Na quinta-feira fui a casa do Guilherme e levei-lhe alguns filmes do Spike Lee e do Mel Brooks que ele tinha ficado com curiosidade em ver (penso que depois de ter lido os meus posts). Reparei que ele tinha lá o Príncipe das Trevas e os dois primeiros filmes da série Batman, sendo que estes últimos, por sua vez, lhe tinham sido emprestados pelo João Sacramento. Presumindo que o João não se importaria de me emprestar os filmes, lá fui eu contente para casa. Eu já tinha visto os três filmes em pequeno, mas não me recordava grande coisa. O príncipe das trevas é dos poucos filmes do Carpenter que eu não tenho em DVD. Estava com tanta vontade de ver os filmes que vi os três nesse mesmo dia, acabando por me deitar quase às quatro da manhã.
Fiquei muito surpreendido, pela positiva, com o príncipe das trevas, já que me lembrava dum filme muito mais low budget, e com um enredo pouco interessantes. E, embora de facto o orçamento fossse apenas de três milhões de dollars, o mestre Carpenter conseguia manter o suspense e o terror durante toda a obra. Usando efeitos como milhares de formigas a entrarem em frenesi, baratas a devorarem um homem, vermes a treparem janelas, ele conseguiu fazer um filme realmente apocalíptico (mas passado todo dentro de uma igreja!)
Isso sim, é obra de génio. Entre os actores, Carpenter reuniu os seus amigos Donald Pleasence e Victor Wong. O primeiro (um veterano de Hollywood) já tinha entrado no Halloween e no Escape From New York, obras-primas de Carpenter. A história do filme era simples. Um sociedade conhecida como Irmandade do Sono guardava Satanás há dois mil anos, fechado num cilindro de vidro. Segundo a história, Cristo teria tentado avisar a humanidade desse perigo e por isso tinham-nos crucificado. Então, em plena década de oitenta, com a diminuição da fé e as teorias da física quântica a refutarem a ideia de Deus, enfim, com a Modernidade a vencer o preconceito religioso, o poder do Diabo ia aumentando cada vez mais. Até que se tornou tão poderoso que acabou por abrir rachas no cilindro e transbordar para o exterior. Desde logo que o líquido do cilindro contaminou alguns cientistas que tentavam resolver o mistério e que tinham sido chamados pelo Vaticano. Eles transformaram-se em zombies, servos do diabo, e atacaram os outros cientistas.
No final, após várias cenas de terror e suspense bem conseguidas, o diabo possui o corpo de uma mulher e aproxima-se de um espelho que dá para outra dimensão (a ideia já antiga de que a imagem inversa de um espelho abre as portas para outro lugar - Alice do Outro Lado do Espelho; Orfeu de Jean Cocteau...).
Nessa dimensão encontra-se cerrado o pai do diabo, o próprio anti-cristo que causará o apocalipse. Quando o diabo/mulher está prestes a puxar o pai, uma das cientistas atira-se para o espelho e leva o diabo com ela, ficando os três fechados na outra dimensão. Donald Pleasence, um padre, atira um machado para o espelho e fecha-os lá definitivamente. Ou não? O final, 100% à Carpenter, deixa-nos na dúvida, já que um dos cientistas sonha com a mulher que se atirou para o espelho a regressar à terra, saindo da Igreja com um ar diabólicoooo!
O que interessa é que o filme (e três milhões é de facto muito pouco) consegue manter-se como apocalíptico do início ao fim, mantendo bons momentos de terror. Imaginando que um realizador como o Spielberg teria ficado com o projecto, o que ele faria era um filme cheio de efeitos especiais, imagens do planeta a arder, demónios a voar, etectera, mas faria uma grande trampa, sem qualquer sentido de suspense ou criatividade. Resumindo, fiquei bastante satisfeito.
Quanto aos Batman's não posso dizer o mesmo. O argumento dos dois filmes não é lá muito convincente e os actores também não. O Jack Nicholson consegue arruinar o primeiro filme e o Michael Keaton é tudo menos convincente como homem-morcego.
A Michelle Pfeifer é simplesmente péssima! Os únicos que conseguem brilhar são o fantástico Christopher Walken, o sempre vilão Jack Palance e o Danny DeVito, que se sai com uma interpretação assombrosa e muito diferente do que estamos habituados (comédias da treta com o Schwarzenegger).
As cenas de luta são prolongadas até espremerem qualquer vigor e diversão que pudessem ter, tornando-se pesadas e aborrecidas. E os gadgets chegam a ser algo ridículos... Tanto dos filmes é ocupado em cenas de luta que acabamos por não entender as motivações das personagens. Afinal, quem é aquele Batman??? É algo que se percebe, por exemplo, no mais recente Batman Begins. E a sequela The Dark Knight, apresenta-nos um Joker psicopata convincente e bem interpretado pelo Heath Ledger (aliás, quando o Nicholson viu o filme, saíu da sala de cinema a bufar de raiva). Os filmes são muito confusos, a direcção artística do Burton é muito fraquinha (sobretudo se a compararmos com outros filmes dele), os actores são terríveis e o argumento é intraduzível. O que, apesar de tudo, consegue salvar os filmes são alguns momentos à Tim Burton: o homem que é esturricado pelo Joker, o Pinguim a ser levado para o Zoo, a Catwoman a ser lambida pelos gatos da rua... Mas são dois filmes compridos e que não satisfazem ninguém (acho eu). Para além disso, a diferença entre o Nicholson e o Ledger é flagrante. Enquanto que o primeiro tenta roubar o protagonismo do filme (até aparece em primeiro lugar no genérico - sempre foi completamente presunçoso e cabotino), com aparições vistosas e risos chanfrados, o segundo, embora faça de psicopata, acaba por ser muito mais contido, sem tentar ofuscar ninguém no filme, mantendo-se pura e simplesmente como secundário. Obviamente que o primeiro acaba por ter uma interpretação terrível e o segundo, claro!, fica com o protagonismo do filme - e mais, depois da sua morte, fica para a história como um segundo James Dean.
Fiquem-se pelos batman's modernos (apesar do Christian Bale ser também péssimo, sempre contamos com um Morgan Freeman, um Michael Caine, um Heath Ledger, um Gary Oldman, um Liam Neeson e um Aaron Eckhart, para além de um argumento sério e com sentido e cenas de luta bem-feitas e rápidas... enfim, duas grandes produções que me deixaram satisfeito).
Será que vem aí um Batman 3?
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Príncipe das Trevas: Não sei porquê mas estava à espera de mais. As expectativas alteram sempre a experiência final- tu estavas à espera de algo muito low-budget e gostaste bastante, eu estava à espera de outro The Thing e fiquei algo desiludido. Contudo, o filme é realmente bom- os efeitos especiais estão fantásticos tendo em conta o orçamento, a história é interessante, os actores competentes e é um filme que dá para discutir. Realmente, o nascimento de Satanás após dois milénios de hibernação numa altura onde a ciência ganha poder para derrubar a Religião não é certamente uma coincidência e com isto pensamos que talvez haja uma ambiguidade para a tecnologia. Esta mensagem, com o facto de o Príncipe das Trevas ser um filme de terror filmado inteiramente numa igreja, um lugar normalmente associada à pureza e ao sagrado realmente dá vontade de estrangular os Hollywood execs por ter posto este enorme realizador de lado.
ResponderEliminarBatman: Não partilho o teu desdém pelos Batman. Gostei dos dois igualmente, acho que são filmes interessantes. O desempenho de Nicholson enquanto Joker é bastante engraçada e em nada tem a ver com a do Heath Ledger. Enquanto que o falecido actor decidiu explorar aquele lado do Joker mentalmente perturbado, o Nicholson explorou uma personagem louca sim mas mais para o cómico e surreal em vez de assustador como o Joker de Dark Knight.
Eu sinceramente prefiro os dois últimos filmes de Christopher Nolan pelo seu ambiente gritty e sombrio, pelos argumentos que melhor exploram as personagens(como referiste, Eça) e efeitos especiais muito melhores mas uma coisa é certa- a Katie Holmes e a Maggie Gylenhall são uma coisa, a Kim Basinger e a Michelle Pfeifer estão num universo à parte: Wawaweewa! xD