky, acerca de um Stalker, um «espreitador», ou seja, um dos poucos que ousavam, clandestinamente, visitar (e guiar pessoas) a uma zona proibida, misteriosa, carregada de poderes, porventura visitada por seres extra-terrestres, que a marcavam de sinais e objectos perturbadores...
Acabava de descobrir o cinema de Andrei Tarkovsky.
Terminara um amor. Mas começava a viver um novo amor.
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