domingo, 18 de dezembro de 2011

O BLOGUE PODE SER TAMBÉM UM MURO DE DESABAFOS

Tenho 3 filmes para ver, e ainda não consegui ver um único.
Emprestaram-me L'Atalante, «a obra-prima de Jean Vigo», como é anunciada na capa, e Aurora, do extraordinário Murnau, de quem tanto gosto.
O outro é um filme de 6 horas, parece que muito bom, muito bom, muito bom. Joana Pontes referiu-se-lhe: era uma série que acabou por ser condensada num extenso filme, sem cortes. A Melhor Juventude, de Marco Tullio Giordana.

E pergunto-me que aconteceu ao meu tempo, que escasseia tanto e não me deixa ver os filmes que me apetece.
Não exagero no que vou dizer a seguir:
Com toda a franqueza, é o tempo que disponibilizo, todas as as 4ªs à tarde, ao clube de cinema, que me permite ver e rever excelentes filmes, manter-me próximo do cinema, usufrui-lo - e usufrui-lo na sua melhor forma, que é podendo discutir no fim os filmes com um grupo de entusiastas.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O COBRADOR DE PROMESSAS

Tudo carece do seu tempo, e há que compreender o tempo de que todas as coisas carecem.
Por exemplo: o clube de cinema tem 3 anos. Tem uma história interessante de pioneirismo, fases inesquecíveis, momentos altos - e momentos baixos. Mas precisou destes 3 anos para penetrar no espírito dos alunos, precisou de 3 anos para agarrar os miúdos dos 8º e 9º anos, precisou de 3 anos para nos oferecer, quase sistematicamente, sessões de casa cheia. Imaginem que tivéssemos desistido ao fim do 1º ano. «Eles não vêm. Não tem interesse. Não vale a pena!»

Da mesma forma, este blogue precisa de tempo. Há um ritmo próprio para que os jovens percam o medo e percebam que escrever aqui não provoca choque. Há um ritmo próprio para que principiem a sentir a necessidade de vir: simplesmente ler, ou comentar, ou colocar o seu próprio texto. Hão-de ver que o blogue não é um instrumento elitista; hão-de ver que sentar-se uma pessoa diante de um computador para "postar" um texto de três ou quatro linhas não lhe toma demasiado tempo nem o envergonhará.

O Rodrigo ousou. Foi instado e escreveu um "post". Magnífico, aliás! Estou satisfeito, mas não basta - e não bastará enquanto o blogue não estiver transformado num novo vício.

E, mais do que isto, sou um chato. Não os vou largar.
Já tenho "posts" prometidos por alguns membros. Eu sou um cobrador de promessas!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

11.ª Sessão do CC de 2011/2012 (88.ª desde 26 Nov 2008)

Quarta-feira no Anfiteatro
14 de Dezembro às 14h00

Volver
de Pedro Almodóvar


apresentado pelo
Prof. José Pacheco


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

10.ª Sessão do CC de 2011/2012 (87.ª desde 26 Nov 2008)

Quarta-feira no Anfiteatro
7 de Dezembro às 14h00

Orgulho e Preconceito
de Joe Wright

apresentado pela
Carolina Barrosa do 8.ºD


O orgulho o preconceito da paixão
A minha primeira visita ao Clube de Cinema ocorreu em Fevereiro deste ano. E desde essa altura, quando começou a ser colocada a hipótese de poder apresentar também um filme, eu já tinha decidido fazê-lo com Orgulho e Preconceito.

Se me perguntarem o porquê de eu amar tanto este filme eu não sei dar uma resposta.
Talvez porque é já uma história de amor quase tão icónica como a de Romeu e Julieta.
Talvez pelo facto de eu ter uma paixão pela época ou pela escritora - Jane Austen.
Talvez por ser uma grande adaptação ao cinema de uma história maravilhosa que me eu me apaixonei a partir da primeira leitura do livro.

Ao ver o filme e conhecendo o enredo do livro a história não me surpreendeu muito. O que me fascinou foi a forma como foi adaptado, a qualidade de representação dos actores e a atenção aos pormenores. Desde as paisagens escolhidas à visualização dos costumes, tudo está fiel à época.
Espero que gostem.
Carolina Barrosa

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

UM MÉTODO PERIGOSO


Perguntava eu: «Se te fosse dada a oportunidade de ires ver um único filme, e tivesses de escolher entre o último Almodóvar ou o filme sobre a psicanálise [o último Cronenberg], qual escolhias?»
Francisco hesitou. Se não na escolha, na justificação. Mas acabou por deixar que a sua preferência viesse ao de cima: Almodóvar.

A ocasião que eu antecipava verificou-se nessa mesma noite: estava sozinho diante de um cinema de múltiplas salas, pus-me na fila e confesso que, no momento em que o jovem de boné me perguntou o que desejava, ainda não tinha uma resposta. Porém, ouvi-me a mim próprio dizer: «Um bilhete para Um Método Perigoso, por favor». [Ou seja: Cronenberg, em vez de Almodóvar. Seria preciso um psicanalista para seguir as associações que, inconscientemente, me levaram a esta escolha].

O filme não me decepcionou - não a mim, que sou um "apaixonado crítico" pela psicanálise, que discuto ainda hoje com Freud e me interessei em certo momento por Jung. [Digo-o sem o menor pretensiosismo]. Não o recomendaria, porém, a leigos ou a desinteressados do tema, porque o centro do filme é, não só o tratamento daquela jovem histérica e masoquista, não só a relação erótica entre ela e o psiquiatra [Jung], com tão pesadas consequências, mas talvez também a própria teoria psicanalítica. E, portanto, ao longo de inúmeras conversas entre Freud e Jung, ou da correspondência entre os dois [vozes off], assistimos à formação e à discussão do método, às primeiras zangas e à ruptura entre o mestre e o discípulo predilecto, o rei e o delfim.

Do ponto de vista histórico, o filme é soberbo. Tem-se chamado a atenção para o rigor da caracterização de personagens e ambientes, ou a forma meticulosa como Cronenberg reconstitui uma época. Sem dúvida. Mas é um Cronenberg completamente inesperado: Jorge Leitão Ramos detecta a continuidade entre todos os filmes do realizador: seria sempre uma intimidade perturbada o que o preocupa, não «o que está na pele», mas «o que se oculta sob a pele (ainda que se manifeste fisicamente)». Não vejo continuidade. Vejo um filme sobre a história e a teoria psicanalíticas; vejo um filme sobre os limites éticos do amor e do erotismo; vejo um filme sobre a neurose e as diferentes perspectivas acerca de como lidar com ela. Se eu não soubesse, nunca adivinharia que se trata de um filme do mesmo realizador que fez A Mosca...

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Um olhar diferente



Bem, este é o meu primeiro post aqui no “Gostos discutem-se”, que já devia ter acontecido há mais tempo mas, devido a minha preguiça, nunca se tinha realizado. Aviso já que deve conter gralhas no português e coisas assim, por isso desculpem-me.

Hoje, infelizmente, foi a última sessão da oficina de escrita criativa com a realizadora Joana Pontes, que aproveito para dizer muito obrigado pois proporcionou-nos um espaço onde podemos aprender e ao mesmo tempo divertirmo-nos durante estas últimas sessões do clube de cinema e, como estava planeado a última sessão seria dedicada a visualização de vários inícios de obras cinematográficas para percebermos bem como funcionava, nos filmes, os começos e as questões relacionadas com os "plot points".

A sala não estava com muitas pessoas, comparado com outras sessões da Joana Pontes, faltavam alguns membros assíduos desta oficina mas, como se costuma dizer, éramos poucos mas bons! E isto é uma expressão que se emprega muito bem aos cinéfilos que compareceram hoje no anfiteatro. Sabiam para o que vinham e, estavam preparados para passar um bom bocado e aprender também! É também de salientar que, ninguém saiu a meio da sessão, como costuma acontecer.

Para começar, arrancámos em grande com um filme de culto dos anos 80, “Blade Runner”, que como a Joana nos explicou, teve uma grande influência no cinema, e que também como o professor Francisco mencionou, era um filme muito adorado pelos professores de artes devido à sua estética. Depois seguimos para os anos 70, completamente diferente do outro, “Profissão: Repórter”, um filme pelo qual a própria Joana mostrava um grande carinho.
De seguida, fomos para um filme italiano, com 6 horas (!!!!), “A Melhor Juventude”, que foi-nos explicado que na realidade foi planeado para ser uma mini-série de 4 partes. “A Melhor Juventude” deu lugar a “Uma Outra Mulher”, do Woody Allen, que tenho de admitir que foi o filme que me suscitou mais curiosidade de continuar a ver.
De “Uma Outra Mulher” partimos para outra mulher, neste caso uma rapariga, “Paulina na Praia” do Eric Rohmer, e da Paulina para um filme da realizadora do “Piano”, “Bright Star”, outro filme que gostaria imenso de ter continuado a ver.
Para acabar, vimos o início de uma obra do Martin Scorsese “George Harrison: Living in the Material World”, no qual quase todas a pessoas fizeram soar um “ohhh” quando a Joana mandou tirar o DVD, pois o documentário sobre um membro dos The Beatles apanhou completamente a atenção de todos.

A sessão correu lindamente, com indicações e curiosidades ditas pela Joana a toda a hora e, questões à própria também.
No decorrer do tempo, podemos comparar o quão diferente eram as introduções de filme para filme, como no do Woddy Allen, onde o começo foi, como a Joana disse: “muito economizador”, referindo-se ao facto de não ter mais de três minutos e ser muito simples, enquanto no “Profissão: Repórter”, acontece o contrário, a introdução é muito extensa e misteriosa, e também o quão eminente pode ser um "plot point", como no caso do ”Blade Runner”, ou tão discreto como no “Bright Star”, que nem damos por ele.

E bem, assim termina um ciclo bastante enriquecedor com a grande realizadora Joana Pontes que no final ainda recebeu um ramo de flores das mãos da professora Luísa.

Mais uma vez, um obrigado Joana Pontes

Melhor: Os ensinamentos e curiosidades da Joana no decorrer da sessão, e a sua atenção connosco.

Pior: Por outro lado, não podermos ver todos os filmes planeados, principalmente a “Lula e a Baleia”, um filme que gostava muito de ter visto.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

9.ª Sessão do CC de 2011/2012

Quarta-feira no Anfiteatro
23 de Novembro às 14h00

Como é que num filme se começa a contar uma história? Como é que se termina?
Temas diferentes dão histórias diferentes e assim é a dezena de filmes de que vamos ver excertos.
De "Blade Runner" a "Bright Star", passando por "A Melhor Juventude" ou "A Lula e a Baleia", vamos descobrir que há formas comuns de começar a contar uma história e de a terminar.
É este o motivo desta sessão que encerra este ano o workshop de guionismo.
Joana Pontes
(Realizadora de Cinema)





quarta-feira, 16 de novembro de 2011

E TUDO ISTO SEM PIPOCAS...

Hoje, o filme foi escolhido e apresentado pelo David, do 8º ano. Tem 13 anos e optou por um grande filme, "Papillon", que alguns adultos receavam um pouco [talvez porque se lembrassem de um excesso de violência, ou de uma obra demasiado extensa, que fatigaria um público jovem, etc.]

Pareceu-me que o facto devia ser analisado. O David é, provavelmente, o mais novo membro do clube. Já o ano passado estava connosco, cheio de de energia e de interesse, seguindo filmes e debates. Chegou a sua vez - e não é curioso, como sublinhava o Francisco, que um representante da sua geração não tivesse ido atrás dos "Harry Potter" e afins? Que o seu filme de eleição (que já viu umas sete vezes, desde os seus oito anos) seja esta obra adulta e, de algum modo, de outro tempo?

Por motivos compreensíveis, o auditório não era numeroso. Em contrapartida, a discussão foi riquíssima. Todos falaram - e a curiosidade suplementar residiu no caso da aluna que já tinha visto o filme e, portanto, não apareceu para o "rever", mas não quis faltar ao debate posterior...

O clube está, por tudo isto, numa fase de boa saúde.
É altura de reanimar este blogue. Fazer dele o fórum de opiniões e debate que já foi. [Foi-o com virtudes e defeitos, mas foi-o: interessaria reanimá-lo sobretudo nas virtudes]. Juro que contribuirei com a minha parte. Venham juntar-se-me neste exercício de "escrita em blogue" - olhem, podiam principiar por comentar este "post". Quanto mais não fosse! [Para começar, pelo menos...]

domingo, 6 de novembro de 2011

7.ª Sessão do CC de 2011/2012

Quarta-feira no Anfiteatro
9 de Novembro às 15h00

Do Fundo do Coração
(One From the Heart)
de Francis Ford Coppola

apresentado pela
Prof. Luísa Simão


Conto de Fadas para Adultos
“One From the Heart” estreou nos anos 80, e quando o vi ficou logo registado como um dos meus filmes favoritos. Gosto desta história de amor entre duas pessoas com sonhos e realidades diferentes, contada como se fosse um conto de fadas para adultos.

Frannie e Hank são um casal que vive junto há cinco anos. Têm desejos e sonhos diferentes, por isso confrontam-se com alguma frequência e separam-se. É uma história simples, quase banal de uma realidade de muitos casais que com as rotinas e vivencias diárias se desgastam, e cujas aspirações individuais são tão diferentes que parecem incompatíveis. Será mesmo assim?

Paralelamente desenrola-se um enredo musical imaginado por Tom Waits (esta é uma das bandas sonoras que mais gosto do cinema) marcado pelo contraste entre a voz cristalina da Crystal Gayle e a voz rouca e quase rude do Tom Waits que narram a história e dão voz aos sentimentos das personagens de uma forma intensa, porque musical, o que confere uma maior originalidade à narrativa.
O filme tem cenas com uma estética própria (nesse sentido é quase iconográfico), da qual gosto muitíssimo, e que só podem existir por ser realizadas em estúdio, com uma luz artificial e baça como se fosse de uma banda desenhada.

“One From the heart” foi um filme que surpreendeu, por Francis Ford Coppola ter escolhido o amor como tema, depois de ter realizado o “Apocalipse Now”, um filme intenso, sobre a guerra do Vietname. Ninguém esperava a escolha deste tema, nem a forma como ele foi abordado, um musical, uma história banal contada como se conta uma história de encantar. Talvez por isso tenha sido tão mal recebido pela crítica e pelo público, apesar de ser tornado num filme de culto.
Coppola arruinou-se e arriscou imenso ao fazer este filme. Foi filmado como nos anos 40, em estúdio, com cenários imaginados da cidade de Las Vegas, cheia de néons e de luzes. Custou 27 milhões de dólares e foi um flop de bilheteira. O realizador retirou o filme do circuito comercial pouco tempo depois de ter estreado, culminando uma guerra com as distribuidoras. Outra curiosidade é que este filme obrigou Coppola a realizar os filmes subsequentes, para poder pagar a falência dos seus estúdios.
Luísa Simão
Professora

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

6.ª Sessão do CC de 2011/2012

Quarta-feira no Anfiteatro
2 de Novembro às 15hoo

O Meu Vizinho Totoro
de Hayao Miyazaki

apresentado pela
Ana Sofia Pendão do 9.º E


A Natureza de Hayao Miyazaki
Confesso que O Meu Vizinho Totoro não foi a escolha inicial para a minha primeira apresentação no Clube de Cinema.

O Castelo Andante, o filme que queria apresentar, tem a duração de 120 minutos e como as nossas últimas sessões têm início às 15h00 (devido à Oficina de Escrita sobre Guiões), optei por um outro do mesmo realizador, Hayao Miyazaki, que tinha visto mais recentemente e que também adorei.

Uma coisa eu tinha a certeza: o meu primeiro filme a apresentar no Clube de Cinema teria de ser deste maravilhoso realizador que nos proporciona em todas as suas histórias uma magnífica visão sobre a Natureza.
O meu Vizinho Totoro explica factos e acontecimentos da Natureza de uma maneira fantasiosa e imaginativa, capaz de comover e impressionar todas as idades. É um filme fantástico que nos leva para cenários incríveis, com grande detalhe e imaginação, mais uma vez presentes nos filmes deste realizador.

Ana Sofia Pendão
(9.ºE)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

5.ª Sessão do CC de 2011/2012

Quarta-feira no Anfiteatro
26 de Outubro às 15hoo

A Noiva Cadáver
de Tim Burton

apresentado pela
Matilde Albuquerque do 9.º E


Um Filme deste Mundo e do Outro...
Escolhi este filme como primeiro filme a apresentar no Clube de Cinema, pois quero mostrar e falar de um filme de um dos meus realizadores preferidos, e não há (na minha opinião) nenhum melhor que "A Noiva Cadáver" para mostrar o “mundo” de Tim Burton.

Reparem, aqui está tudo: o humor negro, as personagens caricatas e estranhas, os pormenores, o imprevisível, a música (mais uma vez Danny Elfman), o argumento (John August, Caroline Thompson e Pamela Pettler) e até os actores do casting de vozes (novamente Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Christopher Lee, Michael Gough, Deep Roy e Albert Finney).
E o resultado está à vista, um filme fantástico rodeado mensagens que nos deixam a pensar, que desdramatizam o famoso pavor da morte, e que temos de viver a vida, enquanto é tempo, livres e descontraídos. O que também me fascina neste filme é a incrível produção desta animação em claymation (animação stop motion feita com uma espécie de massa).

Tim Burton transporta-nos para um universo místico onde se cruzam dois mundos, o da vida e o da morte, com diálogos fascinantes e um apurado sentido de humor.

Espero que gostem!

Matilde Albuquerque
(9ºE)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

4.ª Sessão do CC de 2011/2012

Quarta-feira no Anfiteatro
19 de Outubro às 15h00

O Couraçado Potemkim
de Sergei Eisenstein

apresentado pelo
Prof. Francisco Morais



Chegou o momento de revelar
(e recordar) a face escondida do bilhete que se encontra no cabeçalho do nosso blogue.

Talvez esta minha necessidade de recordar se deva também ao facto de, na minha opinião, ser necessário ler e aceitar, como ponto de partida para qualquer discussão no Clube de Cinema, o texto escrito pelo jornalista Joaquim Fidalgo que se encontra, no nosso blogue, por cima desse bilhete:

“(...) Discutir os gostos do outro não é desconsiderá-lo - pelo contrário, é valorizá-lo, e querer entendê-lo, é abrir um debate que, depois de aberto, pode levar a muitas novas conclusões, do outro ou de mim próprio.
Tentar convencer o outro de que o meu gosto é mais "gostoso" também não tem nada de mal, desde que eu o faça com argumentos e diálogo, num processo que me leva a ouvir também o que ele tem para me dizer dos seus próprios gostos.
Não é isto viver em sociedade, ser livre e praticar a liberdade - mas uma liberdade activa, crítica, empenhada, algo mais do que "cada um é como é e tem todo o direito, e eu não me meto porque não tenho nada a ver com isso”? (...)

Em 05 de Maio de 1974, eu tinha 17 anos. Estava a viver um dos momentos mais felizes da minha vida e a presenciar um conjunto de acontecimentos políticos e sociais que iriam ser determinantes para a minha formação como ser humano. Entretanto, estava à beira de fazer o serviço militar (com a inevitável viagem para combater numa guerra sem sentido) e, em face do sucedido, tudo se alterou. Quatro dias antes (no primeiro 1.º de Maio de Liberdade), eu tinha assistido a uma manifestação de solidariedade humana que jamais esquecerei. Por isso também nesse dia 05 de Maio de 1974, a sessão de cinema que assisti foi o culminar de um conjunto de sentimentos da totalidade das pessoas que assistiram ao filme: “O Couraçado de Potemkin” do realizador soviético Sergei Eisenstein.

Nessa data já me considerava um amante de cinema. Comecei a fazer registos (ainda os faço actualmente) dos filmes vistos a partir de 1972. É de salientar que nessa época os filmes eram visionados somente no cinema (muito pouco na televisão) e, principalmente, todos eram sujeitos aos cortes da censura. Outros nem sequer chegavam a entrar no circuito comercial como era o caso de “O Couraçado de Potemkin”.

Estavam então reunidas as condições para se tornar a tal sessão inesquecível da minha vida: sala esgotadíssima (o cinema Império era enorme) e todas as pessoas se comportavam como se partilhassem um momento único. Nos momentos do filme mais emocionantes batiam-se frequentemente palmas demoradas e gritava-se nas cenas mais dolorosas e angustiantes. Como a famosa cena da escadaria de Odessa...

Este filme é de 1925 (mudo portanto) e tem acompanhamento musical do compositor alemão Edmund Meisel (que compôs a partitura musical especialmente para o filme) que acentua e intensifica a dinâmica de montagem, para a época considerada excepcional.

Para muitos cinéfilos, nos quais eu me incluo, continua a ser uma obra-prima do cinema.

Ah, já me esquecia. No final da sessão, com as luzes da sala iluminando os presentes, viam-se ainda nos rostos das pessoas lágrimas de alegria…
Francisco Morais

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A OFICINA E O FILME

A primeira sessão da Oficina sobre como escrever um guião realizou-se esta quarta-feira.
O Anfiteatro estava cheio. (Convido o Francisco a pôr aqui uma fotografia, se por acaso tirou: aposto que sim). E reparem, a hora difícil, que obrigava os presentes a prescindir de um almoço ou a comê-lo à pressa, não foi impedimento. As pessoas vinham chegando, sem atrasos gritantes - alguns professores, muitos alunos do 10º, vários mais novos, não sei se do 8º ou do 9º, um do 12º.

Foi extremamente interessante aquele momento que principiou por um estranhíssimo desafio de Joana Pontes (que só na próxima quarta saberemos para que serve) e terminou com uma primeira tentativa de, em grupo, se irem propondo as ideias com que se construiu uma sinopse. Entretanto, houve uma aprendizagem da técnica (com advertências, referência a livros fundamentais - quem se lembraria de que a essência do guionismo está já na Poética, de Aristóteles? -, exposição e discussão de procedimentos).

Seguiu-se a projecção do delicioso "Belleville Rendez-Vous". E não haveria melhor forma de se fechar a tarde de quarta que não com a discussão que decorreu. A vanguarda foi-se embora. Uma nova vanguarda se forma. O clube está em boas mãos.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

3.ª Sessão do CC de 2011/2012

Quarta-feira no Anfiteatro
12 de Outubro às 15h00

Belleville Rendez-Vous
(Les Triplettes de Belleville)
de Sylvain Chomet

apresentado pelo
João Leão (10.º G)




Um filme de animação que não é para crianças
A escolha deste filme tornou-se muito complicada porque havia outros que gostaria de apresentar. Não há dúvida, para mim, que é um filme belíssimo, cheio de boas mensagens transmitidas através de inúmeros pormenores. Mas, foi esta a melhor escolha? Ainda não estou totalmente certo disso e acho que só estarei depois do habitual discussão que iremos ter.

Este é o segundo filme que apresento no Clube de Cinema e é, também, o segundo filme de animação. Tenho feito esta opção, apesar da repetição do género, porque acho que são filmes que nunca resultariam tão bem se fossem feitos com personagens reais. Além disso, conseguem uma expressividade extra que nunca seria possível num filme com humanos e porque este género é muitas vezes desprezado e considerado como “filme para miúdos” quando não tem de ser, e este é a prova disso.
Esta primeira longa-metragem de Sylvain Chomet é sobre uma avozinha (Madame Souza) com um aspecto de velhota já cansada, que tem de cuidar do seu pequeno e melancólico neto (Champion). Esta velhota portuguesa, provavelmente vinda duma aldeia do interior do país, mostra-se empenhadíssima para alegrar o seu pequeno que tem sempre um ar triste. Quando lhe oferece uma bicicleta ele fica muito contente e, então, durante muitos anos, treina-o e alimenta-o da melhor maneira para o preparar para o mundo do ciclismo. No decorrer de uma corrida Champion é raptado, por uns homens rectangulares vestidos de preto, e a avó, apercebendo-se disso, parte em busca dele com o cão Bruno.

Todo este percurso faz salientar o grande amor e devoção que Madame Souza tem pelo neto e como de coisas tão simples podemos combater contra gigantes monstros.
João Leão (10.ºG)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Oficina de Escrita Criativa - Guiões



Dinamizada pela realizadora Joana Pontes

Como se escreve uma história? Como se faz um guião?
Partindo de uma ideia, original ou adaptada, vamos percorrer as etapas da escrita de um guião: sinopse, desenvolvimento, divisão por cenas e sequências. Vamos trabalhar a construção da estrutura dramática de uma história e as noções de personagem, diálogo, tempo e ponto de vista.
O trabalho de pesquisa, necessário à construção do guião, será também objecto de reflexão.

4ª feiras, 12, 19, 26 de Outubro
e 02 de Novembro de 2011,
das 13h30 às 15h00
no Anfiteatro (Pav. D Esq.)


Inscrições na Biblioteca

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

2.ª Sessão do CC de 2011/2012

Quarta-feira no Anfiteatro
28 de Setembro de 2011 às 14h30

Uma Família Moderna
(Mine Vaganti)
de Ferzan Ozpetek


apresentado pela
Ana Carvalho (10.º B)






Viver feliz ou miserável?
Depois de, na sessão anterior, termos visto um filme baseado na história do famoso Romeu e Julieta (sobre o proibido) resolvi apresentar um filme cuja qualidade cinematográfica está longe de ser boa mas que é, para mim, uma mensagem audiovisual.

Desde sempre que o ser humano se deparou com o proibido, desde comer um doce que não devia comer a amar quem não é suposto amar. Este é um filme que foi escolhido por identificação. Penso que não vale a pena apreciar algo se esse algo não nos tocar de alguma forma e o que está presente neste filme é algo com que todos os mortais já se depararam.

Apesar de tudo o que disse nos últimos dois parágrafos, há um outro motivo para a minha escolha, é que certos temas quando encarados de forma séria não são tão bem aceites por serem tantas vezes motivo para riso. Voltamos então, por apenas uma tarde, aos tempos em que só Gil Vicente com as suas comédias conseguia demonstrar a situação em que a sociedade se encontra em relação a certos aspectos.
Os padrões impostos pela nossa sociedade actual são vestidos de ferro, há quem se tente adaptar, querendo sempre sair, forçando-se a entrar e tentando fazer disso modelo, afinal, se o imenso esforço feito não servir pelo menos de exemplo, qual o objectivo de continuar a viver segundo as regras a que nos habituámos? Há também quem se disfarce, quem pinte os seus leves e cómodos trajes de linho com tinta cinzenta de brilho metálico e viva uma vida dupla, constantemente insatisfeito por não assumir o seu desvio em relação aos padrões que “devia” ter vestido. Há depois quem saia do vestido de ferro, quem o atire para longe e assuma que viver segundo a verdade que reside no fundo da alma de cada um, livre do que nos é todos os dias imposto como politicamente correcto é, sem duvida alguma a única verdadeira forma de viver!
Este é um filme sobre
viver sendo feliz ou miserável.

Ana Carvalho (10.ºB)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

1.ª Sessão do CC de 2011/2012

Quarta-feira no Anfiteatro
21 de Setembro de 2011 às 14h30


A Paixão de Shakespeare
de John Madden


apresentado pelo
Rodrigo Figueiredo do 10.º E



Amar ou não amar eis a questão?
Esta pergunta podia fazer-se ao Shakespeare e à Viola, os dois protagonistas deste filme…
Para bem deles, a resposta deveria ser não amar. Mas como dizem que o amor comanda a vida... Ou é o sonho?

Ao contrário de alguns membros do Clube, eu tive um Verão inteiro para seleccionar um filme. E se querem saber só pensei no assunto a menos de uma semana da data marcada para a exibição do filme. Isto dificultou ainda mais a escolha pois nas férias vi imensos filmes, que passei a gostar muito. Juntando com os outros filmes que adoro, tornou a escolha ainda mais complicada.

Finalmente decidi escolher “A Paixão de Shakespeare”. Este filme mostra-nos uma fase da vida de William Shakespeare em que ele, supostamente, sofre de um bloqueio criativo que o impede de escrever. Para ultrapassar este impasse, ele procura uma musa que o inspire para escrever uma nova peça de teatro. E eis que aparece Viola de Lesseps, uma jovem e bela aristocrata, que nutre uma grande paixão pelo teatro e pela representação. Como, nessa época, as mulheres não estavam autorizadas a actuar em palco esse sonho não podia ser realizado. Tudo muda quando os seus caminhos se cruzam…
Acho que este filme é ideal para iniciar mais um ano do nosso Clube de Cinema. Eu amo este filme e isso, acima de tudo, é o que mais importa.
Já agora convém lembrar ainda que “A Paixão de Shakespeare teve o privilégio de ganhar 7 Óscares - entre eles o de melhor filme e de melhor actriz principal para a adorável e talentosa Gwyneth Paltrow.

Querem saber se a sessão vai correr bem? Não sei, é um mistério… Apareçam e discutam com gosto.

Rodrigo Figueiredo 10.º E

sábado, 13 de agosto de 2011

casa da caldeira: A Alma da Casa

casa da caldeira: A Alma da Casa: "Esta não é a casa onde nasci. A Casa onde nasci tinha grandes janelas de velhas vidraças, que em certas zonas distorciam as imagens lá de ..."

quinta-feira, 16 de junho de 2011

o ermita, o street artist e o mestre do terror

gostava de partilhar com o clube de cinema as minhas reflexões pessoais sobre três filmes que vi ao longo desta (tão boa) semana de férias. foram eles:

THE TREE OF LIFE: o novo terrence malick, após The New World, de 2005, e apenas o quinto filme deste verdadeiro misterioso cineasta. em cannes, uns aplaudiram, outros assobiaram, se lá estivesse, seria daqueles que aplaudiram. The Tree of Life encaixa-se como uma peça de um puzzle na encruzilhada da obra de malick, explorando temas como a fé, a perda da inocência, a ausência de moral no mundo moderno. simplesmente, malick faz o seu filme de uma forma ora abstracta, ora onírica, com uma estrutura aparentemente desconexa, contrapondo a vida microscópica de uma família americana com a própria criação do mundo. mas tudo se une no fim, pois é isso mesmo que a árvore da vida (elemento da mitologia nórdica) representa, a união de todos os homens com a natureza. e se aceito as críticas de alguns, que chamam ao filme megalómano, panteísta e/ou pretensioso, não deixo de responder que tais adjectivos não são necessariamente defeitos. neste caso, são virtudes, e virtudes que fazem uma obra-prima. pois que ninguém filma como malick, isso ninguém pode contestar.








EXIT THROUGH THE GIFT SHOP: Banksy, o homem sem rosto. quem não ouviu já falar neste graffiter fabuloso que é já vendido nas maiores galerias de arte contemporânea do mundo e que nunca revelou a cara? e este génio ou vândalo, consoante uns e outros, fez agora um filme. ousado, rebelde, mas mais que tudo surpreendentemente interessante, é uma reflexão sobre a arte e o papel do artista, o consumismo e o papel dos críticos que banksy nos propõe. se o espectador vai ver o filme à procura de uma obra sobre o próprio banksy, como seria de esperar, então pode ficar em casa. Exit Through The Gift Shop é muito mais do que isso. e é, em primeiro lugar, o documentário que devia ter ganho o oscar o ano passado.












THE WARD: eis o tão esperado filme de carpenter, dez anos depois de Fantasmas de Marte, um dos seus melhores filmes. mas the ward está muitos pontos abaixo deste último. viram shutter island, de scorcese? é mais ou menos a mesma coisa. e apesar de considerar o carpenter um dos melhores cineastas vivos, tenho de dizer que o shutter island estava melhor que o the ward, por mais que me custe colocar um scorcese acima de um carpenter... a história dos dois filmes é de facto idêntica e como os dois saíram num curto espaço de tempo é impossível não fazer comparações. se o scorcese é, para mim, uma nódoa, um tipo que já há muito perdeu toda a coerência, e chegou a ter alguma nos anos 70, tenho de afirmar também que o the ward, goste-se mais ou menos, é também ele um filme totalmente vazio e sem personalidade... ao ver aquele filme nunca diria que é um trabalho do carpenter... assim, entre dois filmes alheios às temáticas usuais dos seus realizadores, acho que o shutter island ganha pela sua enorme produção, ambiência, actores, reconstituição de época, e até alguma classe na forma como é feito... o the ward, infelizmente desiludiu-me bastante... desde a obra-prima que foi o ghosts of mars, que eu esperava, há dez anos, por um novo filme do mestre do horror... espero não ter de esperar outros dez para ver o carpenter regressar à sua forma...

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Boas Férias!

terça-feira, 7 de junho de 2011

“A Última Sessão” (deste ano lectivo)

No dia 7 de Junho de 2010 escrevi um post neste blogue com o mesmo título: “A Última Sessão” (deste ano lectivo) com a etiqueta “Festival de Curtas”. Se quiserem confirmar procura-se facilmente dando um clique em “Festival de Curtas” na banda lateral das etiquetas. A ideia era complementar o texto do José Pacheco com o vídeo e uma referência ao excelente filme de Peter Bogdanovich “A Última Sessão” (The Last Picture Show) de 1971.

O texto começava assim:

“Para complementar o anterior post do José aqui vai o vídeo com apenas alguns apontamentos.
Esta sessão foi um dos momentos mais emocionantes que ultimamente o Clube de Cinema me tem oferecido.
(…)
Espero que o filme, apesar destes problemas, nos dê um "retrato" mais ou menos fiel desta memorável sessão e que nos possa fazer recordar esta excelente maneira de encerrar, este ano lectivo, o projecto do Clube de Cinema "Gostos Discutem-se".

Bom, quis o destino que esta sessão se tornasse ainda mais emocionante que a anterior.
Por isso só me resta novamente expressar o meu desejo que este vídeo “nos dê um «retrato» mais ou menos fiel desta memorável sessão e que nos possa fazer recordar esta excelente maneira de encerrar, este ano lectivo, o projecto do Clube de Cinema "Gostos Discutem-se".

Afinal, às vezes, algumas coisas boas (com umas poucas alterações) até se podem voltar a repetir.

sábado, 4 de junho de 2011

O FESTIVAL DE CURTAS-METRAGENS DO GOSTOS DISCUTEM-SE

Khirstine, a extraordinária aluna que veio do frio, dizia, no fim da sessão, no seu sotaque que não a impede de tentar falar: «Mas isto em Portugal existe em todas as escolas, este amor pelo cinema, estas pessoas que sabem tanto e se juntam num clube de cinema? Não há nada disto na Dinamarca, nem nunca ouvi falar de alguma coisa assim, seja nos EUA, seja onde for...»

Estávamos no fim do Festival de Curtas-metragens promovido pelo clube. O André Jorge já tinha salientado, no seu discurso exacto e completo, o facto de ter havido filmes muito bons, o facto de o clube de cinema ter sido suficientemente aberto para aceitar a concurso filmes que teriam sido discriminados - ou censurados - noutras escolas: foi também o reconhecimento do papel do Gostos Discutem-se no apuramento e propagação de uma contagiante cultura cinéfila.

O Francisco, humilde e generoso, que tem sido a verdadeira alma do clube, divulgando-o por todos os meios, experimentando as novas tecnologias, para que, de cada vez mais longe, saibam o que andamos a fazer e venham até nós, estava perante um sonho tornado realidade: uma sala a abarrotar de entusiastas, gritos, apupos, alegria.

O apoio da escola e da Direcção a este projecto que é, à sua maneira, um cisne negro, isto é, algo que vinga contra todas as expectativas, raro e fora de tudo o que se tem feito por aí, foi bem notório.

E, de facto, na comparação com o festival do ano passado, a melhoria tornou-se evidente: mais filmes, mais qualidade, mais empenhamento; um júri com uma tarefa dificílima, de que se incumbiu brilhantemente; e uma conferência de imprensa final, que possibilitou uma conversa (e uma discussão) sobre os filmes.

Para o ano voltamos. No futuro longínquo, quando alguém falar de Cannes, um miúdo perguntará: «O que é isso?» - e alguém terá de explicar: «era assim uma espécie de "Festival de Curtas" do Gostos Discutem-se»

domingo, 29 de maio de 2011

30.ª Sessão do CC de 2010/2011

ENTREGA DE PRÉMIOS
2.º Festival de Curtas

Quarta-feira no Anfiteatro
01 de Junho às 14h30


Sessão de entrega dos Prémios e Diplomas
a todos os participantes das curtas
.



LISTA DOS FILMES A CONCURSO

BÁSICO

À Procura do Sonho

Argumento e Realização: Carolina Viegas e Ana Sofia Pendão (8.º E)
Montagem e Edição: Carolina Viegas
Guarda-roupa e Caracterização: Cáudia Magro
Intérpretes: Carolina Viegas (Charlot), Matilde Albuquerque (Matilde Albuquerque), Ana Sofia Pendão (Secretária).





Descobre / Descobre-te



Argumento e Realização: João Leão (9.º D)
Fotografia, Montagem e Edição: João Leão
Intérpretes: Rita Oliveira Esteves.






O Jogo



Argumento e Realização: Eduardo Santos e Lucas Mano (8.º A)
Montagem e Edição: Eduardo Santos e Lucas Mano.
Intérpretes: Eduardo Santos e Lucas Mano.





Procurando Jesus no Meio de 3 Judas



Argumento e Realização: Filipe Caetano, Guilherme Tavares, João Martins e Rodrigo Teixeira (8.º B)
Fotografia: Afonso Rodrigues e André Vieira.
Montagem e Edição: Rodrigo Teixeira.
Intérpretes: Filipe Caetano (o ateu), Guilherme Tavares (o muçulmano), João Martins (o protestante), Rodrigo Teixeira (o judeu) e a participação especial de Mariana Brízido.



Wendy e Gretel



Argumento e Realização: Bárbara Ribeiro e Matilde Albuquerque (8.º E)
Cameraperson: Ana Sofia
Intérpretes: Bárbara Ribeiro (Gretel), Beatriz Lory (Wendy), Matilde Albuquerque (Elizabeth), Carolina Viegas (Rose), Gonçalo Silva (William), Isabel Conduto (Narradora) e Cuka (Cão).




SECUNDÁRIO

Azul



Realização: André Vieira e João Sacramento (12.º C)
Argumento : André Vieira e João Sacramento inspirado no conto “Aquele Azul” de Maria Judite de Carvalho.
Produção: André Vieira, Bárbara J. Cooper, Frederico Gimenez, Hernâni Medina.
Intérpretes: Diogo Caridade (o homem).





Donas de Casa - A Revolução



Realização: André Jorge (12.º E)
Argumento e Produção: André Jorge, João Galhofo, Ruben Viveiros, Samatha Isidro e Tomás Vítor.
Intérpretes: André Jorge (Manel), João Galhofo (o segundo filho e o nerd), Tomás Vítor (o filho varão e o chunga), Samatha Isidro (Maria do Céu e a mulher moderna), Ruben Viveiros (o traidor).




Menina dos Olhos Tristes



Realização: João de Almeida d’Eça (12.º F)
Argumento: João de Almeida d’Eça, inspirado na música Menina dos Olhos Tristes, de José Afonso com letra de Reinaldo Ferreira.
Operador de Câmara: João Sacramento
Som, Fotografia, Montagem e Produção: João de Almeida d’Eça
Intérpretes: Beatriz Brás (a Menina), João Pontes (o Soldado), Ricardo Morais (o Filho), Bruno Neves (o Guarda) e José Pacheco (o Pai).




Psicose



Realização: João Sacramento, Frederico Gimenez, André Vieira, Bárbara J. Cooper, Hernâni Medina (12.º C)
Argumento: Frederico Gimenez.
Intérpretes: Frederico Gimenez (Gonçalo aos 20 anos), Gonçalo Vieira (Gonçalo aos 9 anos), João Sacramento (Frank), Bárbara J. Cooper (1ª vítima)André Vieira (2ª vítima), Raúl Cardeira (3ª vítima e jogador 3), Diogo Caridade (jogador 1), Martin Mata (jogador 2), Margarida Vieira (mãe), José Pereira (talhante), Elisa Costa Pinto (psiquiatra)




Sex n’ Jazz



Realização: André Jorge (12.º E)
Argumento e Produção: André Jorge, João Galhofo, Ruben Viveiros, Samatha Isidro e Tomás Vítor.
Intérpretes: João Pontes, Catarina Pereira, Teresa Cardosa, João de Almeida d’Eça, André Jorge, Samatha Isidro, João Galhofo, João Mota, Catarina Medeiros, Tomás Vítor, Ruben Viveiros.



O ano passado foi assim...
Este ano vai ser melhor!

domingo, 22 de maio de 2011

29.ª Sessão do CC de 2010/2011

2.º Festival de Curtas-Metragens

Quarta-feira no Anfiteatro
25 de Maio de 2011 às 14h00



Exibição das curtas-metragens
realizadas pelos alunos da ESPJAL
com a presença das realizadoras

Joana Pontes e Cláudia Varejão
que fazem parte do júri.

Não são indicadas as curtas-metragens a concurso porque algumas delas estão em processo final de edição. Assim que tudo estiver concluído serão divulgados os títulos e os seus autores. De qualquer forma já existe a certeza de concorrerem 3 curtas no básico e 5 no secundário.

Apresentação da curta-metragem

"Um Dia Frio"
de Cláudia Varejão
seguido de debate.




segunda-feira, 16 de maio de 2011

28.ª Sessão do CC de 2010/2011

Quarta-feira no Anfiteatro
18 de Maio de 2011 às 14h30

Azul
de Krzysztof Kieslowski


apresentado pela
Prof.ª Conceição Ribeiro



«Nós que vivemos nos campos de concentração, lembramo-nos dos homens que passavam pelas tendas confortando os outros, dando-lhes o seu último pedaço de pão. Podem ter sido poucos, mas são a prova suficiente de que se pode tirar tudo a um homem, menos uma coisa: a última das suas liberdades – a de escolher o seu comportamento em quaisquer circunstâncias, a de escolher o seu próprio caminho.»
(Victor E. Frankl, Man´s Search for Meaning).


«Sobre a Liberdade … E tudo o que quereis afastar para ficardes livres, que é, senão fragmentos de vós mesmos?»
(Khalil Gibran, O Profeta,)


O Azul da bandeira francesa (a tricolor, azul, branco e vermelho) está associado à liberdade.

A utilização de imagens de azul no filme não deixa de ser paradoxal. Ora nos remete simplesmente para as cores de objectos significantes associados às personagens, ora nos desafia a postular novos significados, em contextos mais abstratos Na verdade, o azul é a cor associada à dor da perda. No entanto, Kieslowski usa o sofrimento como um meio para ilustrar o tema da libertação catártica.
A superfície azul da água da piscina, inicialmente é sugerida como um escape, onde Julie procura um esforço físico mais do que um confronto emocional; onde, ainda assim, por duas vezes, procura sucumbir, respira ofegante e pára, repentinamente vencida pelos fragmentos de acordes de um concerto inacabado.
Raros são os momentos de luz branca.
Juliette Binoche no papel de Julie Vignon de Courcy, a única sobrevivente de um acidente de carro que tirou a vida de seu marido, um famoso compositor e sua filha. Incapaz de viver na propriedade rural com suas lembranças dolorosas, ela abandona todos os seus pertences para iniciar uma “nova vida”.
A dor de Julie é tão profunda que ela não pode chorar, nem sentir. Ela parece fria e silenciosa, indiferente à sua perda. No entanto, sua linguagem corporal revela que ela está em profundo sofrimento.
Julie está sempre, ou quase sempre, sob o olhar da câmara do realizador … ainda que pontuado por períodos de escurecimento, “blackouts”, como se isso correspondesse a um fechar de olhos, a olhar para dentro e a explorar os seus pensamentos mais recônditos e as suas memórias.



Azul é um filme com imagens de enorme beleza, como uma miragem, intencionalmente construído para ser olhado. Uma construção que não assenta nos diálogos imaginados mas na subtileza das imagens/acções. A esse respeito, Pedro Almodovar terá dito que são imagens a mais, demasiado belas para serem levadas a sério e terá argumentado que os espectadores serão levados pelas imagens ao ponto de perderem o essencial do filme, as mensagens mais profundas escondidas atrás das aparências.
Kieslowsky usa magistralmente uma linguagem cinemática para exprimir e representar situações e estados emocionais difíceis e complexos. Ele sublinha, até ao limite, as possibilidades dessa linguagem, por forma a abrir caminho a novas perspectivas: não se trata de simples brincadeiras, truques para distrair o espectador, trivialidades ou seduções. Pelo contrário, representam um esforço no sentido de chegar a novas descobertas (do cinema, da humanidade), como estratégias de destabilização, tão vulneráveis quanto belas. Há pormenores que nos aproximam do inferno, do desespero, do medo, da condenação. O que Kieslowsky procura fazer é descobrir uma linguagem cinemática que possa exprimir os dilemas de Julie.
O conflito central foca-se no modo como Julie elabora o processo de luto, como é gerida a dor da perda …. Definitivamente, não perfilho a ideia de que Julie quisesse livrar-se das suas memórias, esvaziar-se do passado e reconstruir uma nova relação com o futuro, reprimir a dor ao ponto de a negar. Embore tente viver sem história ou desejo, as memórias vêm ao de cima, de vez em quando e de diferentes maneiras: fragmentos de música vencem-na, acompanhados por vazios (blackouts) … Julie retorna à vida e progressivamente envolve-se com os outros. Julie faz uma espécie de reconciliação com o passado.
Há um momento que nos chama a atenção para a impossibilidade de Julie escapar ao seu passado, a um passado que ela desconhecia. A única cena no filme em que Julie não está presente é quando Olivier esvazia a secretária de Patrice e onde estão as fotos de Sandrine… o passado veio ter com ela e as tentativas para cortar com esse passado não tiveram sucesso…

Uma pessoa pode ter todas as coisas do universo, mas se não tiver com quem as partilhar, então a sua existência de nada vale. Foi essa a história de Julie, que tentou livrar-se de tudo o que a ligava aos outros mas acabou por perceber que valia a pena envolver-se e fruir da companhia dos demais (Olivier, Lucille, Antoine), partilhar conhecimentos e bens materiais (Sandrine e Olivier), sem perder a sua individualidade, aceitando e respeitando as escolhas de cada um.
Peculiar o que aproximou duas mulheres tão diferentes – Julie e Lucille - um acaso fortuito, como o abster-se de participar condicionou de forma determinante a vida de Lucille, como se reconheceram próximas uma da outra, ao ponto de poderem confiar os seus medos.
A sequência final começa e acaba com Julie, como se todos fizessem agora parte dela. Ela completou o concerto e fez o luto. Tentou viver em “LIBERDADE” – sem memória, sem desejo, sem trabalho ou quaislquer envolvimentos … ironicamente voltou a conhecer o amor, um amor renascido, inteiramente novo.
Para uns, as imagens da sequência final do filme sugerem um novo renascer, para outros uma “unificação”, em consonância com o concerto e a unificação da Europa.

«Se eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, mas não tiver amor, sou um sino ruidoso ou como o címbalo que retine. E se eu tiver o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e se eu tivesse toda a fé, a fim de mover montanhas, mas não tiver amor, nada serei….» I Coríntios 13: 1-2

Conceição Ribeiro

webresources:
www.sensesofcinema.com
Strictly Film School / Acquareloo 1997 e ainda «Reading ThreeCoulours: Blue», by Richard Rushton, October 2000

terça-feira, 10 de maio de 2011

27.ª Sessão do CC de 2010/2011

Quarta-feira no Anfiteatro
11 de Maio de 2011 às 14h30

Italiano para Principiantes
de Lone Scherfig

apresentado pela
Kirstine Nielsen do 11.º E


Beaten by Bieber!
Não vos quero assustar logo de início ao dizer que Italiano para Principiantes, por acaso, não foi a minha primeira escolha quando me foi proposto apresentar um filme no Clube de Cinema.
“Porque é que nós temos de vir ver um filme que até a própria apresentadora não seleccionou como primeira escolha?” devem estar a pensar.
É que há outros filmes que eu acho que representam melhor o cinema dinamarquês mas infelizmente nenhum tinha legendas em português.
São filmes caracterizados por muito humor e ironia e umas vezes também um pouco esquisitos... (pelo menos são os filmes dinamarqueses que eu acho serem os melhores.) Mas por alguma razão não existem muitos filmes da Dinamarca que estejam à venda aqui em Portugal com legendas, quer dizer quase nenhuns!
Até o filme dinamarquês que ganhou um Óscar para o melhor filme estrangeiro, só se pode ver em dois cinemas aqui em Lisboa, enquanto Never say never de Justin Bieber pode ser encontrado em qualquer cinema…




Mas…
não fujam, porque o filme é bom!

Italiano para principiantes estreou em 2000 e foi logo um sucesso nos cinemas dinamarqueses. Obedece às regras do DOGMA 95, o que significa que qualquer efeito especial não é permitido e até a música e a luz falsa não se podem usar. Assim ficamos apenas com a história. E é mesmo isso que é importante no Italiano para Principiantes. Uma história de pessoas com problemas muito graves, mas que ganham uma nova esperança pela vida, quando se juntam num curso de italiano.

Agora não digo mais nada.
Vou deixar-vos ver o filme para depois poderem dizer-me o que acharam…
se gostaram ou se odiaram…

Kirstine Hupfeldt Nielsen (11.º E

sexta-feira, 6 de maio de 2011

DESPOJOS DE GUERRA

Da última sessão do clube, com características muito particulares, graças à cultura e ao saber (cinéfilos e não só) de Luís de Almeida d'Eça, pai do João, saí com o desejo de prolongar as descobertas que ali fiz.
Escrevo, agora, num computador de uma biblioteca próxima.
A esta biblioteca vim buscar dois livros que o Luís sugeriu, a propósito do filme.
Um deles é A Mulher e o Fantoche, de Pierre Louys, em que se inspira O Diabo É Uma Mulher.
O outro é Fiesta, de Hemingway.
São despojos de guerra, que transporto antecipando prazeres.
Esta é uma das funções do clube, evidentemente - porque, como o Francisco costuma lembrar, «isto anda tudo ligado».

domingo, 1 de maio de 2011

26.ª Sessão do CC de 2010/2011

Quarta-feira no Anfiteatro
04 de Maio de 2011 às 14h30


The Devil is a Woman
(O Diabo é Uma Mulher)
de Josef Von Sternberg

apresentado pelo

Encarregado de Educação
Luís de Almeida d'Éça




Tomando como exemplo Pigmaleão e Galateia, o cineasta Josef Von Sternberg usou, ao longo da sua vida, a famosa fórmula bovariana “Marlene sou eu” para salientar a identidade entre criatura e criador.

Josef von Sternberg e a actriz Marlene Dietrich formaram uma das relações mais complexas e fascinantes da história do cinema e colaboraram em sete obras-primas de beleza incomparável: O Anjo Azul (1930), Marrocos (1930), Fatalidade (1931), O Expresso de Xangai (1932), Vénus Loira (1932), A Imperatriz Vermelha (1934) e, por fim, O Diabo É uma Mulher (1935).

Envolta em véus, redes, fumo, peles, penas e plumas, fotografada num jogo prodigioso de sombra e de luz, Marlene Dietrich tornou-se num dos mitos imortais da sétima arte.



A propósito de O Diabo É uma Mulher, a última obra que filmaram juntos e a preferida de ambos, o realizador alimentou o desejo de, um dia, poder projectá-la do fim para o princípio, facto que reforça o carácter radical e abstracto do filme.
Apesar de adaptar com grande fidelidade o romance A Mulher e o Fantoche de Pierre Louÿs, não tem como objectivo principal desenvolver uma narrativa nos moldes tradicionais, mas criar um deslumbrante poema visual barroco, de intenso erotismo, sobre os temas recorrentes do desejo, dos mistérios do eterno feminino e da impossibilidade do amor.


O Diabo É uma Mulher desfez a dupla Sternberg/Marlene e arruinou a carreira do cineasta, um dos raros génios da história do cinema. Foi um dos mais singulares e arrojados projectos que nasceram no seio de um estúdio de Hollywood. Uma experiência-limite. Um filme que ousou libertar-se dos constrangimentos da indústria e transformar-se numa obra de arte.

Como consequência, não teve praticamente distribuição comercial. Na Europa foi visto pela primeira vez no Festival de Veneza de 1959 e, em Portugal, em 1977, na Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito do ciclo Cinema Americano dos Anos 30. No nosso país só estreou comercialmente em 1997, no cinema Ávila, com um atraso de 62 anos relativamente à data da estreia mundial.

Apresentá-lo no Clube de Cinema da Escola Secundária Professor José Augusto Lucas perante um grupo de espectadores jovens, infinitamente mais sofisticados do que as plateias dos anos 30 do século passado, constitui um aposta sedutora. Como todas as obras de arte verdadeiramente relevantes, o filme mantém-se em aberto num desafio permanente que exige o esforço analítico de quem o vê.

O meu desejo é o de que, juntos, o saibamos discutir para melhor o entendermos. No final, com sorte e sobretudo com inteligência e criatividade, talvez o consigamos merecer.

Luís de Almeida d'Eça

domingo, 24 de abril de 2011

25.ª Sessão do CC de 2010/2011

Quarta-feira no Anfiteatro
27 de Abril de 2011 às 14h00

A Ponte do Rio Kwai
de David Lean

apresentado pela
Prof.ª Teresa Gomes

Este filme costuma ser apresentado como um filme sobre a segunda guerra mundial, ou sobre um campo de prisioneiros japonês na Birmânia (hoje Myanmar) ou, como vem descrito na minha versão em DVD, a “história da destruição de uma ponte ferroviária construída pelos prisioneiros britânicos na Birmânia ocupada”(?!). Mas o que vem de imediato à lembrança é o tema musical do filme: a “marcha do Coronel Bogey” assobiada pelos prisioneiros britânicos.



O contexto temporal reporta-nos para 1943. O Japão, potência imperialista do Eixo, expandia o seu domínio na Ásia contra o domínio colonial britânico, firmado durante o século XIX nas guerras anglo-birmanesas que terminaram com a anexação de diversos territórios na Indochina. O avanço japonês punha em causa o domínio britânico e servia de apoio para o ataque à Índia. A construção de uma linha de caminho de ferro que ligasse o sul (Singapura) ao Norte da península da Indochina, servia a estratégia japonesa.

A companhia britânica comandada pelo coronel Nicholson (papel assumido pelo brilhante Alec Guinness) chega ao campo de prisioneiros comandado pelo general Saito (Sessue Haykawa), com o objectivo de ajudar a construir uma ponte ferroviária sobre o rio Kwai. As cenas iniciais apresentam os princípios em confronto. De um lado Nicholson, representante dos valores civilizacionais europeus a ser implementados em todo o mundo – “Sem lei não há civilização”. Para Saito (Sessue Haykawa), a missão tem de ser levada a cabo para manter a sua própria dignidade. Trata-se da sua contribuição pessoal para o sucesso do seu país. Assume-se como um elo na engrenagem imperial. A questão da liderança é o aspecto que mais me atrai neste filme. Dois estilos de liderança que correspondem a duas culturas diferentes.

“Líder não é aquele que manda mas o que é seguido”. Tal afirmação, a ser verdadeira, remete-nos já não para a unicidade do tema da liderança mas para um binómio - líder e liderados. Quem o segue e por que o segue? Esta é a questão mais interessante. Porque tem um cargo superior? Porque defendem os mesmos valores?
Neste tema emerge também um terceiro ponto fundamental – o contexto, a missão. O orgulho tecnológico do Ocidente. O Homo Faber que se realiza construindo, criando, mesmo que isso sirva os propósitos do inimigo. Como refere Nicholson, é preciso dar-lhes um propósito, um objectivo. O ardor colocado nesta missão sobreleva-se às leis que o próprio Nicholson coloca acima de tudo no início do filme – e acaba por desequilibrar o sistema de liderança: o líder, os liderados, a missão.

A personagem de Shears (Wiliam Holden), o americano, também é muito interessante. Representará a liberdade individualista do novo mundo? Servirá de contraponto ao ponto de vista do coronel Nicholson? O que o move? No fim percebe-se; a mensagem é simples e localizada no tempo. É um filme de 57. Fascinante.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ainda a propósito da visualização, na última sessão, do filme “Capitães de Abril” de Maria de Medeiros.



Por alturas da procura do texto crítico que acompanharia, no folheto sobre o filme, a opinião da nossa convidada, tive alguma dificuldade em encontrar algo suficientemente interessante.

O tempo mais chuvoso destes dias tristes permitiu-me algumas arrumações - às vezes muito desarrumadas…


E assim, eis-me diante de um texto de Joaquim Fidalgo (ver link) de 30 de Abril de 2003, publicado no jornal “Público” numa crónica periódica de nome “Crer Para Ver”, que decidi partilhar convosco.

Abril ainda
Daqui, deste cantinho singelo e breve, eu gostava, muito humildemente, de agradecer a Maria de Medeiros o filme que ela fez sobre o 25 de Abril, filme que há dias revi na RTP1.
Alguém devia fazer esse filme - e ela fez.

Alguém devia falar desse dia, desse tempo, com uma linguagem bonita, rigorosa mas simples, de barulhos e festa, mas também de silêncios, de ouvir e de ver (de "ouver", como dizia o José Duarte), de passar e andar rente ao coração sem por isso deitar fora a cabeça - e ela falou. Alguém devia contar essa história com razoável atenção à realidade dos factos - e ela contou -, mas sem ficar também preso à mera espuma da factualidade mais imediata do real - e ela não ficou. Ela temperou a história com umas quantas histórias ficcionadas, criadas, reinventadas, para assim chegar mais e melhor (e nós com ela) à verdadeira verdade daquilo que aconteceu. E nada melhor do que uma boa ficção para nos revelar a verdade tantas vezes invisível na mera observação dos factos, essa camada superficial das "coisas tal qual foram", que frequentemente tão pouco nos diz das coisas em si.

Alguém devia, por um momento, devolver-nos os nossos heróis puros, simples e ingénuos, heróis que coordenam as operações militares de um golpe de Estado com o mapa das estradas do ACP e se perdem nas ruas estreitas da cidade grande, e param ao sinal vermelho do semáforo quando vão a caminho de fazer a revolução só porque não querem magoar ninguém, mas que são ao mesmo tempo tão determinados, tão seguros, tão generosos - e ela devolveu-nos. Pôs-nos ao lado deles por um instante de sonho (tão real ele também), mesmo sabendo nós que muitos haveriam de ser, mais tarde, triturados pela roda voraz de novos e velhos poderes. Muitos, não todos. E um só que fosse, um só que sobrasse...

Alguém devia pôr a par história de Abril e história de amor, falar de uma e de outra entrelaçadas, como a metáfora tão realidade de uma Manuel e uma Rosa enfim livres por todos os lados, enfim encontrados, enfim dados no seio acolhedor de uma "chaimite" que anunciava o tempo novo - e ela, Maria de Medeiros, pôs, falou.

Como já antes, quero crer, o tinha feito Sophia de Mello Breiner Andresen, artista única do olhar, do ver e do dizer, em dois dos seus poemas mais conhecidos, tão sintomaticamente semelhantes no impulso inicial, tão paralelos na forma, falando um de uma coisa e outro de outra e os dois, no entanto, da mesma - e de um quase mesmo modo. Poemas separados por três décadas, mas, bonita coincidência, próximos até nos números do tempo em que nasceram (um de 1947, outro de 1974), poemas que guardamos dentro de nós com o encanto do primeiro alvorecer.

Este:
"És tu a Primavera que eu esperava
A vida multiplicada e brilhante
Em que é pleno e perfeito cada instante."
(Dia do Mar, 1947)

E este outro:



"Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo."
(O Nome das Coisas, 1974).

Poemas de amor, ambos.

Joaquim Fidalgo

quinta-feira, 7 de abril de 2011

PERGUNTA: QUANTOS PARES DE OLHOS ESTIVERAM ONTEM NO CLUBE DE CINEMA?

1
Para começar, entendo que, em si mesma, a presença, na sessão, da mãe de uma aluna constituiu já um ganho e um passo importante na evolução do clube. Mais ainda se, como aconteceu, essa mãe assumia a responsabilidade da escolha de um filme. E, concretamente, esse ganho e esse passo tornam-se perfeitos quando a mãe em causa é Paula Montez, que imprimiu ao debate um interesse, uma simpatia e, portanto, uma dinâmica muito peculiares.
2
Houve outros aspectos que não quero deixar de assinalar, porque me tocaram. Por exemplo, a presença do André, com quem mantive, neste mesmo blogue, uma cortês mas acesa discussão acerca do preconceito em relação ao cinema português. Que o André fosse ver o filme de Maria de Medeiros e, mais do que isso, o tivesse apreciado, agradou-me. Não como se eu tivesse vencido algum tipo de guerra: eu e o André nunca estivemos em guerra, sempre estivemos em paz, argumentando e aprendendo em conjunto. (E digo-o sinceramente, não para manter um registo politicamente correcto, que, como sabem, não é o meu género). Perguntei-lhe: «Então, gostou?»; respondeu-me: «muito!» Bastou.
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Finalmente, a sessão foi importante porque, sendo um filme sobre o 25 de Abril (mesmo tratando-se de um filme com erros e imperfeições), cumpria, de certa forma uma missão, um dever para com a memória, e nem por isso afugentou os jovens mais jovens. Tivémos a casa cheia de rapazes e raparigas de cujo imaginário o 25 de Abril não faz e nunca fez parte. Atentos, curiosos, com os olhos muito vivos de perguntas (das perguntas que depois, no debate, não foram capazes de formular, mas que os mais velhos iam adivinhando...)
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Perguntava-me o Francisco, sorrindo, se eu tinha reparado bem na diversidade de idades que ali se tinham cruzado: alunos de todos os anos, uma mãe, professores com diferentes graus de vivência e memória do 25 de Abril. Se eu reparei? Ai não!
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Gosto muito de falar de filmes. Ultimamente, como vêem (ou lêem), tem-me apetecido mais falar acerca da plateia. São fases. O ponto é: este clube anda a encher-me de orgulho e alegria - outra vez!

terça-feira, 5 de abril de 2011

24.ª Sessão do CC de 2010/2011

Quarta-feira no Anfiteatro
06 de Abril de 2011
às 14h00


Capitães de Abril

de Maria de Medeiros


apresentado pela
Encarregada de Educação

Paula Montez


Abril será sempre o mês da Revolução dos Cravos

Escolhi o filme «Capitães de Abril» por motivos de ordem pessoal e por motivos de ordem histórica.

Andava na 4.ª classe (actual 4.º ano) quando aconteceu o 25 de Abril. Sou daquelas pessoas que tem a imagem de criança de ver os quadros de Marcelo Caetano e de Américo Tomás a serem retirados da parede da sala de aula. Lá em casa na parede da sala havia um quadro do Che Guevara e recordo o receio que a minha mãe tinha que alguém de fora o visse, o homem que ia contar a luz ou alguém que fosse fazer uma reparação. O meu pai era oficial da Marinha, uma pessoa de esquerda que não concordava com a ditadura. O meu irmão com quase 18 anos estava na calha para ir para a Guerra Colonial. O 25 de Abril entrou em minha casa como uma esperança renovada. No primeiro 1º de Maio (dia do Trabalhador que antes não se podia comemorar) fomos para a Alameda e, daquela imagem do povo unido enchendo as ruas ainda sem bandeiras de partidos políticos, retenho a ideia de que as pessoas estavam realmente com uma expressão feliz nos rostos. Tinha chegado o seu momento de sentir a Liberdade de poderem falar umas com as outras sem o receio de serem denunciadas à polícia política (PIDE) pelo vizinho do lado.

Passaram já mais de três décadas do 25 de Abril e muito dos que aqui estão a assistir ao filme são filhos da geração dos filhos de Abril. Habituámo-nos a comemorar a revolução cada vez mais longínqua de Abril, mas muitos de nós já não sabemos exactamente o que comemoramos. Para as próximas gerações o 25 de Abril será apenas mais um acontecimento a estudar no livro de História. Para além disso restam-nos as imagens: as fotografias e os filmes documentais que ficaram, e os filmes que entretanto se fizeram.

A Maria de Medeiros, actriz e realizadora do filme «Capitães de Abril», é também ela uma filha de Abril que achou pertinente traduzir o 25 de Abril num filme. Para isso teve certamente que estudar a época e que se documentar, porque este não é meramente um filme ficcional, é um filme que retrata um momento histórico. No entanto não se pode considerar um documentário porque as cenas são recriadas, com histórias por vezes mesmo romanceadas. A meu ver, com a minha memória dos factos e os conhecimentos que tenho do 25 de Abril, a realizadora soube captar o momento e dar uma ideia muito fiel do que realmente aconteceu naquele dia.

Estamos no mês de Abril. Para as pessoas da minha geração, o mês de Abril será sempre o mês da Revolução dos Cravos. Naquele dia foi possível acabar com a ditadura sem se recorrer à violência. O povo saiu à rua e os soldados colocaram-se do lado do povo, contra um regime que os mandava para a guerra morrer ou matar. Por isso foi um momento completamente bonito, com as ruas cheias de gente unida a acreditar em si própria e na sua capacidade de impor uma mudança.
Desejo que apreciem o filme e que participem activamente no debate.
E boas férias que bem merecem!

Paula Montez



domingo, 3 de abril de 2011

A Amizade no Clube de Cinema

Nas sessões dos “Gostos Discutem-se” existem pelo menos 4 formas de agir quando um membro do Clube de Cinema decide fazer uma escolha, com a qual não se concorda, e apresentar um filme.

1 - Uma é ir à sessão mas ignorar.
Não o questionando portanto. Por ausência de argumentos ou porque tendo-os se respeita o autor da opinião e se deseja que o debate não provoque feridas que podem deixar marcas no futuro relacionamento.

2 - Outra é não estar presente na sessão.
Surge também para evitar o confronto. Pode-se sempre arranjar um falso motivo para a ausência. Em alguns casos até se pode escrever no blogue, sobre outro assunto, com indirectas à qualidade do filme ou do realizador, mas sem assumir a discordância duma forma clara.

3 - Outra ainda é não ir à sessão e explicar porquê.
Dando a explicação a terceiros ou acabando por desenvolver os seus argumentos no blogue. Sem o fazer verbalmente, no local indicado que é no debate que se segue à passagem do filme. Afinal todos têm o direito a escolher pelo menos um filme e poder ter o prazer de o debater, mesmo que existam opiniões desfavoráveis. Se todos utilizassem esta estratégia nunca haveria um debate suficientemente rico e possivelmente existiria uma unanimidade bem desinteressante.

4 - Outras vezes decide-se ir à sessão e enfrentar o confronto de ideias.
Sem preconceitos. De uma forma civilizada. Sem golpes baixos, truques de argumentação ou outros estratagemas conhecidos que não conduzem a um salutar debate. Aquilo que eu chamo de “debate honesto”. Sem vencidos nem vencedores. Tentando não transformar a conversa num jogo: em que vencer é mais importante do que ouvir o que o outro tem para nos dizer. Desta forma eu fico a pensar nos argumentos que me foram colocados e espero que o outro faça o mesmo.

Reconheço que no Clube de Cinema, face a escolhas ou opiniões de alunos, professores ou convidados, já utilizei a primeira opção embora muito poucas vezes. Sempre que o fiz fiquei com o sabor amargo de sentir que não consegui ser suficientemente corajoso para enfrentar o meu companheiro de Clube com a minha opinião e poder voltar a conversar sem ressentimentos. Principalmente quando se trata de um elemento mais antigo, que eu já considero Amigo, não me deixa inteiramente satisfeito. Sinto um sentimento de cobardia que não me deixa bem comigo próprio. E por isso tenho vindo a utilizar a última opção. Provavelmente, em alguns casos, posso vir a perder algumas Amizades. Mas sinto um sentimento de coerência que me faz dormir descansado.

Nestes quase 3 anos de vida do Clube de Cinema já fiz várias Amizades com alunos, professores e convidados. Já assisti a sessões de filmes com que, à partida, não simpatizava muito e depois mudei de opinião. Noutros filmes em que eu depositava grandes esperanças, percebi que perderam a frescura que eu julgava que tinham. E claro, felizmente, a maioria dos filmes mantiveram ou até melhoraram aquando duma outra visão. Para isso foi sempre essencial o debate que se realizou no final e que faz deste Nosso Clube algo tão especial. Só apresentei ainda 2 filmes e acho que faltei somente a uma das 70 sessões organizadas desde Novembro de 2008, porque tive que dar assistência ao meu filho mais novo que se encontrava doente. E bem me custou porque o filme era “O Leopardo”, apresentado pelo meu Amigo José Pacheco.

Relembro que este texto não se refere aos membros do Clube, alunos e professores, que (simpatizando ou não com a proposta de filme) têm justificações incontornáveis para as suas ausências: preparação para os testes e o estudo em geral, reuniões, preparações de aulas ou, simplesmente, compromissos pessoais inadiáveis
.

É claro que este post se dirige a todos os meus Amigos do Clube de Cinema que, por um motivo ou outro, têm optado, por vezes, por utilizar as estratégias 1, 2 ou 3. Apesar de não concordar com eles quando agem dessa maneira, eu considero-os ainda meus Amigos.


Tem sido um prazer enorme partilhar várias opiniões e conhecer diferentes propostas de filmes nestes 3 anos e continuar a fazer Amizades. É por isso que eu continuo a ser um fiel Amigo do Nosso Clube de Cinema “Gostos Discutem-se”.

quinta-feira, 31 de março de 2011

FILM SOCIALISME (elogio a JLG)

















o último filme de jean-luc godard, oitenta anos, já, realizador mais influente e radical do movimento francês conhecido por nouvelle vague, que, por sua vez, originou muitas outras "novas vagas", no japão, estados unidos, inglaterra, alemanha, entre outros países, chama-se, simplesmente, film socialisme, filme socialismo, em português. não será um título de estranhar vindo de um cineasta que se afirma de esquerda do cabelo até às unhas dos pés, basta lembrar week end ou la chinoise que previram o maio de sessenta e oito. film socialisme é, em poucas palavras, um ensaio cinematográfico sobre a europa e o socialismo europeu, ou melhor, a ausência do socialismo europeu. tal como o notre musique, o filme é um tríptico, cujas partes têm muito pouca ligação entre si, se a têm de todo.
o primeiro segmento (muito à um filme falado, de manoel de oliveira): as histórias de um cruzeiro no mediterrâneo e os seus passageiros, seres que deambulam perdidos, lembrando por vezes zombies, e que falam nos seus diversos idiomas, não se compreendendo uns aos outros, ou melhor, acabando por se compreender porque só falam sobre dinheiro ("o dinheiro foi inventado para as pessoas não terem de se olhar nos olhos", citando o filme). nesta torre de babel marítima, um luxo de casinos, suites pirosas e missas em discotecas, godard elabora o seu primeiro excerto, usando (e por vezes abusando, em minha opinião) dos "seus" efeitos inovadores, que são já trademarks suas: dissociação do som e da imagem, intertítulos a comentar a acção, interrupção de conversações das personagens, cenas filmadas com diferentes lentes, formatos e câmaras... enfim, tudo isto, mais uma história que parece nunca se desenvolver, fazem a primeira parte do filme, ao estilo de godard, muito abstracto (mais ainda que os seus outros filmes, tirando talvez os do grupo vertov, que não conheço).
se a primeira parte é confusa, a segunda ainda o é mais. passamos agora a uma parábola sobre a família, a educação e os valores europeus (franceses, em particular). numa cena que semelha week end (a cena final), uma família que trabalha numa bomba de gasolina conversa sobre os valores ocidentais que se foram perdendo. aparentemente, os pais candidataram-se à presidência da república (e irão vencer as eleições) enquanto os seus filhos (uma leitora de balzac e um copiador de renoir's) os interrogam sobre o mundo que os rodeia. no meio disto tudo, jornalistas tentam entrevistar a família, mas são desprezados, tanto pelos filhos auto-centrados em si mesmos e na sua suposta intelectualidade, como pelos pais, que acabam por não conseguir explicar aos filhos os valores sobre os quais são questionados.
a terceira parte: uma visita célere a seis localizações europeias: palestina, barcelona, atenas, nápoles, egipto e odessa. desmitificando mitos, lutas e sangue derramado, godard sugere-nos talvez que o mundo europeu deixou de lutar, não porque não tenha razões, mas porque se conformou à realidade burguesa e capitalista que destruiu (e agora retomando o título) o SOCIALISMO. o exemplo mais fulgurante é o de odessa, em que godard nos mostra pedaços do couraçado potenkim, de eisenstein, a famosa cena da escadaria de odessa, lembram-se?, e nos mostra depois essa mesma escadaria repleta de turistas que saem do cruzeiro (aqui há uma ligação fugaz ao primeiro segmento) e são recebidos por russos em trajes ridiculamente folclóricos. assim, estas cidades da antiguidade ocidental, acabam por ser visitadas por um bando ignorante de burgueses com as suas câmaras de fotografar e roupas de saloio.
e FILM SOCIALISME é isto: abstracto, confuso, de múltiplas, por vezes paradoxais, interpretações, difícil (várias pessoas saíram a meio da sessão), comprido (para filmes do godard), e dificilmente considerado um filme. será mais um ensaio cinematográfico com uma vertente documental e um tratamento à nouvelle vague. ainda assim, adorei. o que vemos é um godard que, como num ciclo, regressa às origens, talvez um pouco esgotado, sem nada de muito novo para se dizer, mas o certo é que as coisas continuam as mesmas. este filme, de dois mil e oito, é importante sublinhar, que só estreia agora por causa de um processo longuíssimo de pós-produção, acaba por ser uma parábola muito interessante e diferente sobre a crise que corrói agora o mundo e a europa e o socialismo, diferente de filmes (também sobre a crise) como inside job (vencedor do oscar de melhor documentário este ano) ou the company men, estudos ligeiros sobre a situação internacional. sem nunca se desviar do seu estilo, godard afirma-se naquele que será, porventura o seu último filme ou um dos últimos, a morte apanha-nos a todos, como um cineasta íntegro, radical, inovador, essencial, diferente, imortal. o que eu quero agora é rever o filme, ver se de o (re)ver descubro outras visões, porque um bom filme deve ser assim, complexo, intrincado, difícil. desta ambiguidade que se opõe a filmes básicos, maniqueístas e redutores que certos realizadores (medíocres) fazem quando decidem abordar temas sociais ou políticos, resulta uma obra-prima estonteante que, não se podendo comparar ao desprezo, filme semelhante em muitos aspectos, se inscreve numa filmografia notável, que faz inveja aos judeus de hollywood (referidos por uma das personagens do filme).
o filme termina com o ecrã negro e as seguintes palavras:
NO COMMENT



post-scriptum: não percam a cameo da eternamente genial voz do punk americano patti smith