terça-feira, 26 de maio de 2009

ESTAREMOS AINDA?!

O Clube de Cinema, como se lembrava no texto com que inaugurei este blogue, foi uma autêntica aventura que teve início a partir de uma conversa entre duas pessoas, as quais foram, depois, tentar fazer crescer as hostes.

Manteve-se, durante imenso tempo, um «clube dos poetas mortos», muito poucos e clandestinos, ocultos nas catacumbas da escola, unidos pelo Espírito Santo que era a fé e a paixão pelo cinema.
Depois, cresceu. E subitamente, estas relações de um grupo entretanto alargado, tornaram-se tensas e complicadas, num espectáculo, por vezes triste, de intolerância, imaturidade, combates mortais entre diferentes perspectivas, pouca seriedade nos argumentos.

Devo dizer que fico amargurado por verificar a facilidade com que as pessoas, mesmo as pessoas inteligentes e cultas que são os jovens que tenho vindo a descobrir neste clube, preferem o caminho mais fácil: o insulto, a humilhação do outro, o desprezo pelos demais. E, atenção: não estou a denunciar este ou aquele, porque acho que vários elementos têm responsabilidade na degradação do ambiente.
A impulsividade com que se responde a um comentário que não nos agradou, a ligeireza com que se apagam os textos que não nos soaram bem, a dificuldade em se ouvir o outro, a desconfiança e a irritação que se têm generalizado fazem-me às vezes perguntar - devo confessá-lo, por excessivo que isto vos pareça, mas, que é que querem? também tenho as minhas crises de pessimismo... - se não andaremos todos aqui a perder o nosso tempo...

Depois, abrando a minha fúria. Revejo tudo. O que se ganhou ao longo deste tempo. As intervenções construtivas, apaziguadoras, as aproximações, a descoberta de uma cinematografia menos conhecida pelo senso comum, a delirante discussão das ideias! E, sobretudo, a importância que todos e cada um tiveram para tornar o clube naquilo que ele é no seu melhor: O João, o André e o André Jorge como pilares desde o primeiro momento, com a sua sensibilidade apurada, a sua curiosidade e o seu gosto pela conversa inteligente, a Beatriz, a Mónica e a Eliana, com a sua cultura, serenidade e maturidade femininas, às vezes quase maternais no pôr dos pontos nos ii, o Eça com a sua vasta sabedoria cinematográfica, que me despertou para o novo de tanta coisa antiga, o Guilherme com o seu desarmante e divertido prazer por refutar, o Vasco, o Rúben, o Afonso, com a sua cativante vontade de participar, partilhar ideias e aprender, o Márcio, a Madalena e a Marta, no seu empenho intermitente, entre tantas outras tarefas próprias de professores em períodos difíceis, o extraordinário João Camacho, que foi uma revelação, na sua discreta mas sempre pertinente entrega ou, last but not the least, o incansável Francisco, como uma alma que vela, se dedica, se entrega a um trabalho apaixonado em todas as frentes, sem o qual nada seria coisa alguma, foram sendo, afinal, o segredo desta dinâmica.

E dou por mim a pensar que valeu a pena, que continuará a valer se, entretanto, soubermos crescer, se aprendermos a crescer uns com os outros. Não só como cinéfilos, que diabo! Como pessoas!

6 comentários:

  1. É muito bonito discutir gostos, mas quando duas pessoas (por razões como a educação, o meio em que se cresceu, as pessoas que nos educaram) têm gostos totalmente diferentes, torna-se difícil uma discussão. Quando há uma grande divergência de gostos, é complicado (não me venham com histórias porque sabem que é verdade). Podemos sempre tentar partilhar os nossos gostos com essas pessoas mas já sabemos que em princípio a outra pessoa não vai gostar! Porquê? Porque tem uma personalidade diferente, porque não tem a ver consigo, porque é parva, sei lá! Há muitas razões. E é inutil estar a argumentar para defender o nosso gosto e provar ao outro que o nosso gosto é mais gostoso ou que é melhor...Todo e qualquer ser humano procura dar-se com pessoas que sejam parecidas consigo, com gostos parecidos, maneiras de ser parecidas, convicções parecidas. Nunca me passaria pela cabeça convidar um amigo meu que odeia música clássica e adora música electrónica, a ir a um concerto na Gulbenkian. Não vale a pena, ele não gosta - ponto final! Ele com certeza que prefere levar um amigo que gosta de musica electronica a um concerto de musica electronica e nao eu. E ainda bem que existem gostos diferentes, senão seria chato.

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  2. O que é preciso é estar a aberto a ouvir os outros primeiro. Não podemos dizer que não gostamos de algo sem o 'testar' primeiro. Para eu dizer que não gosto de música electronica, é porque já a ouvi e não gostei.

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  3. E é por isto que deixou de me interessar se o Eça gosta ou não de "A Vida é Bela" ou "O Clube dos Poetas Mortos". São dois filmes que me marcaram e que eu gosto muito. Se o Eça diz que são uma merda isso não me interessa. Nem me vou dar ao trabalho de lhe provar se são filmes bons ou não, nem de o convencer de que o meu gosto é 'correcto'.

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  4. Talvez não seja sensato o que vou dizer, mas acho que deviamos deixar de dar lições uns aos outros. Talvez pudessemos ser selectivos e ver: Sim isto é interessante, vou refutar, falar, argumentar. Poderiamos deixar tudo o que atrapalha de fora...não vejo grande interesse em bater no ceguinho. Não há interesse, pelo menos neste momento e por vermos que não resulta, em tentar analisar a cabeça de cada um. Ou se gosta ou não se gosta e, seja uma opinião ou outra, argumentamos, deixando a conversa do "És feio e cheiras mal por isso não gosto do que falas" para outra altura em que haja cabimento nisso. Quem sabe...

    De qualquer maneira eu própria estou a falar por falar, porque nem me sinto a vontade para contrariar seja quem for nem impor seja o que for. É uma opinião de alguém que entrou neste clube de cinema para partilhar o gosto por esta arte e que começa a ficar também saturada de ver que o que devia ser superior começa a ser comido por futilidades.

    Há que acalmar, para pensar nas coisas. De cabeça quente nunca se diz grande coisa, já dizia alguém...

    Pensar no fundo da questão, na base deste clube. A partilha, parece-me, ter sido como objectivo mais importante do que a discussão. E no fundo a discussão é partilhar opiniões. Então temos que parar de fazer uma discussão não partilhada, cierto?

    Perdoem-me qualquer coisa, até porque gosto muito pouco de resolver estas coisas por aqui. De qualquer modo pareceu-me bem falar, antes que me transforme numa lesma falante caveiresca...sim, estou lá perto.

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  5. Eu digo: numa familia (por uma razão ou outra, por diferenças de opinião, por que gostamos de marcar a nossa posição, etc, etc) há sempre pequenas discussões. A força da mesma está em desenvolver capacidades para superar as dificuldades, para encontrar razões para continuar a funcionar, e no fim surge a pergunta: "Será que valeu a pena?" ...
    Claro que sim! SEMPRE!! E se há uma coisa que eu já absorvi por completo é que este clube é sem duvida alguma uma familia.

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  6. Aí está, Beast. Uma grande parte dos problemas evitavam-se se não fosse a impulsividade, se as pessoas relessem ou pensassem três vezes antes de reagir!
    Uma família, JC? Foi o que eu senti durante muito tempo que este clube era. Talvez reencontre ainda esse sentimento...

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