Ao longo de toda a minha (ainda - espero eu) breve existência, tenho-me interrogado com o seguinte - o que é um bom actor? Porque nos deparamos com imensos tipos de actores.
Por exemplo. O Paul Newman era um actor que conseguia ser tão irritante como o Jack Nicholson. No entanto, tem uma das melhores interpretações da história do cinema no filme Hud (Martin Ritt).
Paul Newman - Hud (Martin Ritt)
A Bette Davis, péssima, cabotina, enfim, terrível, quando dirigida pelo William Wyler era absolutamente assombrosa. É algo difícil de explicar por meras palavras, era preciso ver os filmes para testemunhar a metamorfose que ocorre nestes actores.
Jezebel (William Wyler) - Óptima Interpetação de Bette Davis
Whatever Happened to Baby Jane? - Péssima Interpretação de Bette Davis (vejam a fantástica Joan Crawford)
Ou será que um bom actor é um actor que represente bem em todos os seus filmes, sem excepção?
Outro tipo de actores são os actores do método. Será que podemos considerar realmente que alguns desses (hoje super-consagrados) actores representavam? Será espetar uma agulha no braço quando tem de se fingir dor, representar? Será correr horas a fio quando se tem de interpretar um papel de um corredor da maratona, representar? Isso não será simplesmente fazer batota? Eu até gosto de alguns actores do método, como o Marlon Brando e o Harvey Keitel, mas outros, como o Robert de Niro e o Al Pacino, sinceramente... deixam muito a desejar. Parece-me que o método pode ser útil em alguns casos, pode ajudar a concentração do actor e a sua inspiração, mas quando um actor se apega de tal forma a esse estilo que a sua representação perde qualquer espontaneidade, tornando-se planeada ao milímetro e se confunde com a de outro actor do método, então parece-me que deixa de funcionar.
Marlon Brando - A Streetcar Named Desire (Elia Kazan)
Harvey Keitel - Clockers (Spike Lee)
E aqueles actores que eram apenas eles próprios em todos os seus papéis? Refiro-me a Gary Cooper, por exemplo, que é até um dos meus actores favoritos, mas que, quer interpretasse o papel de um jogador de baseball ou de um sargento ou de um cowboy, era sempre o mesmo, transportando as suas características enquanto pessoa para a representação. Encontramos hoje em dia o oposto com um actor - Philip Seymour Hoffman, que vive (apenas?) da caracterização, da transformação nas personagens que interpreta. Como já disse, o Gary Cooper é um dos mesu favoritos, mas será que lhe posso chamar com 100% de certeza um actor??? E o Philip Seymour Hoffman???
Gary Cooper - High Noon Trailer (Fred Zinnemann)
Gary Cooper - Sergeant York (Howard Hawks)
Philip Seymour Hoffman - Capote
Para mim, é-me difícil responder a estas perguntas. Se me perguntarem se eu gosto do Paul Newman, a única resposta possível é: depende dos filmes. O que, de maneira nenhuma, me satisfaz. Talvez seja também uma questão de treino. Se o Jack Nicholson tivesse sido "atrelado" mais vezes, como o foi pelo Antonioni, talvez fosse melhor actor. O mesmo com a Bette Davis.
Jack Nicholson - o começo de uma má carreira - The Little Shop of Horrors (Roger Corman) - (versão colorizada - terrível...)
O que é certo é o seguinte: o trabalho de um actor depende sempre do trabalho do realizador.
CINEMA: O PODER DO CÃO
Há 2 anos
É, de facto, uma grande questão. Ainda há pouco se falava em dois casos a acrescentar: Yul Brynner, no geral um péssimo actor (quanto a mim, e fossem quais fossem as razões) tem um papelão em O Rei e Eu; ou DiCaprio, que achei brilhante em What's Eating Gilbert Grape, revela-se medíocre na maioria dos outros filmes em que o vi. E Paul Newman, vamos lá, tem muitas coisas de se cortar a respiração! Então, a minha pergunta-desafio passa a ser: ocorre-lhe algum actor de que tenha gostado sempre - em todas as suas aparições? A mim, não. E oiça (baixinho, não vá o Sacramento ouvir-me...): nem o Depp! (O Depp também sabe ser cabotino, quando lhe dá para aí!)
ResponderEliminarE nem Marlon Brando. Já o vi em enormíssimas porcarias! Mas a questão põe-se do mesmo modo em relação aos realizadores. Gajos capazes do melhor são capazes de fazer coisas terríveis. E vice-versa: eu diria que o próprio Brian DePalma, que anda perto de ser o pior realizador que conheço, tem uma ou duas coisas sofríveis... (Que estranho! Por acaso, não me lembro de nenhuma...!)
ResponderEliminarDe facto, o Brian De Palma é absolutamente péssimo. Mas, mesmo assim, acho que o Martin Scorcese ainda é pior (já sei que o professor Francisco Morais não concorda comigo). De qualquer forma, o que eu queria dizer é que alguns dos primeiros filmes do De Palma ainda se aproveitam como é o caso de Carrie (1976) com a Sissy Spacek, um filme de terror. O Scorcese tudo o que fez é mau. Destruiu o filme Cape Fear com um remake absolutamente terrível, e fez alguns dos piores filmes que eu já vi, como Raging Bull, Gangs of New York, The Aviator e The Departed (e pelo pouco que conheço dos outros filmes, são também péssimos).
ResponderEliminarQuanto à pergunta dos actores, a minha resposta é sim. Sobretudo actores mais clássicos, que conseguem sempre manter-se por cima, seja o filme uma porcaria ou uma obra-prima. Dou o exemplo do Gary Cooper, da Marlene Dietrich, da Rita Hayworth, do Orson Welles, do Edward G. Robinson e muitos outros. Actores ainda vivos, para os cinéfilos mais novos, incluo o Christopher Plummer, o Michael Caine, o James Caan e o Harvey Keitel, por exemplo. Claro que há actores que eu gosto muito, como o Denzel Washington, o Woody Harrelson (embora seja um bocado cabotino), o Kevin Spacey, etcetera, que me parece terem mantido um percurso estável e que eu considero serem "sempre" bons actores. Na verdade, acho que há bastantes desses actores, só que às vezes não conseguem à primeira o papel das suas vidas. O melhor exemplo será, talvez, o Heath Ledger. Vendo os seus primeiros filmes, descobrimos que ele já era um bom actor. Mas foi só quando entrou no Brokeback Mountain e no The Dark Knight que foi catapultado para a fama. O próprio Di Caprio, no péssimo The Aviator, tem um papel fenomenal como Howard Hughes.
Espanta-me ver o James Caan nessa sua lista. Mas talvez seja um actor que me falte descobrir melhor. Tinha-o na conta de um Charles Bronson recauchutado...
ResponderEliminarE olhe que o Michael Caine não é sempre igual a si mesmo. Lembro-me, de caras, de um ver a representar pessimamente - vêm-me referências vagas à memória (era um policial, havia uma mulher morta, enfim, hei-de pesquisar para ver se redescubro que filme seria...)
ResponderEliminarAcho interessante essa analise que o João faz, esse contraponto entre "o metodo" e um estilo mais clássico de representação. Alias, já se tinha tocado neste ponto antes, num post do José. Embora me sinta tentado a concordar que o "o metodo" será um estilo muito sobrevalorizado, uma moda que pegou e foi elevada ao estatuto de Biblia representativa, na verdade estaria a contrariar-me. Porque me agrada ver essa metamorfose que é propiciada por esse estilo de actuação. Se quero ver uma personagem que supostamente sofre de perturbações mentais, quero VER no ecrã um doente mental, independentemente do actor associado ao filme, ou de qual a preparação que ele levou a cabo para o papel. Se por outro lado eu me dispor a ver, numa tarde de domingo, um western com o John Wayne, por exemplo o Rio Bravo ou o El dorado, eu não quero cá saber o nome do Sheriff nem qualquer outra particularidade da personagem: eu quero mesmo é ver o John Wayne, com todos os clichés habituais da sua "on-screen persona". De todas as formas, deverão concordar que tanto num estilo como no outro existem actores que não souberam efectivamente gerir certos aspectos da sua carreira, o que não os classifica propriamente como maus actores. Por exemplo, o já aqui referido Yul Brynner (do qual concordo que "O rei e eu" é uma das melhores interpretações que já vi), ou o Malcolm McDowell, cuja carreira interpretativa teve o seu ponto alto na interpretação do anti-heroi "Litle Alex" da Laranja mecânica.
ResponderEliminarPS: Esse filme que o José refere, com o Michael Caine, não será a adaptação televisiva da história do Jack the ripper?
Não, não é esse. É contemporâneo, mete uma escada onde a senhora teria desaparecido, e hei-de descobrir que filme é.
ResponderEliminarEm relação ao método, estou de acordo: não há batota nenhuma, do meu ponto de vista, há uma forma, entre outras, de incorporar uma personagem. Conta o resultado: conta menos como se chegou lá! E a prova de que mesmo os actores do método não são iguais entre si, intersubstituíveis, está em que o Eça aprecia alguns deles e não vai à bola com outros. (De Niro ou Pacino, por exemplo...)
Está-me a fazer impressão não chegar ao filme. Procuro até 75, nunca depois disso; mas poderia ser anterior, talvez um filme de 73, 74? Já eliminei X, Y, e Zee, porque estou seguro que não era com a Elizabeth Taylor. E o Michael Caine, no filme de que me lembro (e em que o detestei) estava de óculos. Há uma cena em que ele está a conversar com outro homem na escada. E diz: «Matei-a aqui!». Para o adolescente que eu era, essa cena deve ter sido muito impressionante. (Por alguma razão a não esqueço...)
ResponderEliminarNa verdade lembro-me de mais alguns titulos em que o ele não está propriamente no seu melhor. Mas com isto não quero dizer que seja um actor mediocre, muito pelo contrário. Para voltar um pouco ao tema que o João propos, eu até acho que estes exemplos são as tais excepções na carreira de um actor com grandes interpretações, em quantidade e em qualidade. Por exemplo a sua personagem ambigua de psicologo/assassino no "Dressed to kill" do Brian DePalma, ou o seu recente ressurgimento em "The cider house rules", que são para mim, exemplos de uma boa performance.
ResponderEliminarJá agora, em relação ao tal filme que referias, encontrei no youtube um excerto do Pulp, de 1972, onde o Michael Caine aparece com os oculos excessivamente bizarros...
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