quarta-feira, 20 de maio de 2009

2001: Seca no Espaço

Durante esta sessão foi-me perguntado várias vezes se eu gostava, de facto, do filme.  Para ser totalmente sincero, confesso que foi difícil manter-me acordado durante aqueles 140 minutos. Mesmo com umas duas ou três chávenas de café, não é fácil...Porquê? Não é pela qualidade do filme, de maneira nenhuma. Devo dizer que considero 2001: Uma Odisseia no Espaço uma obra-prima ou, como disse a Beatriz e muito bem, uma obra de arte. Talvez seja mais uma obra de arte do que propriamente uma obra-prima. A única razão que (penso eu) provocou uma sensação de tédio e a consequente algazarra na maior parte dos espectadores, foi o facto de Kubrick prolongar demasiado determinadas cenas: por exemplo, Kubrick faz questão de filmar, durante cerca de 10-15 mins, apenas os macacos a guinchar e a saltar. Como se isso não bastasse, o capítulo seguinte é, nada mais nada menos, do que mais 10-15mins a filmar o espaço e a estação espacial, ao som do Danúbio Azul de Johan Strauss. Não digo que isso seja mau. Stanley Kubrick é, decididamente, uma pessoa extremamente calma, que não tem pressa para nada. 
Não concordo com o Eça quando ele diz que apenas uma boa parte estética e/ou plástica não fazem um bom filme. E também não concordo com aqueles que pensam que um filme tem que ter, obrigatoriamente, uma mensagem ou um significado. Todos sabemos que existem filmes que não têm qualquer mensagem moral ou significado e não é por isso que deixam de ser considerados filmes.  
Acho que este é um grande filme que, embora não tenha um grande argumento nem uma história bem definida, consegue sê-lo apenas com as imagens, os efeitos especiais, as passagens, os sons...Sinceramente eu não estava muito interessado na história do filme nem em descobrir alguma mensagem, mas sim em apreciar o magnífico trabalho plástico e estético. É verdade, os sons! Se virmos este e outros filmes de Stanley Kubrick apercebemo-nos de que ele é, com certeza, um indivíduo que gosta e aprecia bastante música clássica. Acho que é uma ideia extremamente original conjugar este tipo de música com um filme como 2001: Odisseia no Espaço ou Laranja Mecânica.
Concluíndo: Existem filmes com magníficos argumentos, outros com grandes representações, outros com grandes efeitos especiais. Este é um filme que joga essencilamente com a imagem. Enfim, ainda bem que existe variedade, não é? Afinal de contas, o cinema é uma arte e existem muitas formas de "fazer" arte. 

3 comentários:

  1. Não é preciso ser um apreciador de música clássica para se saber o que é o Danúbio Azul, André Vieira! Qualquer vagabundo conhece... Para além disso, não é só a ausência de argumento que é o problema do filme, mas sim o seu pretensiosismo. Como o meu pai me disse, e eu concordei, o Kubrick era um tipo que julgava que cada filme que fazia era uma obra-prima. O Spartacus era o filme dos filmes sobre o império romano. A Lolita era o maior drama psicológico do seu tempo. O Dr.Estranho Amor era a comédia intelectual e planeada ao milímetro. O Shining seria o melhor filme de terror de sempre. O Barry Lindon, o filme de época do século XVIII mais genial. O Full Metal Jacket, o filme de guerra mais espectacular. Undsoweiter... Mas o que este cineasta (que em 45 anos fez cerca de doze filmes, como se achasse que o público tinha o dever de esperar que lhe apetecesse realizar um filme) conseguiu criar foi uma obra desprovida de emoções, fria como o seu cérebro matemático e calculista. E o que é a arte sem emoções? Não é nada! São as emoções que criam a estética, e é só. E os belos planos (que, sem dúvida, são belos) do 2001: Seca no Espaço, não chegam para fazer cinema. A fotografia e a beleza das cenas deve ajudar a completar a caracterização das personagens ou a intensificar o conteúdo dramático ou não da obra (na Dama de Xangai, e falo neste filme porque o Kubrick era obcecado com o Welles, vemos quase apenas as silhuetas dos protagonistas reflectidas nos vidros do aquário. Porquê? Porque eles têm que esconder o seu amor e, por isso, a fotografia da cena dá-nos a entender que eles são absorvidos pelo brilho do aquário e que ficam submersos com todas aquelas bestas marinhas). Se eu quiser ver apenas algumas imagens bonitas, vou ao Museu del Prado ou ao Louvre, e de certeza que não apanho uma seca tão grande.

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  2. Este comentário do Eça sugere-me outro comentário mas a hora tardia (amanhã às 7h o meu filhote é implacável) vai fazer adiar a resposta...

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  3. Só me lembro de uma experiência cinematográfica comparável à Odisseia no Espaço: La Dolce Vita, de Fellini. Recordo-me de ter visto o filme numa sessão dupla da RTP 2, tendo começado por volta da uma da manhã. Ora, o filme tem quase três horas e o argumento (ligeiramente) aborrecido é insuportável quando estamos até às tantas a tentar manter os olhos abertos. E nem a figura da Anita Ekberg a banhar-se na fonte que, diga-se de passagem, ilumina o filme, consegue suprimir aquela valente seca. Apesar de tudo, o filme é muito original em certos aspectos do argumento e tem alguns momentos de comédia felliniana bem conseguidos. É bem interpretado e tem uma bela fotografia, o que é muito mais do que o Kubrick conseguiu alguma vez reunir num só filme.

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