quarta-feira, 13 de maio de 2009

CONTRA FUTUROS EQUÍVOCOS

Tenho, no modo como discuto com os outros e construo a minha argumentação, uma série de regras que não estão escritas, que não sigo de compêndio algum, mas, de algum modo, me têm ajudado a respeitar as minhas próprias ideias e as ideias daqueles com quem entro em debate.

Não creio que as minhas regras sejam exemplares; longe de mim querer impô-las: se hoje me refiro a elas, é simplesmente para evitar equívocos. Para, pelo menos, que saibam como jogo. Para que não me interpretem mal. Para que não me interpretem erroneamente.

E porque, precisamente, a mais recente polémica que ocorreu neste blogue se prendeu com uma série de equívocos - e com o facto de o João ter julgado que, sem o nomear, portanto cobardemente, eu o estava no fundo a visar e a atacar -, tenho a dizer que a minha primeira regra é:

1. Não viso pessoas; nunca ataco pessoas. O que me interessa discutir são as ideias. Se, num dado momento, a ou b são os porta-vozes de certa ideia, é natural que se confundam os planos (isto é, por parte de quem me ouve ou me lê: na minha mente, os planos estão separadíssimos). Neste caso concreto, o problema que me interessava resumia-se a isto: podem dizer-me, mesmo pessoas com conhecimentos cinematográficos infinitamente mais vastos do que o meu, quais são os filmes que «contêm» o humor? Ou isso diz respeito a algo que é da ordem do subjectivo?

Mas mesmo em relação às ideias que discuto, torna-se-me importante esta outra regra:

2. Não me interessa diminuir ou amesquinhar as ideias adversárias. Dizemos, muitas vezes, que «as respeitamos», por motivos de cumprimento de um virtuoso manual do politicamente correcta. «Respeitar», em abstracto, nada significa. Eu levo-as a sério, que é diferente. Oiço-as atentamente, tentando lutar contra os meus próprios preconceitos. Nunca parto do princípio de que, porque me parecem tolas ou superficiais, efectiva e automaticamente o sejam...

É certo que, às vezes, gosto de argumentar pelo prazer de argumentar, sem estar inteiramente convicto do que estou a defender. Tenho amigos que se irritam profundamente com este meu pendor: mas faço-o para testar o outro, para perceber até onde ele é capaz de ir ao sustentar uma certa posição, até que ponto se aguenta contra as objecções que eu lhe levanto. Faço-o, até, para melhor compreender a coerência do seu ponto de vista. Faço-o, em última análise, é certo, por jogo, por desafio, por puro gosto da discussão.

Receio que se possa interpretar este texto como uma tentativa de dar lições. Não é. E também não quero, doravante, passar a escrever na paranóia de que me possam interpretar mal, ou de que possam achar que ou que. Para isso, mais me valia deixar de escrever. Não vou deixar, obviamente, de o fazer.

Quero simplesmente que compreendam como é que eu jogo. Se estiverem a ver, em algum texto de argumentação, da minha autoria, qualquer coisa diferente disto que vos digo, por favor, respirem fundo. E releiam-no: nesta perspectiva.

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