
Fiquei muito surpreendido, pela positiva, com o príncipe das trevas, já que me lembrava dum filme muito mais low budget, e com um enredo pouco interessantes. E, embora de facto o orçamento fossse apenas de três milhões de dollars, o mestre Carpenter conseguia manter o suspense e o terror durante toda a obra. Usando efeitos como milhares de formigas a entrarem em frenesi, baratas a devorarem um homem, vermes a treparem janelas, ele conseguiu fazer um filme realmente apocalíptico (mas passado todo dentro de uma igreja!)

Isso sim, é obra de génio. Entre os actores, Carpenter reuniu os seus amigos Donald Pleasence e Victor Wong. O primeiro (um veterano de Hollywood) já tinha entrado no Halloween e no Escape From New York, obras-primas de Carpenter. A história do filme era simples. Um sociedade conhecida como Irmandade do Sono guardava Satanás há dois mil anos, fechado num cilindro de vidro. Segundo a história, Cristo teria tentado avisar a humanidade desse perigo e por isso tinham-nos crucificado. Então, em plena década de oitenta, com a diminuição da fé e as teorias da física quântica a refutarem a ideia de Deus, enfim, com a Modernidade a vencer o preconceito religioso, o poder do Diabo ia aumentando cada vez mais. Até que se tornou tão poderoso que acabou por abrir rachas no cilindro e transbordar para o exterior. Desde logo que o líquido do cilindro contaminou alguns cientistas que tentavam resolver o mistério e que tinham sido chamados pelo Vaticano. Eles transformaram-se em zombies, servos do diabo, e atacaram os outros cientistas.

No final, após várias cenas de terror e suspense bem conseguidas, o diabo possui o corpo de uma mulher e aproxima-se de um espelho que dá para outra dimensão (a ideia já antiga de que a imagem inversa de um espelho abre as portas para outro lugar - Alice do Outro Lado do Espelho; Orfeu de Jean Cocteau...).

Nessa dimensão encontra-se cerrado o pai do diabo, o próprio anti-cristo que causará o apocalipse. Quando o diabo/mulher está prestes a puxar o pai, uma das cientistas atira-se para o espelho e leva o diabo com ela, ficando os três fechados na outra dimensão. Donald Pleasence, um padre, atira um machado para o espelho e fecha-os lá definitivamente. Ou não? O final, 100% à Carpenter, deixa-nos na dúvida, já que um dos cientistas sonha com a mulher que se atirou para o espelho a regressar à terra, saindo da Igreja com um ar diabólicoooo!
O que interessa é que o filme (e três milhões é de facto muito pouco) consegue manter-se como apocalíptico do início ao fim, mantendo bons momentos de terror. Imaginando que um realizador como o Spielberg teria ficado com o projecto, o que ele faria era um filme cheio de efeitos especiais, imagens do planeta a arder, demónios a voar, etectera, mas faria uma grande trampa, sem qualquer sentido de suspense ou criatividade. Resumindo, fiquei bastante satisfeito.
Quanto aos Batman's não posso dizer o mesmo. O argumento dos dois filmes não é lá muito convincente e os actores também não. O Jack Nicholson consegue arruinar o primeiro filme e o Michael Keaton é tudo menos convincente como homem-morcego.

A Michelle Pfeifer é simplesmente péssima! Os únicos que conseguem brilhar são o fantástico Christopher Walken, o sempre vilão Jack Palance e o Danny DeVito, que se sai com uma interpretação assombrosa e muito diferente do que estamos habituados (comédias da treta com o Schwarzenegger).

As cenas de luta são prolongadas até espremerem qualquer vigor e diversão que pudessem ter, tornando-se pesadas e aborrecidas. E os gadgets chegam a ser algo ridículos... Tanto dos filmes é ocupado em cenas de luta que acabamos por não entender as motivações das personagens. Afinal, quem é aquele Batman??? É algo que se percebe, por exemplo, no mais recente Batman Begins. E a sequela The Dark Knight, apresenta-nos um Joker psicopata convincente e bem interpretado pelo Heath Ledger (aliás, quando o Nicholson viu o filme, saíu da sala de cinema a bufar de raiva). Os filmes são muito confusos, a direcção artística do Burton é muito fraquinha (sobretudo se a compararmos com outros filmes dele), os actores são terríveis e o argumento é intraduzível. O que, apesar de tudo, consegue salvar os filmes são alguns momentos à Tim Burton: o homem que é esturricado pelo Joker, o Pinguim a ser levado para o Zoo, a Catwoman a ser lambida pelos gatos da rua... Mas são dois filmes compridos e que não satisfazem ninguém (acho eu). Para além disso, a diferença entre o Nicholson e o Ledger é flagrante. Enquanto que o primeiro tenta roubar o protagonismo do filme (até aparece em primeiro lugar no genérico - sempre foi completamente presunçoso e cabotino), com aparições vistosas e risos chanfrados, o segundo, embora faça de psicopata, acaba por ser muito mais contido, sem tentar ofuscar ninguém no filme, mantendo-se pura e simplesmente como secundário. Obviamente que o primeiro acaba por ter uma interpretação terrível e o segundo, claro!, fica com o protagonismo do filme - e mais, depois da sua morte, fica para a história como um segundo James Dean.

Fiquem-se pelos batman's modernos (apesar do Christian Bale ser também péssimo, sempre contamos com um Morgan Freeman, um Michael Caine, um Heath Ledger, um Gary Oldman, um Liam Neeson e um Aaron Eckhart, para além de um argumento sério e com sentido e cenas de luta bem-feitas e rápidas... enfim, duas grandes produções que me deixaram satisfeito).
Será que vem aí um Batman 3?
Príncipe das Trevas: Não sei porquê mas estava à espera de mais. As expectativas alteram sempre a experiência final- tu estavas à espera de algo muito low-budget e gostaste bastante, eu estava à espera de outro The Thing e fiquei algo desiludido. Contudo, o filme é realmente bom- os efeitos especiais estão fantásticos tendo em conta o orçamento, a história é interessante, os actores competentes e é um filme que dá para discutir. Realmente, o nascimento de Satanás após dois milénios de hibernação numa altura onde a ciência ganha poder para derrubar a Religião não é certamente uma coincidência e com isto pensamos que talvez haja uma ambiguidade para a tecnologia. Esta mensagem, com o facto de o Príncipe das Trevas ser um filme de terror filmado inteiramente numa igreja, um lugar normalmente associada à pureza e ao sagrado realmente dá vontade de estrangular os Hollywood execs por ter posto este enorme realizador de lado.
ResponderEliminarBatman: Não partilho o teu desdém pelos Batman. Gostei dos dois igualmente, acho que são filmes interessantes. O desempenho de Nicholson enquanto Joker é bastante engraçada e em nada tem a ver com a do Heath Ledger. Enquanto que o falecido actor decidiu explorar aquele lado do Joker mentalmente perturbado, o Nicholson explorou uma personagem louca sim mas mais para o cómico e surreal em vez de assustador como o Joker de Dark Knight.
Eu sinceramente prefiro os dois últimos filmes de Christopher Nolan pelo seu ambiente gritty e sombrio, pelos argumentos que melhor exploram as personagens(como referiste, Eça) e efeitos especiais muito melhores mas uma coisa é certa- a Katie Holmes e a Maggie Gylenhall são uma coisa, a Kim Basinger e a Michelle Pfeifer estão num universo à parte: Wawaweewa! xD