terça-feira, 2 de junho de 2009

COMO ACTORES MEDÍOCRES SE TORNAM ÍDOLOS, MAS ALGUNS ACABAM RESGATANDO-SE

Que faz de um certo actor um ídolo da juventude da sua época? Que faz de um actor uma referência cultural incontornável para toda uma geração? Hum, vejamos...
Poderia esperar-se que fosse, primeiramente, o facto de se tratar de um bom actor; mas é evidente que isso não basta. Não só não basta como, muitas vezes, nem é um requisito.

James Dean era, esse sim, de facto, um excelente actor: mas suspeito que os jovens viam nele sobretudo o rebelde sem Causa, o miúdo cheio de energia e talento, que os desperdiçava numa busca desenfreada de adrenalina, o marginal, o incompreendido, até o carente sempre em luta com os adultos que ele só queria amar, mas o desprezavam e oprimiam; e, finalmente, o belo rapaz que, tendo morrido cedo e de um modo trágico, ficaria na memória de todos como o que não chegou a envelhecer e a degradar-se.


Outros, nem sequer eram bons actores.

A minha geração veio a ser estranhamente marcada por um sujeito que nunca soube nem tentou saber representar. Alguns realizadores usaram-no até, precisamente, para aproveitar a sua tenebrosa ausência de expressão - e é verdade que como gélido robô, por exemplo, chegava a arrepiar. Mas o que fazia dele um homem com uma presença tão impressionante no ecrã? Ok. Tinha a sorte de possuir um rosto enigmático, que culminava numa perturbadora calvície. Yul Brynner, se chamava ele: e penso que não tem a menor ligação com Nicolau Breyner.



















Da mesma forma, essa geração teve como um quase ídolo, durante bastante tempo, um tipo particularmente feio, muito baixo e com pescoço de galinha, cujo bigode os machões lusitanos tentavam copiar. Charles Bronson? Deus do céu: que raio viam as garotas nele?!






Não poderia terminar este post sobre actores que foram marcantes na minha juventude, ainda que não tivessem sido grandes ases da representação, sem sublinhar, agora pela positiva, dois casos de sujeitos que viriam a reabilitar-se inesperadamente - e de que maneira!!!

Para já, esse que começou por se tornar o rei dos cow-boys, com um punhado de spaghetti westerns - alguns, por acaso, até com alguma graça... -, mas sem nada de mais mencionável como actor para além da sua figura seca, associada a um tosco chapéu e um charuto; que passaria, depois, pelo fado de construir a personagem de um polícia fascizante, o inacreditável Dirty Harry; tudo isso antes de fazer de si simplesmente (e meço todas as minhas palavras) um dos melhores realizadores contemporâneos: o extraordinário Clint Eastwood, frequentemente genial. Vejam Gran Torino, caso duvidem de mim.

Outro: John Travolta.
Quem diria, naqueles tempos de febres de sábado à noite ou de brilhantinas, que, por trás do bailarino irrequieto e vazio, um actor a sério aguardava a sua vez para, muito mais tarde, muito mais maduro, vir a ser redescoberto e posto a brilhar...?

10 comentários:

  1. Desculpe lá, professor, mas não posso concordar consigo quando diz que o Yul Brynner era um mau actor. Por outro lado, basta vermos a sua fantástica interpretação no filme The King and I (Walter Lang), uma das primeiras obras cinematográficas em que entra. Eu possuo quatro ou cinco filmes com ele, incluindo o fantástico Rei e Eu, que lhe posso emprestar (e a quem quiser) para tentar mudar a sua opinião!

    P.S De facto, o Clint Eastwood sempre foi péssimo como actor, mas é um realizador clássico, cuidado e detentor de um grande sentido estético, pelo que o considero também um dos melhores cinematógrafos contemporâneos (e compões também a música dos seus filmes, como o Carpenter).

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    1. Isso João, o Oscar de Melhor Ator em 1956 foi super merecido, meu Yul era um ator fantástico, o José tem essa opinião formada e errada por não o conhecer realmente. Quem o conhece sabe a magia e o encanto que o Yul trazia para a tela. Quando ele aparece em cena não temos olhos para ninguém mais. Entre outras coisas, isto é ser um maravilhoso ator, e ele realmente era.

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  2. Eu diria, João, que não deixa de ter alguma razão: considero precisamente The King and I a grande e notável excepção. Mas não lhe parece que de facto o fulano seu deixou perder? É um pouco como aquela nossa divergência relativa a Leonardo DiCaprio. De facto, em What's Eating Gilbert Grape, achei-o excelente, e assinalei-o. Mas o próprio João acabou concordando que, depois, ele praticamente não tornou a encontrar papéis interessantes. (Não vi o Revolutionary Road, não me pronuncio sobre ele). Mas o que acontece é que actores potencialmente bons correm alguns riscos se se deixam colar a uma sucessão de papéis efectivamente maus...

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  3. O Yul Brynner nunca foi uma grande vedeta de Hollywood, ficando muitas vezes com papéis secundários. O sistema americano apegava-se a uma espécie de actor-tipo e não deixavam que esse estilo mudasse. Exemplos são o Maurice Chevalier (que fazia sempre de francês alegre a cantar), o Mischa Barton (o russo amigável), a Sophia Loren (a italiana sexy), o próprio Bronson e o Clint Eastwood (os durões). O Yul Brynner era portanto requisitado para fazer mais ou menos o mesmo tipo de papéis - um solitário e inexpressivo soldado/rei/aristocrata/cowboy, etcetera. Na minha opinião (tal como acontece a DiCaprio), não é a culpa dos actores, mas sim do sistema norte-americano. Buuuuu! Hollywood sucks!

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  4. Esse tendência para o actor-tipo, como o João lhe chamou, esse estereotipo ao qual um actor se associava por influências dos estudios na altura tinha esse inconveniente: ou gostavamos efectivamente do tipo de personagem que o actor tinha para oferecer ou ele corria o risco de se tornar aborrecido para as audiencias devido à sua falta de inovação interpretativa (algo que o "metodo" veio alterar). E de facto o Yul Brynner caiu nessa "armadilha" não sabendo (ou não o deixaram) gerir a mudança dos tempos e dos gostos da audiencia. Mas já em relação ao Clint Eastwood não concordo que ele não tenha evoluido como actor, porque efectivamente acho que ele o fez. Embora tarde na sua carreira (talvez fruto da sua experiência como realizador!?), mas basta ver a sua personagem em Imperdoavel, onde ele desconstroi o mito do cowboy "durão", que o ajudou a subir na sua carreira, apresentando uma pessoa frágil, confrontando-se com o seu passado brutal e os sentimentos de remorso que dele resultam.

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  5. tenho aqui o Imperdoável, recentemente comprado em saldo e estou ansioso por revê-lo. Depois, of course, disponibilizarei para as partilhas...

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  6. essa desconstrução do durão é feita com muito mais sucesso no admirável Gran Torino, que nem foi nomeado para os óscares...

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  7. Ainda não vi o Gran Torino, mas realmente já ouvi falar muito bem dele. Será que ainda está em exibição por ai, em algum cinema?

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  8. Mischa Barton??? Desculpem o erro - é Mischa Auer. É o que dá escrever a correr mas senão fosse assim nem tinha tempo para dormir.

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  9. Yul não era um bom ator? Nunca soube nem tentou saber representar? Tenebrosa ausência de expressão? Desculpe, você não o conhecia tão bem. Yul foi um dos atores mais talentosos e fascinantes dos anos dourados. Ganhou um Oscar merecidíssimo em 1956 por O Rei e Eu onde interpretou o rei do Sião nas telas e milhares de vezes nos palcos. O inesquecível Ramses de Os Dez Mandamentos, aquele ator que se encaixa tão bem no papel que não conseguimos imaginar outro em seu lugar, isso é só para os fortes. O que fazia dele um homem com uma presença tão impressionante era sua beleza exótica, maravilhosa e seu puro talento! Exatamente, um rosto enigmático, uma linda careca e olhos perturbadores, penetrantes, que despiam uma mulher somente fixando-a. Yul Brynner, se chamava ele, meu ator favorito, sempre será. Um homem de muitas qualidades, dirigia, atuava, fotografava, cantava e encantava.

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