Westerns!
Sim. Westerns. Cowboys a matarem índios e mexicanos! Viva!
Não. Os Westerns são muito mais do que isso. Aliás, ao procurar na fantástica Internet uma definição para Western, não encontrei nada que fosse sintético, apenas definições de três parágrafos. Aquilo que descobri é que o Western engloba imensos sub-géneros. Existe o Western de Ficção Científica, o Western Comédia, o Western Horror, enfim... Filmes como o Segredo de Brokeback Mountain e o Desperado são considerados Westerns. Ao entender isso, percebi que o meu post seria muito mais trabalhoso do que eu pensara de início.
Pode-se dizer que o Western nasceu oficialmente com o filme The Great Train Robbery (1903), de Edwin Porter, sobre um assalto a um comboio. O filme dura doze minutos.
The Great Train Robbery
A partir daí, o género foi crescendo de importância e muitos cineastas dedicaram grande parte das suas carreiras ao Western.
Muitos Westerns dos anos cinquenta e sessenta foram influenciados pelos filmes de samurais de Kurosawa e o Magnificent Seven é, no fundo, um remake do Seven Samurai. Kurosawa, por sua vez, diz ter sido muito influenciado pelos westerns de John Ford.
The Seven Samurai
The Magnificent Seven - Trailer
O que eu pretendo com este post é maximizar a importância do Western no cinema, já que foi um género que caiu muito em desuso e que durante algumas um grande período de tempo foi considerado menor. Hoje em dia, com a produção de novos westerns, tem-se assistido a uma mudança de opiniões. O que eu sei é que a maioria dos jovens da minha idade não liga nenhuma aos Westerns e, para além deste post, pode ser que o próximo filme que eu passe no clube seja um Western.
Sendo-me difícil definir o que é um Western, passarei a falar dos seus sub-géneros:
- Western Clássico/Tradicional - consagrado por autores como John Ford, Howard Hawks, Raoul Walsh..., pode englobar temas como: combates contra os índios, ataques de bandidos, lutas contra os donos dos caminhos-de-ferro, as guerras mexicanas, a guerra civil americana, etcetera. Apesar de ser um género de entretenimento e acção, muitos destes filmes ficaram associados a ideais racistas (como já falei no post sobre o John Ford). O próprio filme The Birth of a Nation (D.W. Griffith), um filme épico com algumas características de Western, sobre o nascimento dos EUA, defende a escravatura e protege o Ku Klux Klan. A defesa da escravatura é também protegida no filme de época Gone With the Wind. É verdade que por vezes os Westerns apresentam este lado negativo e que foram feitos muitos maus filmes, mas foram feitos também filmes tão maravilhosos que o género em si não deve ser negligenciado.
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Western Revisionista - A partir dos anos cinquenta (por causa da
WWII?) as mentalidades começaram a mudar. Filmes como The Last Wagon (1956) de Delmer Daves, com Richard Widmark, falam de um branco adoptado por índios e que é perseguido pelos brancos. O próprio The Searchers pretende conciliar as duas raças. No posterior Little Big Man (1970), de Arthur Penn, o tema da intolerância para com os índios é tratado com grande profundidade, mantendo no entanto um toque sobre o absurdo de algumas situações. Começaram-se a fazer filmes com índios como protagonistas, muitos sobre as fugas das reservas. Mas o Western Revisionista não engloba apenas o tema dos índios, focando-se também numa crítica à própria violência. Temas como a recusa em lutar, a justificação da cobardia, etecetera, passaram a ser muito comuns. Temos também o Sargento Negro, de John Ford, em que um negro é injustamente acusado de violar uma branca, conseguindo no final provar a sua inocência.
- Western Vermelho - tipo de Western muito pouco conhecido, refere-se aos filmes Westerns comunistas, produzidos nos países do bloco de leste. É sabido que Estaline adorava este género de filmes. Nos primeiros anos, os filmes retratavam os índios como povos oprimidos, que se pretendiam libertar dos invasores americanos. Devido à escassez de índios nos países comunistas, eram usados turcos para os papéis. Depois, o tema passou a ser a própria União Soviética e os filmes passavam-se nas estepes da Ásia Central, no período da guerra civil russa. Elementos do Western eram mantidos, como a luta entre o bem e o mal, lutas contra os nativos, cavalgadas heróicas. O famoso actor e cantor Dean Reed, que fugiu dos EUA para a Alemanha Oriental, entrou em muitos desses Westerns Vermelhos.
(Não há imagens nem vídeos disponíveis... Maldita Internet Capitalista!)
- Western Esparguete - considerado uma criação de Sergio Leone, este tipo de filmes refere-se às produções italianas ou italo-americanas dos anos sessenta e setenta, conhecidas por parodiarem os filmes de Hollyood (como a cena inicial de Once Upon a Time In The West, que representa o oposto do filme High Noon, do qual falarei adiante). Os westerns esparguete eram normalmente longos, por vezes até à exaustão, e as personagens apareciam porcas e suadas. O anti-herói substituiu o herói dos westerns americanos, e actores como Clint Eastwood, Charles Bronson, Jason Robards, Eli Wallach e Lee Van Cleef interpretaram papéis de marca. A fotografia era cuidada e os filmes, esteticamente, belos, e a música do Ennio Morricone fantástica, apesar de (para mim) não haver nenhum filme que seja de facto extraordinário. Eu considero mais este género como uma curiosidade, embora saiba que é bastante apreciado por muitas pessoas.
The Good, The Bad And The Really Ugly One - Trailer
Once Upon a Time In The West - Trailer
- Western Oriental - Não é bem um sub-género, mas decidi inclui-lo na mesma. Com isto, refiro-me aos filmes americanos que retrataram a fusão entre o ocidente e o oriente no Western. Um exemplo é o filme Red Sun, com Charles Bronson, em que para além do habitual grupo de pistoleiros, entra um guerreiro samurai que corta cabeças com a sua afiada espada Hatori Hanzo (estou a brincar). O último filme que eventualmente se poderá incluir neste género é o The Last Samurai (Edward Zwick) em que o Tom Cruise interpreta (mal, claro) um veterano da guerra civil que viaja para o Japão e se junta à causa samurai contra o imperador. Neste filme ocorre o inverso do Red Sun.
Red Sun - Honhááá!!!!
- Western Contemporâneo - Tal como os renascentistas pintavam as cenas bíblicas com roupas e cenários renascentistas, e a Paula Rego pintou a virgem com ténis, também o Western Contemporâneo evoluiu e passou a retratar os temas do Western tradicional em localizações modernas. Isso não quer dizer que já não se façam westerns passados no século XIX, por outro lado, quer dizer que filmes como o Brokeback Mountain, The Last Picture Show, os Três Enterros de Melquiades Estrada e até o No Country For Old Men são considerados Westerns.
Brokeback Mountain (Ang Lee) - Trailer
Temos outros sub-géneros, que serão quase sub-sub-géneros, como o Western Comédia (Go West, dos Irmãos Marx, Blazzing Saddles, do Mel Brooks), o Western Ficção Científica (Back To The Future, Part III, Wild Wild West - com o Will Smith!), o Western Horror (From Dusk Till Dawn, do Robert Rodríguez, Vampires, do Carpenter) e o Western Ácido (Dead Man, do Jim Jarmusch), sendo que este último se refere a filmes um pouco mais bizarros, que por vezes parodiam o próprio género.
Go West - Marx Brothers
E agora umas recomendações de alguns Westerns que eu adoro.
Os Meus Dez Westerns Favoritos - por ordem cronológica:
- The Big Trail (1930), Raoul Walsh - John Wayne, Marguerite Churchill, Tyrone Power, Sr., El Brendel
- The Plainsman (1936), Cecil B. deMille - Gary Cooper, Jean Arthur, Charles Bickford, James Ellison
- Dodge City (1939), Michael Curtiz - Errol Flynn, Olivia de Havilland, Ann Sheridan, Bruce Cabot, Frank McHugh - Música de Max Steiner
- They Died With Their Boots On (1941), Raoul Walsh - Errol Flynn, Olivia de Havilland - Música de Max Steiner
They Died With Their Boots On - Final Sequence (Little Big Horn Battle)
- Distant Drums (1951), Raoul Walsh - Gary Cooper, Richard Webb - Música de Max Steiner
- High Noon (1952), Fred Zinnemann - Gary Cooper, Grace Kelly, Thomas Mitchell, Katy Jurado, Lloyd Bridges - Música de Dimitri Tiomkin
- Rancho Notorious (1952), Fritz Lang - Marlene Dietrich, Arthur Kennedy, Mel Ferrer
- The Searchers (1956), John Ford - Natalie Wood, Ward Bond, Jeffrey Hunter, Vera Miles - Música de Max Steiner
- 3:10 To Yuma (1957), Delmer Daves - Glenn Ford, Van Heflin - Música de George Duning
3:10 To Yuma - Trailer feito por um tipo com uma voz terrível
- Major Dundee (1965), Sam Peckinpah - Charlton Heston, James Coburn, Richard Harris, Jim Hutton
Major Dundee - Trailer feito pelo mesmo tipo
Embora associado ao Western esteja SEMPRE o par John Ford/John Wayne, aqueles que eu considero melhores são do também prolífico Raoul Walsh, conhecido pela sua economia narrativa e o seu fantástico ritmo nos filmes de acção. Dele escolhi The Big Trail, o primeiro filme em que John Wayne aparece como protagonista, They Died With Their Boots On (par Flynn/de Havilland) sobre o general Custer e Distant Drums, um Western da Flórida, com uma história de perseguição nos pântanos (o base do argumento é igual à do seu filme Objectivo Burma, passado na WWII com o Errol Flynn). Outro grande realizador de westerns foi o Delmer Daves, do qual escolhi o 3:10 To Yuma, um drama sobre um homem que persiste em levar sozinho um criminoso para a prisão. Tinha que colocar também o High Noon, de Fred Zinnemann, que realizou apenas três westerns. O filme conta a história de um Xerife que é abandonado pela sua cidade quando tem de enfrentar um grupo de bandidos que regressa para se vingar. No final, a famosíssima cena em que o Xerife atira a sua estrela para o chão. De Michael Curtiz e com o par Flynn/de Havilland, escolhi Dodge City, sobre um xerife que se dispões a limpar a cidade dos bandidos que a aterrorizam, tornando-a respeitada e civilizada. Do legendário Cecil B. DeMille, escolhi o The Plainsman, com o Gary Cooper (que apareceu em muitos dos seus últimos filmes), sobre as aventuras dos míticos Bill Hicock, o General Custer, a Calamity Jane e o Buffalo Bill. Do Sam Peckinpah, realizador muito violento (o mesmo de The Wild Bunch) o meu preferido é o Major Dundee, com um elenco fantástico. Do cineasta alemão Fritz Lang (mais conhecido pelos seus filmes mudos na alemanha ou pelos seus filmes noir nos EUA - cineasta que como tantos outros fugiu do nazismo para os EUA) escolhi um dos seus três Westerns, Rancho Notorious, numa história trágica de vingança com a genial Marlene Dietrich (também alemã). O filme conta com uma fotografia esplendorosa, fruto da estética germânica.
Devido à importância do ritmo e da música nos westerns, inclui o nome de alguns músicos na lista dos filmes, sendo o mais famoso o Max Steiner, que compôs músicas para centenas de filmes.
De início, propus-me tentar incluir na lista filmes de todos os géneros do Western, mas isso significaria que eu teria de excluir alguns dos meus favoritos. Por isso, não escolhi nada do esparguete, nem do vermelho (aliás, nunca vi nenhum deste género), nem do moderno, embora possa dizer que o moderno filme The Assassination of Jesse James By The Coward Robert Ford é bastante bom. Aliás, o tema do Jesse James sempre foi bastante utilizado no cinema, quer por Henry King, por Nicholas Ray, quer pelo próprio Fritz Lang. Outro Western bastante bom é o Brokeback Mountain (acho que dispensa apresentação). Hidalgo, um filme de acção que vale a pena ver. O Dead Man, com Johnny Depp, de Jim Jarmusch (comédia?). O Vampires de John Carpenter (considerado um Western de Terror). Outro filme é Heaven's Gate, de Michael Cimino, sobre as disputas dos donos de terras contra os imigrantes na década de 1890, uma verdadeira obra-prima. E também o The Last Picture Show e o Texasville, ambos de Peter Bogdanovich, sobre o crescimento de um grupo de adolescentes numa cidadezinha quase deserta do texas.
The Assassination of Jesse James By The Coward Robert Ford
Dead Man - Trailer
Heaven's Gate
The Last Picture Show - Trailer
Vampires - Trailer
Outro realizador que eu aprecio muito, John Huston (The Man Who Would Be King), dirigiu dois westerns muito bons. The Treasure of Sierra Madre, uma parábola sobre um grupo de homens que se destrói por causa de um tesouro e The Unforgiven, sobre a intolerância para com os nativos.
The Treasure of Sierra Madre - Trailer
E pronto, fica aqui um pequeno post sobre a enorme odisseia dos Westerns.
CINEMA: O PODER DO CÃO
Há 2 anos
Que raio é que aconteceu aqui??!!! É só no meu computador ou metade do meu post ficou centrado e outra metade ficou à esquerda???
ResponderEliminarAinda so li até metade mas antes que me esqueça:
ResponderEliminarPode parecer muito parvo mas eu estou ha que tempos para ver The Good, The Bad and the Ugly à pala de uma cover da música do filme, que eu adoro, da parte dos Metallica em colaboraçao com a Orquestra Sinfonica de São Francisco . É na cover chamada de Ecstasy of Gold, não sei se é mesmo o nome dela, mas calculo que sim.
a cover: http://www.youtube.com/watch?v=JG62B_dHfDQ
Granda post, em todos os sentidos pá!
Ops, comentei com o nome da minha irmã. É meu aquilo.
ResponderEliminarÉ,claro que é mesmo o nome da musica.
ResponderEliminarJá agora, tu também estás a ver o blogg de pernas para o ar, ou sou só eu???
ResponderEliminarp.s - A minha irmã também se chama Leonor.
De pernas para o ar porque?
ResponderEliminara cover com guitarras tipicas que não aparece naquele video que mandei nao sei porque esta aqui: http://www.youtube.com/watch?v=Zm7EeuWnc-8
ResponderEliminarO quê?? Sou só eu a ver a o blogg completamente diferente??? Metade está normal, como dantes, e outra metade ficou centrada! Se mais ninguém vê, deve ser problema meu. Não é sei é como resolver.
ResponderEliminarAhhh, já resolvi o problema. Mas não sei o que era.
ResponderEliminarGostei bastante deste post João, sobretudo pela forma como consegues rever um pouco de todos os estilos possiveis (e impossiveis! Confesso que desconhecia em absoluto a existência de westerns vermelhos!) deste genero marcante do cinema americano e não só. Alias, é um estilo que nos dias de hoje já não tem a força de outrora, limitando-se a sobreviver. Á medida que escrevo este comentário estou-me a lembrar que o recente Appaloosa já passou directamente para DVD em Espanha. E provavelmente assim será em Portugal...
ResponderEliminarApesar disso, eu talvez daria algum destaque ao género do western/spaghetti. Isto apesar da conotação que Sergio Leone trouxe para o género, como tu referes, ele acabou mesmo por ser explorado de forma diferente por varios realizadores italianos que decidiram levar este género para o campo da comédia por exemplo, (estou-me a lembrar de alguns filmes com Terence Hill...) com maior ou menor efecácia, nos quais o compositor Ennio Morricone era uma presença tão constante _ e flutuante em termos de qualidade_ quanto Max Steiner nos filmes norte-americanos. Mesmo os filmes de Leone, que de facto caminhavam com o tempo para uma estrutura mais complexa, conseguem no entanto transmitir uma desconstrução do mito do Western, algo que o próprio Ford tinha começado com a personagem moralmente dubia de John Wayne em "The searchers", ou mesmo Kurosawa com as suas histórias de um Japão feudal onde os "herois" eram mercenários.
ResponderEliminarAtenção Beast, a musica que referes (ecstasy of gold) e foi utilizada pelos Metálica, faz efectivamente parte da banda sonora do filme "The god, the bad and the ugly". Aparece lá mesmo para o fim do filme, antes de um conhecidissimo duelo a três.
Sim sim, eu sei disso :P eu tinha referido acho eu
ResponderEliminarNão sabia era se era o mesmo nome na altura, mas era uma duvida para o parva, é claro que sim.
ResponderEliminarOra aqui está um post em relação ao qual eu tinha elevadíssimas expectativas e que as não frustrou. Aliás, irei relê-lo. Estou de acordo com JC, acho que alguns spaghetti-westerns são, no mínimo, bestiais. The Good, the bad and the Ugly é, quanto a mim, um filme de mestre. E tenho-o aqui, Leonor/Beast, para lho emprestar quando recomeçarem as actividades cinéfilas. Quanto a Terence Hill, uma confissão: o péssimo Trinitá fez as delícias da minha adolescência! Não?! Siiim!
ResponderEliminarEra esse mesmo! Na verdade, como acontece quando um género se torna comercialmente rentavel, foi explorado com resultados bons.. e outros menos bons. Mas os filmes do trinitá também eram algumas das minhas delicias particulares, muito por "culpa" da dupla Terence Hill/Bud Spencer, que passavam o filme a distribuir socos aos "maus da fita"!
ResponderEliminarEu também não gosto nada do trinitá. Acho muito grosseiro. Embora também tenha a impressão (não me recordo bem) de que da primeira vez que vi (era muito pequeno) até gostei. Suponho que a pouco e pouco vamos deixando de achar piada a esse género de comédia.
ResponderEliminarlembrei-me agora de outro filme que facilmente incluiria na lista dos meus dez favoritos: duel in the sun (1946), de King Vidor, com o gregory peck, a jennifer jones, o joseph cotten e uma data de bons secundários. a música é do dimitri tiomkin.
ResponderEliminarSei que vou bater um bocado no ceguinho e não sei se interessa a alguém mas é uma curiosidade: o concerto dos Metallica há dois dias, no Alive 09, abriu com a Ecstacy of Gold, tal não acontecia há muito. Deve ter sido este post que deu sorte :P
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