Há um aspecto que, pessoalmente, me não parece indiferente, e ainda não vi aqui tratado a propósito do filme.
É que um filme não é só um «filme», entendido como obra fechada, que poderíamos analisar em si, independentemente da sua recepção pelo público de uma certa época, independentemente do que tenha significado para um determinado grupo social, independentemente da marca cultural que haja deixado na sociedade típica do seu tempo. Isto é, da compreensão de um filme faz parte, também, a sua História: a das leituras que suscitou, a das reacções da crítica e do público, em ligação com as preocupações e as Causas, os valores e os ideais do Espírito do Tempo. Passar por cima disso será, eventualmente, ignorar uma das peças do puzzle.
Não é por acaso que o 2001: Odisseia no Espaço é tratado hoje como um filme de culto - depois de ter acabado por ser visto e apreciado pelos «intelectuais» de uma geração. Descontemos o que possa haver, nesse culto, de puro equívoco, como diria o João d'Eça: pessoas que se deixam levar na onda por mero pretensiosismo, antes que haja alguém capaz de lhes dizer «O Rei Vai Nu»; ou aqueles que consideram que, uma vez que são intelectuais, têm por força de gostar do filme, como se o ser lento e dificilmente compreensível fosse, por si só, meio caminho andado para ganhar o carimbo de obra de qualidade; descontemos, também, todos aqueles grupos de jovens que teriam, na época, adorado o filme porque parecia vir ao encontro das suas experiências místicas, entre a adesão à LSD e às religiões orientais, em busca de outras dimensões filosóficas, estéticas ou de vida.
O filme marcou porque, de alguma forma, proporcionou uma experiência visual e sonora que implicava uma espécie de mergulho pouco habitual. Marcou porque, entre mal-entendidos, era, de facto, uma experiência perturbadora.
Deste ponto de vista, se outros não houvesse, trata-se de um filme importante na formação de qualquer cinéfilo que conheça - e queira conhecer - a História do cinema e a repercussão cultural e social dos filmes no tempo e na sociedade. Por outras palavras, mesmo que não tenham gostado, julgo que é importante que o tenham visto...
CINEMA: O PODER DO CÃO
Há 2 anos
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