quarta-feira, 27 de maio de 2009

a face escondida do bilhete que se encontra no cabeçalho do nosso blogue


Eis chegado o momento de revelar a face escondida do bilhete que se encontra no cabeçalho do nosso blogue. Talvez esta minha necessidade de recordar se deva também ao facto de, na minha opinião, ser necessário ler e aceitar como ponto de partida para qualquer discussão no Clube de Cinema o texto escrito pelo jornalista Joaquim Fidalgo que se encontra por cima desse bilhete.

Em 05 de Maio de 1974 eu tinha 17 anos. Estava a viver um dos momentos mais felizes da minha vida e a presenciar um conjunto de acontecimentos políticos e sociais que iriam ser determinantes para a minha formação como ser humano. Por outro lado, como estava à beira de fazer o serviço militar (com a inevitável viagem para combater numa guerra sem sentido) em face do sucedido tudo se alterou. Quatro dias antes (no primeiro 1º de Maio de liberdade) eu tinha assistido a uma manifestação de solidariedade humana que jamais esquecerei. Por isso também nesse dia 05 de Maio de 1974 a sessão de cinema que assisti foi o culminar de um conjunto de sentimentos da totalidade das pessoas que assistiram ao filme: “O Couraçado de Potemkin” do realizador soviético Sergei Eisenstein.

Nessa data já me considerava um amante de cinema. Comecei a fazer registos (ainda os faço actualmente) dos filmes vistos a partir de 1972. Mas antes já teria visto uma boa centena de filmes. Recordo-vos que nessa época os filmes eram visionados somente no cinema (muito poucos na televisão) e principalmente todos eram sujeitos aos cortes da censura. Outros nem sequer chegavam a entrar no circuito comercial como era o caso de “O Couraçado de Potemkin”.

Estavam então reunidas as condições para se tornar a tal sessão inesquecível da minha vida: sala esgotadíssima (o cinema Império era enorme) e todas as pessoas se comportavam como se partilhassem um momento único. Nos momentos do filme mais emocionantes as pessoas batiam palmas demoradas vezes e gritavam nas cenas mais dolorosas e angustiantes. Como a famosa cena da escadaria de Odessa que vos convido a espreitar:



Este filme é de 1925 (mudo portanto) mas com um acompanhamento musical de compositores soviéticos célebres. Essa música acentuava e intensificava a dinâmica de montagem que para a época era considerada excepcional. Para muitos cinéfilos, nos quais eu me incluo, continua a ser uma obra-prima do cinema.

Ah já me esquecia. No final da sessão com as luzes da sala iluminando os presentes viam-se ainda nos rostos das pessoas lágrimas de alegria…

3 comentários:

  1. É interessante, mas a cena que colocaste aqui foi uma das que me levou a ver este filme, pois já tinha ouvido falar dela antes de o ver. Sobretudo pela homenagem que o Brian DePalma fez ao recriar este cenário na "Grand Central Station" de Chicago no seu filme "Os intocaveis".

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  2. Extraordinário! Arrepiante! Nada de efeitos especiais, só uma magnífica direcção quer das massas quer dos indivíduos. Filmar a euforia que dá, rapidamente, lugar ao pânico, descendo sobre o grande drama. Carregado de apontamentos de génio, não é?, desde a utilização do guarda-sol até à interacção do homem sem pernas. Se é, de facto, incontestável que o cinema evoluiu, e muito, tecnicamente, de alguns pontos de vista, o melhor já foi conseguido há muitos anos.

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  3. Não quis dizer que não possa vir a fazer-se ainda melhor. Quer em realização, quer em representação. Quis obviamente dizer, só, que, no que depende de nenhum outro meio que não seja a visão e a criatividade dos homens, isso já está presente desde o nascimento do cinema...

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